Agora que já não me dói tanto o orgulho, posso aqui escrever alguns sonhos que tive pouco depois de me separar do meu ex-namorado.
Na altura, tinha esperança de poder pelo menos sonhar que continuávamos juntos, para que durante a noite a dor não fosse tão grande quanto de dia.
Porem, o meu subconsciente parecia bastante consciente do nosso afastamento.
Sonhei que nos reencontrávamos numa pequena sala, muito estreita, em forma de "L", com as paredes pintadas de azul escuro.
Eu estava num extremo, e não conseguia ver alem da esquina. A minha frente estava uma mesa de madeira escura e antiga, e logo a seguir estava ele.
Ao lado dele, Havia um grande relógio de pêndulo.
Eu estava fora de mim por voltar a vê-lo, mas ele parecia indiferente... não: parecia que estava aborrecido por me voltar a ver, como se eu fosse um grande inconveniente.
Contou-me que já não queria saber de mim, que não sentia nada por mim... Revelou-me que, uma noite apenas depois de termos acabado o namoro, traíra-me.
Disse-o assim, utilizando aquela mesma palavra: "trai-te".
Repetiu que arranjara outra, que gostara, e mandou-me embora.
Senti o coração esmagado, como se estivesse acordada e ele me tivesse realmente dito aquilo.
Corri para ele, enfurecida, e empurrei-o sem pensar contra o relógio de pêndulo.
Bateu com a cabeça no vidro e caiu, desmaiado ou morto, entre a mesa e o relógio (que permaneceu de pé e a trabalhar), rodeado de cacos.
-Liro! - solucei, enquanto me ajoelhava ao lado dele e o puxava para o meu colo. Desejei com todas as minhas forças que o tempo voltasse atrás, como nos filmes ou nos jogos, e eu pudesse remediar o que fizera.
Tirei-lhe os pedaços de vidro da carne, puxando com especial cuidado um que ficara profundamente enterrado na cabeça, no meio de todo aquele longo cabelo castanho.
Limpei-lhe o sangue com as mãos, não me lembro se conseguia sequer chorar, de tão triste e assustada que estava:
-Desculpa, desculpa! -gemi, ao mesmo tempo que o sacudia devagarinho, como se estivesse a tentar reanima-lo.
De repente, ouvi passos e o pai dele apareceu ali, ao meu lado, a olhar para o que eu fizera ao seu filho.
Uma outra vez tive um sonho particularmente ridículo. O mundo ia acabar, mas só em Portugal (veja-se bem a nossa sorte...).
Neste distorcido Universo, as escolas funcionavam como orfanatos que se responsabilizavam a cem por cento dos alunos que lhes eram entregues. Como eu sabia que o Liro faltava habitualmente as aulas, tinha a certeza que ele não estaria presente quando os orfanatos se preparassem para nos evacuar para um local seguro: tinha de ir busca-lo.
Lembro-me vagamente de passar pelas janelas do orfanato, quando me ia embora, e ver os miúdos da minha escola numa grande batalha com os de outra escola. Estavam todos empoleirados nas janelas dos edifícios, que estavam frente a frente (e flutuavam em cima de plataformas,como se fossem barcos, ou jangadas), e atiravam tudo e mais alguma coisa uns aos outros.
Fui encontrar o Liro naquilo que parecia um insuflável gigante de cores vivas perto da baía de Tróia. Sera que o encontrei a ele?... Algo me diz que quem eu encontrei foi um mago que me deu um recado dele: tinha encontrado uma miúda com umas pernas fantásticas, e já não queria saber de mim... Preveniu-me também que tínhamos de tratar do divorcio: descobri então que, apesar de eu e o Liro não sermos casados, no sonho éramos noivos, e aparentemente precisávamos de um divorcio para deixarmos de o ser.
Muito triste, afastei-me... E pouco depois encontrei o meu amigo David, a bordo de um pequeno mas luxuoso barco, que me convidou para um passeio para me animar. Saltei para bordo e depois de um bom bocado no rio Sado fomos ate a escola D.Pedro IV, em Queluz, que frequentei do 5º ao 9º ano.
La, dirigimos-nos a papelaria (onde alem de material costumava comprar as senhas de almoço, e onde estava uma continua particularmente feia e mal humorada, de que ninguém gostava: a Dª Amélia, que tinha cabelo preto curto e ondulado, e óculos tão espessos que faziam parecer enormes os seus olhos ameaçadores).
La, compramos um gelado para cada um, e lembro-me de estar tão feliz que nem parecia que eu e o Liro nos tínhamos separado.
Outra noite sonhei que ele me revelava que tinha um jipe e namorava com um amigo seu que eu tinha conhecido. Foi tão perturbador...
Outras vezes ainda sonhei que o surpreendia com uma colega nossa (sempre a mesma)... e habitualmente eu dava a rapariga uma grande tareia.
Certa vez, atirei-a de uma janela, mas caraças, ela não morreu!
Depois sentia-me muito mal comigo mesma: não era preciso fazer nada daquilo, certamente ter-me-ia sentido melhor dizendo-lhe apenas o que tinha para lhe dizer.
Houve noites, também, em que me vi com outros homens, num misto de prazer e culpa, em que via outros mas pensava nele.
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