quinta-feira, 26 de maio de 2011

Este sonho tem pelo menos quatro anos: vivia com o meu pai na nossa casa.
Sonhei que estava na minha cama, que está encostada ao armário que divide o quarto ao meio.
Ouvi vozes do outro lado do armário:
-Cala-te, olha que acordas a miúda!
Ao ouvir isto, abri a boca para gritar pelo meu pai.
-Foda-se! -praguejaram as vozes.
Demasiado rápido para que eu conseguisse perceber do que se tratava, uma sombra surgiu detrás do armário, contornou a minha cama e segurou-me com dentes pontiagudos, que perfuraram a minha carne entre as costelas.
A dor era agonizante, e por mais que tentasse, eu não era capaz de emitir um som. "Vou morrer!" pensei.

Somos tão menosprezados que trabalhamos debaixo do chão

Este sonho foi anterior ao do cérebro. Aliás, tive-o mesmo antes dele... Suponho até que houvesse uma ligação entre os dois, se bem que eu não me lembre dela.
Tínhamos tido a última aula de animação, e estávamos a preparar-mo-nos para deixar o estúdio e partir de férias. Desligámos os computadores, arrumámos o furador de folhas, guardámos lápis, papéis...
Estava tão ocupada a pôr cada coisa no seu devido lugar que não me apercebi que, ao contrário da realidade (graças a Deus), não havia janelas na sala.
Quando terminámos, sacudimos as mãos, muito felizes, e passámos pela porta para um corredor muito escuro, cheio de motores, válvulas, e caldeiras.
Lá, havia, no centro, uma escada de metal, pela qual subimos um a um. O primeiro abriu uma portinha redonda semelhante à de um submarino. Ao passarmos por ela, chegávamos à superfície. Curiosamente, em vez de ficar na faculdade, o estúdio de animação situava-se no subsolo da Alameda D. Afonso Henriques, a qual subi durante três anos para chegar À António Arroio.
Quando já estávamos todos fora da sala, forrámos a abertura com cartão e fita-cola, antes de tornarmos a fechar a porta.
Pouco depois, o Rodrigo comunicou-nos, muito aflito, que se havia esquecido da borracha dentro da sala. Voltámos todos atrás, abrimos a porta e rasgámos o cartão com uma faca para que o rapaz pudesse passar e ir buscar a sua preciosa borracha.

É só levantar a tampa... e eis o cérebro! Tã-ram!

Uma ou duas noites depois daqueles últimos sonhos incríveis, sonhei que, devido a um acidente qualquer, uma grande parte do meu crânio se partira: puxando o cabelo, era possível remover pele e osso e expor o meu cérebro.
Não sentia dor, mas temia que a qualquer momento aquele bocado da minha cabeça caísse e o cérebro fosse atingido por alguma coisa. Por isso, passava grande parte do tempo com as mãos na nuca, ou então curvada, de maneira a que o queixo ficasse apoiado sobre o peito. Assim, eu conseguia manter aquela bizarra tampa no devido lugar.
A certa altura comecei a sentir comichão ao redor do buraco, acompanhada de um ardor atroz. Corri para a casa de banho, e, desesperada, comecei a cortar o cabelo rente ao crânio (algo que eu jamais faria, pelo menos sem chorar).
Após duas ou três tesouradas, a maior parte do meu cabelo estava espalhada pelo chão, formando montinhos de brilhantes fios negros. Na minha cabeça, pouco restava da esplendorosa cabeleira: uma escassa franja tombava sobre a minha testa, e, por toda a cabeça, havia grandes peladas. Sobre a "tampa", não havia um único cabelo.
Examinei-a cuidadosamente e descobri três pequenos buracos, muito redondinhos, que, sinceramente, me fizeram lembrar uma bola de bowling, ou um côco.
Pouco depois, um dos buracos estava agrafado, certamente para fechar mais rapidamente. Entre a pele esticada, escorria um pequeno fio de sangue.
Ao descobrir-me com o cabelo rapado, a minha avó insistiu em ver o que se passava. Primeiro recusei, ansiosa de que ela removesse a "tampa" para examinar melhor a ferida. Depois, vencida pela sua insistência, acedi e voltei-me de costas para ela, dobrando os joelhos para que a ferida ficasse ao nível dos seus olhos.
-Não a tires. - repeti eu, pela milésima vez.
-Está descansada... -tranquilizou-me ela, enquanto palpava a minha cabeça com os dedos ágeis e as unhas pontiagudas.
Pouco depois, lembro-me de estar num local semelhante a uma estufa. Era muito quente e abafado, e havia plantas altas e de folhas largas por todo o lado.
Eu sentia-me exausta, e até piscar os olhos me custava. Mas tinha de fugir: estava em perigo.
Esforçava-me para me pôr de pé quando uma mão enorme me agarrou pela cintura e me puxou na sua direcção. Parecia-me que aquela mão ia esmagar-me com a sua força, e tudo o que consegui fazer no momento em que me agarrou foi soltar um estranho grunhido abafado, com o qual expulsei todo o que ar que tinha nos pulmões.
Incapaz de me debater, desisti, e lembro-me de estar bastante calma enquanto aquela criatura me levava de um lado para o outro, acabando por largar-me no meio das plantas.
Durante um bocado, fiquei ali, estendida no chão, sem me mexer.
Um homem apareceu, então, e colocou-me sobre o que parecia uma pequena bancada branca. Inclinou-se sobre mim e beijou-me. Desviei o rosto, mas ele segurou-mo e forçou-me a encará-lo. Com medo que a "tampa" caísse, tentei segurá-la, mas os meus braços não me obedeciam. Por fim, fechei os olhos e retribuí o beijo. Quando dei conta já estava a afastar as pernas, segurava o corpo dele com as mãos e puxava-o de encontro ao meu.
Pouco depois, acordei.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

BPRD

Juntamente com um rapaz, ou melhor, um homem, eu estava a percorrer uma cidade de ruas estreitas, onde os prédios e as ruas se sobrepunham uns aos outros, formando uma espécie de montanha sobre a qual e dentro da qual habitavam pessoas. Era uma cidade fantástica, apesar de muito pobre e suja, e não me ocorrem palavras capazes de a descrever: não tenho escolha senão desenhá-la, um dia.
-Aqui. -disse-me o homem, depois de passarmos por um mendigo e subirmos alguns degraus.
Olhei à minha volta: estávamos num cantinho minúsculo, que teria, no máximo, 1x1m. Atrás de nós estavam a rua e as escadas por onde tínhamos entrado, ao nosso lado, outras escadas, que subiam. Apesar de haver um tecto, era óbvio que ainda estávamos na rua. As paredes era amarelas e tinham marcas de humidade, e de um dos lados havia um cano que descia encostado à parede. Terminava junto ao chão, e dele pingavam ritmadamente gotas de uma matéria imunda.
-Não.
-Não?! - ele não levantou a voz, mas era evidente que estava irritadíssimo. Devia estar mortinho por me dar uma sova.
-Queres sexo, não queres? - ele respondeu lançando-me um olhar faminto. - Então arranja um lugar. - retorqui. -E um preservativo. - acrescentei.
Ele resmungou qualquer coisa entredentes, voltou-me as costas e subiu as escadas que estavam ao nosso lado.
Sei que não era uma prostitua: havia alguma coisa entre mim e aquele homem. Mesmo que não fosse amor. O que nos faltava, era um lugar decente para fazermos sexo.
Eu segui-o. Era colossal: sou uma mulher alta, e, no entanto, dava-lhe pelo peito. Tinha ombros muito largos, e músculos inchados. Esbarrar contra ele devia ser semelhante a esbarrar com uma parede.
Um estrondo abalou a cidade. Apoiá-mo-nos nas paredes e desatámos a correr. Subitamente, nunca houvera nada entre nós: éramos dois colegas de trabalho, e a nossa missão era destruir o monstro que atacava a cidade.
O meu parceiro, muito mais forte que eu, subiu agilmente as escadas até um estreito corredor com grandes janelas lanceoladas. Como estas não tinham vidro, agarrou-se com uma mão à fachada do edifício e saltou para o parapeito. Estava a cerca de cinquenta metros do chão, mas isso não o perturbava nem um pouco: estava disposto a enfrentar aquela criatura ali mesmo.
Num repente, era Hellboy, que saltou e aterrou sobre uma superfície invisível que esmurrou vezes sem conta com a sua gigantesca manápula de pedra, até que a besta sucumbiu e caiu sobre o chão da cidade. Momentos antes de o monstro desfalecer, Hellboy saltou novamente para o parapeito da janela.
Entretanto, eu corria pelas ruas da cidade a caminho da sede da organização para a qual eu, Hellboy, e curiosamente Diogo (um colega meu), trabalhávamos.
Diogo estava atrasado devido a uma multidão que se acumulara ao redor da besta morta e não o deixava passar. Um jovem rapaz agarrou-se a ele muito entusiasticamente e pediu-lhe que o deixasse fazer parte da nossa equipa. Diogo concordou, mas decidiu que antes de o rapaz se juntar a nós deveria ouvir algumas regras... Por isso, pôs-se a descrever-lhe os poderes que ele podia usar ou não (suponho que não era possível duas pessoas usarem o mesmo poder, apesar de terem a hipótese de escolher qual o poder que queriam).
Entretanto, os dois encontraram-me no cimo de uma rua, a subir a uma extensa e larga escada que conduzia à sede.
-Vá, Diogo, pára de ser o miúdo que decide que pokémons é que os outros podem ser.
Dito isto, continuei a subir.
Tinha imenso medo de cair, pelo que o fazia bem lentamente. Tanto, que devo ter irritado Hellboy, que aparentemente subia atrás de mim. Ultrapassou-me tão rapidamente que só me lembro de ver a ponta da sua cauda vermelha agitar-se ao meu lado.
-Ei! Eu sou fraquinha! -justifiquei-me.
Só me lembro disto.

Esta deve ser a história de super-heróis mais ridícula de sempre. Tem tudo para o ser: uma absurda mistura dos filmes Hellboy e Cloverfield, uma série de membros inúteis numa equipa que mais parece um clube de crianças...
E eu nem sequer cheguei a descobrir qual era o meu poder...
Bem, mas foi divertido. E aquela cidade era muito gira.

domingo, 22 de maio de 2011

Outro apocalipse zombie

Esta última noite foi incrível (no que concerne a sonhos... porque não saí de casa e dormi com o meu irmão)! Vivi duas aventuras fantásticas, uma após a outra!
A primeira passava-se durante um apocalipse zombie. Bem, na verdade, não era um apocalipse... Porque a vida continuava a decorrer normalmente: bastavam alguns cuidados para a população viva evitar qualquer contacto com a morta.
Ainda assim, eu tinha imenso medo de sair de casa. Todavia, quando a minha mãe chegou a casa, insistiu para que eu fosse comprar pão. Fiz "olhinhos-de-bambi", choraminguei, chantageei, mas não me serviu de nada.
Com as pernas a tremer, meti-me no elevador e saí no andar errado (no prédio de Massamá há dois andares que dão acesso à rua). Atravessei o jardim, percorri as ruas, até chegar à estação de comboios de Monte-Abraão. Só depois de entrar num comboio e este iniciar a sua marcha é que me apercebi que estava a seguir um caminho completamente errado.
Aborrecida de morte por me ter enganado, saí na estação seguinte, decidida a entrar no primeiro comboio que seguisse no sentido contrário, para poder regressar a casa.
No entanto, não sei como, deparei-me com um grupo de pessoas feridas e assustadas que temia a chegada de zombies a qualquer hora. Não consegui partir sem os ajudar.
Depois, só me lembro de estar numa casa, mais especificamente numa cozinha apertada, com duas portas: uma em cada extremidade. Uma delas dava para a rua, e eu estava apoiada contra ela, usando o meu peso para impedir um grupo de zombies famintos de entrar. Tinha medo. Tanto medo.
Estava comigo uma mulher grávida, o respectivo marido, e um outro homem. Ela tinha cabelo loiro e curto, preso num minúsculo rabo-de-cavalo. Não me lembro do seu marido. O outro homem era bonito, tinha o cabelo castanho curto e a barba por fazer.
O resto do grupo tinha-nos deixado: quando perceberam que a mulher grávida não podia fugir dali a tempo de escapar aos zombies, deixaram-nos para trás.
-AAAAH!- gritei, quando vi uma série de dedos putrefactos passar pela porta.
Eu e a mulher grávida atirá-mo-nos de costas contra a porta várias vezes, e assim que o monstro recuou, trancámos a porta e deixámo-nos cair onde estávamos: ela encostada à porta e eu a uma bancada.
Entretanto, os dois homens não se mexeram: limitaram-se a olhar para nós boquiabertos, com os olhos arregalados de medo.
Instantes depois, apareceu à outra porta um bebé morto:
-Meu Deus... -murmurei - um bebé zombie.
Os zombies tinham conseguido entrar por outro lado qualquer. Estávamos cercados.
Muito mais rápido do que eu imaginara que ele fosse capaz, o bebé correu para a mulher grávida e saltou sobre a a barriga dela, começando nesse mesmo instante a comê-la.
As duas gritámos como só as mulheres conseguem, e segundos depois o homem bonito caiu à minha frente com vários zombies adultos agarrados às suas costas (com unhas e dentes, literalmente) tentando a todo o custo arrancar pedaços de carne.
Amparando-me na bancada, levantei-me, abri a porta a que a mulher grávida estava encostada e saltei para a rua. Tudo isto sem que eu parasse de gritar.
Na rua, desferi murros e pontapés a torto e a direito, e consegui atravessar a multidão de zombies sem que me tocassem.
O marido da mulher grávida, que me seguira, não teve tanta sorte: um dos mortos cavara com as unhas um profundo buraco na palma da sua mão.
-Arranharam-me! Arranharam-me! - gritou o homem.
Ao ouvi-lo, soube que dentro de algum tempo ele seria um daqueles monstros. Senti por ele uma repulsa que era quase nojo, e preparava-me para abandoná-lo entre os mortos quando os seus gritos de me despertaram pena. Voltei atrás e segurei firmemente a sua mão sã, puxando-o na minha direcção com toda a minha força.
Quando se apercebeu da minha presença, o homem calou-se, fitou-me por instantes, com os olhos muitos redondos e a boca entreaberta, e seguiu-me.
Não sei como nem porquê, mas estávamos novamente na estação de Monte Abraão, e não naquela onde eu saíra por engano.
Atravessámos uma passagem superior, quase caímos numa valeta ao tentar contorná-la, e finalmente fomos agarrados por dois policias que nos enfiaram num jipe: iam levar-nos a casa.
Muito encolhida no meu assento, eu esforçava-me por não olhar para o homem que salvara. Não conseguia decidir se devia ou não revelar aos polícias que ele fôra infectado.
Tinha imensa pena dele: vira a morrer a mulher e o filho que ainda nem nascera, e sabia que dentro de algum tempo ele próprio seria um monstro como aqueles que, naquela altura, deviam estar a devorar a carne das pessoas que mais amava no mundo.
Mas se não dissesse nada, era possível que ele viesse a matar ou infectar outras pessoas...
O jipe parou diante de uma casinha baixa e estreita, feita de um material cuja cor lembrava o barro. Era uma adorável: tinha flores vermelhas nos parapeitos da janelas e cortinas de renda. Estava entalada entre várias outras casas semelhantes, numa rua muito inclinada.
O homem saiu do carro e entrou em sua casa.
Depois os polícias continuaram a descer a rua, para me levarem a mim a casa.
Fui incapaz de tirar os olhos da casinha do homem até ela desaparecer por detrás de outras casas e prédios.
Não sei o que acontecera entretanto, mas de repente aquele homem nunca tinha sido casado com a mulher grávida: era meu namorado. Enquanto os polícias me levavam a casa, eu tentava decidir se iria ou não tornar a visitá-lo, antes de ele sucumbir à infecção.
Quando cheguei a casa, todas as luzes estavam apagadas excepto a do hall de entrada.
"Espero que o Tomás me deixe dormir com a mãe, hoje." pensei. Fui até à sala e deparei-me com o meu irmão estendido no sofá, a dormir. Tinha a farda da escola vestida e tapava os olhos com o braço direito.
Deixei-o e fui ao encontro da minha mãe, que me abraçou com força. Ela já soubera o que acontecera:
-Deixa-me dormir contigo, hoje. -pedi-lhe.
-Claro.

Não percebo porque estaria o meu irmão a dormir no sofá quando podia ter ido para o seu próprio quarto... Mas esse é talvez o pormenor mais insignificante de todos.

No próximo post: o outro sonho fantástico que se seguiu a este.

sábado, 21 de maio de 2011

Orgulho vão e noites a pé

Creio que foi há um mês que sonhei este sonho: em vez de morarmos na quinta do meu padrasto, morávamos todos num pequeno apartamento, situado numa cidade cujas ruas tinham um aspecto pobre e sujo, e onde nenhum prédio tinha mais de quatro andares.
Tinha discutido com o meu padrasto, já não sei porquê... Apesar de o motivo não o justificar, saí de casa, decidida a passar a noite fora. Lembro-me muito claramente de querer que não me quisessem em casa, só para ter uma desculpa para tomar aquela ridícula atitude.
Estava muito mais frio na rua do que eu imaginava, mas o meu orgulho não me permitiu regressar a casa. Aliás, não mudei de ideias nem mesmo quando me cruzei com alguns vagabundos de aspecto ameaçador, que me encheram de medo.
Subitamente, começou a chover. Impelida pela minha vontade inabalável, comecei a procurar um lugar resguardado onde pudesse dormir.
Deitei-me à entrada de um prédio com uma porta metálica. Como as gotas de chuva ainda me alcançavam, senti que tinha ganho a sorte grande quando alguém saiu do prédio: aproveitei imediatamente a oportunidade para entrar.
O interior era escuro e lúgubre: as paredes estavam revestidas de uma tinta cinzenta ou verde, já muito gasta, e sob os meus pés havia uma extensa escadaria de madeira, que, curiosamente, era horizontal em vez de vertical, paralela ao chão desde o principio até ao fim.
Curiosa, avancei uns passos e premi um botão, que deveria indicar o número respectivo a um andar (já não me lembro onde estava o tal botão, mas estava lá).
No momento em que o fiz, as escadas começaram a avançar sozinhas, e fizeram-me pensar nas escadas mágicas de Hoghwarts, ou nas escadas rolantes da estação de comboios do Areeiro.
Pararam subitamente diante de uma porta. Foi então que percebi que naquele lugar os prédios não precisavam de ser altos porque os andares se distribuíam no comprimento, e não na altura. Achei que era algo extremamente estúpido, mas fiquei fascinada por isso de qualquer maneira.
Um homem de aspecto rude, e muito magrinho, abriu a porta. Ficou muito feliz por me ver, e cumprimentou-me calorosamente (tenho a certeza absoluta que já tinha sonhado com ele antes... devo tê-lo salvo de algum monstro, ou algo do género). Convidou-me a entrar e apresentou-se à sua mulher, que estava numa velha e apertada cozinha, com paredes revestidas de uns azulejos acastanhados muito feios. Através das portas do casa, que estavam todas escancaradas, consegui ver os filhos do casal a brincar na banheira, completamente às escuras.
Eram pessoas simpáticas e estava a divertir-me com eles... Mas tinha consciência de que precisava de dormir, porque em breve teria de ir para a faculdade e precisava mesmo de descansar.
O homem pediu-me para passar lá a noite, e tive muita vontade de aceitar, até me lembrar que a minha mãe ficaria muito assustada/zangada se acordasse de manhã e soubesse que eu tinha passado uma boa parte da noite sozinha na rua, e outra na casa de um desconhecido. Ainda por cima, sem ter avisado ninguém. Por isso, agradeci ao casal o seu convite, mas recusei-o e expliquei-lhes porquê, acrescentando que teria de estar em casa antes de madrugada.
Eles ficaram muito aborrecidos com a minha resposta, e começaram a preparar "um farnel para a minha viagem de regresso".
Tentei ser paciente e esperar, mas estava exausta e via desesperadamente o Sol nascer lá fora, sem que eu tivesse dormido um só instante e imaginando a ira da minha mãe quando chegasse a casa.
A cozinha feia do casal transformara-se entretanto na cozinha da casa da minha mãe: muito espaçosa, toda branca e luminosa, só que bastante desarrumada.
Quando finalmente consegui sair de casa do casal, já tinha amanhecido. Olhei para o céu com um suspiro, e pensei que depois das aulas poderia finalmente dormir.

Acho muito interessante o facto de estar a dormir e mesmo assim sonhar com insónias...

sábado, 14 de maio de 2011

Este sonho foi mesmo estranho, e já chocou alguns colegas a quem o contei: não sei porquê, mas vivíamos todos com um dos nossos professores. Dormíamos todos no mesmo quarto, em vários colchões espalhados pelo chão. A cama estava reservada ao professor e a dois colegas meus... que não reagiram muito bem quando lhes contei isto (apesar de não haver nada entre eles e o dito professor).
Esqueci-me que devia ter publicado este sonho antes de "Minões, minões" : é-lhe anterior...
Seja como fôr, estava no jardim da quinta onde moro, mas não na parte bonita, diante da qual as pessoas param para tirar fotografias. Estava na parte selvagem, onde o terreno é íngreme e a relva tão espessa que é difícil caminhar entre ela. Por todo o lado há pedras, árvores tombadas, e muitas, muitas mimosas. Aquelas plantas são uma autêntica praga.
Estava com o meu irmão (que na realidade nunca vai para o jardim, muito menos para a parte selagem, desde que deixámos de ser crianças) e tinha entre as mãos um cachorrinho recém-nascido: estávamos a celebrá-lo. A determinada altura o bebé começou a urinar nas minhas mãos (isto acontece-me sempre...), e tive de o afastar um pouco de mim para não me sujar mais.
Pouco depois, estávamos no cantinho mais remoto de toda a quinta com toda a nossa família, unicamente por causa do bebé.
Durante a festa, a mãe do meu padrasto aproximou-se de mim para comentar como os homens não lhe resistiam, apesar da sua idade avançada. Eu lancei-lhe um olhar de desprezo pelo canto do olho (ultimamente ela tem-se revelado uma pessoa extremamente cruel), entreguei o cãozinho a alguém e comecei a trepar pelas pedras, dizendo bem alto:
-Com licença, tenho de ir ao meu quarto ver se alguém me roubou... - a mãe do meu padrasto ofendeu-se muito com o que eu disse: era bastante claro que estava a gozá-la, uma vez que vive apavorada com a ideia com que a roubem. Aliás, todas as empregadas que teve até agora, por muito amáveis, prestáveis e educadas que fossem, eram aos seus olhos ladras cínicas. Os filhos dela também são ladrões, os caseiros das suas quintas também são ladrões,... Ironicamente, existem pessoas que a roubam mesmo, e dessas, ela nunca suspeita. Pensa que são pobres criaturas injustiçadas que precisam do seu socorro, ou então que nutrem por ela um verdadeiro interesse ou até amor passional, e merecem o seu dinheiro... perdão, a sua atenção.
Então ela pôs-se a subir a encosta atrás de mim, a tagarelar, sem que eu lhe desse importância.
Entrei em casa (que parecia uma daquelas coisas enormes e coloridas onde os miúdos brincam no McDonald's) e fui até uma espaçosa divisão destinada aos meus cães, onde havia somente um sofá.
Ela continuava a cacarejar incansavelmente atrás de mim, e de repente senti-me tão cansada (e senti mesmo), que caí no sofá e desmaiei.
Então entraram na sala vários actores, vestidos com bonitas roupas coloridas que lembravam os palhaços do Circu du Soleil. Estou convencida de se tratavam dos meus cães transformados em pessoas.
Não existem palavras para definir a raiva que nutriam pela mãe do meu padrasto naquele momento. Mataram-na, e, no momento em que acordei, já não restavam nenhumas provas do crime.

Minões, minões

Há cerca de uma semana sonhei que me encontrava num condomínio privado com bonitas casas amarelas, muito semelhante ao que fica diante da quinta onde moro. Não se via nem ouvia ninguém.
Só quando passei por uma pequena ponte que ligava duas casas ouvi risos. Olhei para cima e constatei que se tratava de duas crianças acompanhadas de um cão, que tentava transpor as grades e saltar lá para baixo, para ao pé de mim. Sorri ao vê-lo, e, para divertir os pequenos, passei por debaixo da ponte várias vezes, para lá e para cá. Sempre que eu ia para "lá", a cabeça do cão aparecia na ponte a espreitar para o lado de "lá"; se eu ia para "cá", o cão corria e olhava para o lado de "cá".
De repente, vi-o saltar para cima das grades e equilibrar-se (muito mal) sobre elas, com as patas dianteiras e traseiras muito juntas, como se estivesse sentado. Percebi imediatamente que ia tentar saltar:
-Não! -ordenei. -Não saltes!
Mas ele saltou.
Soou um estrondo abafado no momento em que ele tocou no chão, e eu senti o ventre gelado. Corri para ele e debrucei-me sobre o seu corpo inerte. Verifiquei que quase não respirava, e apesar de ver nem uma gota de sangue, ou qualquer outro sinal de que ele se tinha magoado, deduzi que estivesse completamente partido por dentro. Com cuidado, apalpei-lhe o corpo, à procura de ossos partidos.
Só então me apercebi que aquele cão se parecia muito com o Alex. Era, aliás, igualzinho a ele, mais do que um irmão gémeo. Posso, no entanto, garantir que não era ele.
Tinha acabado de verificar que uma pata traseira estava intacta quando o cão começou a dar ao rabo. Um pouco hesitante, ele levantou-se, e depois ficou ali a olhar para mim, todo contente, a abanar o corpo todo como se não lhe tivesse acontecido nada.
Nesse momento, vi que o mundo tinha girado debaixo de mim e do cão sem que eu me tivesse apercebido: o cão caíra do lado de "lá" da ponte, no entanto, estávamos os dois agora no lado de "cá". Sorri de alívio e afaguei o seu pêlo dourado antes de me ir embora.
Não me lembro do caminho que percorri: apenas de chegar a casa. Era muito diferente do que é na realidade. Em vez de ter aquele ar adorável de casinha de campo, parecia uma daquelas casas todas modernas, muito minimalistas. Era completamente branca, e parecia feita de quadrados, construídas unicamente com linhas rectas perpendiculares entre si.
Entrei por uma garagem um pouco escura, onde a única fonte de luz era o portão aberto. Estava lá a minha mãe, a queixar-se de alguma coisa em relação ao meu padrasto. Estava furiosa. Ouvi-a em silêncio, sem nenhuma vontade de me envolver nas suas discussões.
Pouco depois ele apareceu, e começaram os dois a discutir. O problema tinha qualquer coisa haver com dinheiro... Sempre o dinheiro.
No meio de tantos gritos, tanta confusão, tanta coisa, a minha mãe disse-lhe algo que ele não gostou nada de ouvir (mas que era verdade). Ficaram os dois mudos, a olhar um para o outro por breves instantes. Depois, o meu padrasto voltou-nos as costas e foi-se embora. Eu subi as escadas juntamente com a minha mãe e entrámos num quarto espaçoso e bem iluminado, com duas grandes janelas que davam para duas varandas. O chão era de uma madeira muito clara. Suponho que há esquerda de quem entrava havia uma pequena cama de casal, e há direita uma parede toda ocupada por um guarda-fatos. Em suma, era um quarto muito semelhante ao de uma tia minha, só que, exceptuando a cama, estava completamente vazio.
Mal entrámos, ouvimos um ganido horrível, que nos fez tremer de receio e ansiedade. Nem um segundo passara, o meu padrasto apareceu numa das varandas (não sei como subiu até lá) e entrou no quarto, com um grande objecto metálico na mão. Não me recordo muito bem do que era, mas suponho que se tratasse de um pé-de-cabra.
-Sabes o que acabei de fazer? - perguntou à minha mãe, cheio de raiva -matei um cão.
Mal disse isto, começou a bater com aquelas coisa metálica no chão, disposto a destruir a casa.
Depois, tudo aconteceu muito rápido.
"Deus queira que não tenha não tenha sido um dos nossos" foi a primeira coisa que pensei (muitas pessoas costumam deixar os seus animais connosco quando se ausentam por um motivo qualquer, uma vez que nos servimos dos nossos canis como um hotel para cães). "E se foi o Alex?" pensei de seguida.
-AAAH! -rugi - Como podes ser tão mau?!
Atirei-me para cima dele e mordi-o com tanta força que penso que tenha arrancado um pedaço de carne da sua perna.
Acordei imediatamente depois, encharcada de suor.