Eu decidi experimentar também. Como não podia pagar para o fazer numa loja como deve de ser, fi-lo eu própria, na casa de banho da minha casa. Sem anestesia, sem limpar a tesoura, em suma, sem cuidados nenhuns, encostei a lâmina à cartilagem e cortei. Para minha surpresa, a orelha rasgou-se com tanta facilidade quanto papel, e o corte não foi perfeito. Alarmada, inclinei-me de encontro ao espelho para avaliar os danos. Concluí que não eram assim tão maus, e sob o cabelo até passariam despercebidos.
Com todo o cuidado, cortei a pele que ainda prendia a orelha ao crânio.
Olhei o pedaço que eu cortara e deitei-o fora.
Apesar de não ter sentido dor nem ter sangrado, uma vez que o corte não fora perfeito achei que o melhor seria não cortar a orelha direita também.
Mais tarde arrependi-me de ter cortado a esquerda. Quase chorei ao pensar que aquela mutilação era definitiva: a minha orelha não ia crescer outra vez, encontrar um dador era impossível, já que as orelhas são tão únicas quanto as impressões digitais, e uma prótese seria demasiado cara.
Mas o que mais me inquietava era a reacção da minha mãe quando descobrisse.
Ao contrário do que eu esperava, ela gostou.
Quando acordei, agarrei as orelhas entre o polegar e o indicador e sorri.
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