quarta-feira, 29 de agosto de 2012

a última moda

Há já uma noites, sonhei que via uma fotografia de uma modelo: ela tinha cortado a metade inferior das orelhas. Num repente, tudo quanto era mulher estava a fazer o mesmo. 
Eu decidi experimentar também. Como não podia pagar para o fazer numa loja como deve de ser, fi-lo eu própria, na casa de banho da minha casa. Sem anestesia, sem limpar a tesoura, em suma, sem cuidados nenhuns, encostei a lâmina à cartilagem e cortei. Para minha surpresa, a orelha rasgou-se com tanta facilidade quanto papel, e o corte não foi perfeito. Alarmada, inclinei-me de encontro ao espelho para avaliar os danos. Concluí que não eram assim tão maus, e sob o cabelo até passariam despercebidos. 
Com todo o cuidado, cortei a pele que ainda prendia a orelha ao crânio. 
Olhei o pedaço que eu cortara e deitei-o fora. 
Apesar de não ter sentido dor nem ter sangrado, uma vez que o corte não fora perfeito achei que o melhor seria não cortar a orelha direita também. 
Mais tarde arrependi-me de ter cortado a esquerda. Quase chorei ao pensar que aquela mutilação era definitiva: a minha orelha não ia crescer outra vez, encontrar um dador era impossível, já que as orelhas são tão únicas quanto as impressões digitais, e uma prótese seria demasiado cara. 
Mas o que mais me inquietava era a reacção da minha mãe quando descobrisse. 
Ao contrário do que eu esperava, ela gostou. 

Quando acordei, agarrei as orelhas entre o polegar e o indicador e sorri. 

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