Esta noite, tive um pesadelo terrível: passava-se na minha faculdade, junto à porta que dá para o auditório grande.
É muito difícil explicar o que se passou... Porque, apesar de no meu sonho eu ser eu, e de ter consciência disso, eu via algo que se passava longe de mim, através do olhos de um rapaz. Nunca o vi, nem sequer sei se existe. Só sei que no meu sonho, eu e ele víamos o mesmo:
Lembro-me que, diante desse rapaz, estava uma raparia nua, que também nunca vi. Era muito pálida: a sua pele tinha um tom assustador, entre o rosa e o roxo, e sob a mesma distinguiam-se veias vermelhas e azuis.
Tinha o cabelo preto e curto, pelo queixo.
Não era bonita: tinha o corpo inchado e uma expressão triste mas determinada:
-É preciso! -insistia ela.
De repente, apareceu um enorme cão preto de orelhas cortadas, que a atacou. Ela gritou de dor, mas não tentou fugir, nem sequer afastar o cão: manteve-se de pé, a berrar:
-É preciso! Tem de ser!
O cão arrancou a pele e a carne da sua barriga, deixando à vista os órgãos, cobertos de sangue brilhante.
Eu não quis ver mais e o rapaz desviou os olhos, mas quando a rapariga tornou a gritar, ele teve de olhar outra vez para ela, e ambos vimos a cara dela ser arrancada.
Lembro-me muito bem do crânio dela, encharcado de sangue.
E ela continuava viva, a gritar de dor.
Em pensamento, pedi ao rapaz para ir embora. Ele deixou, e dei comigo diante das escadas em caracol da faculdade, perto da entrada para o auditório.
Pouco depois passou por mim o rapaz, de mão dada com a rapariga. Ela vinha inteira, sem uma única marca.
-Como fizeste isso? -perguntei-lhe.
Ela limitou-se a sorrir debilmente: ainda estava muito fraca.
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