Há algumas noites, sonhei que me encontrava face a face com a Rainha de Copas, num apartamento. Decidiu a rainha que, para seu divertimento, largar-se-ia uma terrível besta que iria perseguir-me e matar-me se me apanhasse, para seu divertimento.
No momento em que disse isto, uma porta abriu-se de rompante e ouviu-se o rugido de um monstro horrivel: era muito alto e magro, sem pele, só ossos e carne putrefacta, em alguns lugares ainda brilhante de sangue vermelho. O rosto era uma caveira, rodeada de uma juba verde e castanha. Lembro-me perfeitamente: no lugar dos olhos, tinha duas opalas negras, e os dedos terminavam em longas e afiadas garras escuras.
Larguei a correr como nunca na minha vida.
Ao abrir a porta de entrada do apartamento, deparei-me com vários lances de escada, e pus-me logo a descê-los o mais depressa que podia, a saltar tantos degraus quanto conseguia.
O monstro perseguia-me entre rugidos, sacudindo com força o corrimão, cheio de raiva.
Eu tinha a certeza de que se chegasse ao fim das escadas, encontraria uma saída e conseguiria escapar para fora do prédio, mas, ao abrir a porta que deveria dar para a rua, dei comigo novamente na sala da rainha, com a besta à minha frente, a rosnar.
Tornei a correr dali para fora, em direcção às escadas, com o monstro sempre atrás de mim. Só que desta vez eu estava cansada... Ao vê-lo aproximar-se cada vez mais de mim, triunfante, tive uma ideia: saltei o corrimão e, esticando o corpo, deixei-me cair entre os lances de escadas.
Estava à espera de aterrar com um estrondo lá em baixo, e de me magoar, mas os meus pés tocaram delicadamente no chão, e, graciosa e leve como uma pluma, pousei.
Desta vez, quando abrir a porta do prédio, dei comigo realmente lá fora.
Então, deixei de ser eu quem fugia, tornei-me mera observadora, e vi como o grilo Falante, a consciência de Pinóquio, saía a correr do prédio, a fugir da fera que a Rainha de Copas libertara. Ao ver uma corda pendurada à sua frente, o Grilo decidiu puxá-la, certo de que, se o fizesse, caíra sobre o monstro um lençol que o prenderia, como se fosse uma rede.
Porém, não conseguiu fazê-lo: não era suficientemente pesado, e, resignado, decidiu explicar ao monstro o seu plano, confiante, certo de que este o compreenderia e perdoaria.
Assim, como uma criança arrependida, o Grilo disse tudo sobre a artimanha à besta, que já não era a coisa horrenda que me perseguira mas o Gato de Cheshire, que olhava céptico para a corda que o outro apontava.
-... e depois eu fazia assim... -ia exemplificar o Grilo, pendurando-se na corda. Ao fazê-lo, uma grande manta azul caiu pesada sobre o Gato, que bufou e bramiu as garras em todas as direcções, emaranhando-se cada vez mais na armadilha, dando tempo ao Grilo para fugir.
Nesse instante, o Grilo deixou de existir e era eu quem fugia novamente.
Enquanto me afastava, avistei ao longe Hevvin, que andava de um lado para o outro todo curvado e nas pontas dos pés, de punhal na mão, à procura de uma vítima.
Fui ter com ele, que, ao ver-me, sorriu com malícia e afagou com a ponta do indicador o punhal, antes de escondê-lo atrás das costas e me cumprimentar com delicadeza.
Levou-me pela mão até ao pátio de uma prisão, cercado por uma grade coroada de arame farpado, e sentámo-nos frente a frente a uma mesa.
Lá, pediu-me em casamento, ao mesmo tempo que, erguendo o punhal, se precipitava sobre mim:
-MARRY ME! MARRY ME!!
Gritei, e agarrei-o com toda a força pelo pulso, tentando afastar o punhal.
Enquanto espumava da boca e investia contra mim, continuava a perguntar-me se aceitava o seu pedido.
Não sei como, mas consegui arrancar-lhe o punhal da mão e tentei atirá-lo por cima da grade do pátio... Mas Hevvin empurrava-me e puxava-me uma e outra vez, rápido e com força, e não consegui atirar para longe a arma: caiu mesmo atrás dele, perto de uma outra mesa onde estavam sentados Ed, Edd e Eddy, a conversar:
-Por favor! Atirem o punhal lá para fora! - implorei -I promise I'll reward you!
Ao ouvirem a palavra "reward", os três saltaram sobre o punhal ao mesmo tempo, e, emvez de fazerem o que lhes fôra pedido, começaram a lutar uns com os outros, a ver quem atiraria o punhal lá para fora.
Assim, Hevvin recuperou sem esforço o punhal.
Não me lembro como terminou o sonho... Todos os personagens nesta história, excluindo eu e a besta, são desenhos animados, todos muito conhecidos. Se o leitor não souber nada àcerca deles, poderá descobrir rapidamente, através de uma pesquisa no Google.
Só é menos provável que encontrem algo relativo a Hevvin (lê-se "Heaven", já agora): trata-se de um personagem de uma banda-desenhada de Hot-Choc. O seu nome completo é Hevvin Angelbright, e ele é o ultimo unicórnio à face da terra... uma vez que matou todos os outros.
Se alguém quiser saber algo mais àcerca de Hevvin, visite:
http://hot-choc.deviantart.com/
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Alguns episódios curiosos...
Às vezes, irrita-me profundamente não me lembrar dos meus sonhos, porque me recordo, ou contam-me, algumas coisas que digo e faço durante o sono.
À anos, quando era uma criança, passei uma noite em casa dos meus avós, com a minha mãe. Sei que estava que estava a sonhar com alguma coisa relacionada com "Pokemons", e que a meio do sonho disse: "Temos de salvá-lo!".
Pouco depois, também em casa dos meus avós, numa noite em que tive que dormir com a minha prima Marta, dei-lhe uma grande tareia, enquanto gritava para uma outra prima nossa, com quem estava a sonhar: "Vais pagá-las! Vais pagá-las, Ana Rute!! Larga-me, Tomás, larga-me!! Vais pagá-las!!!".
Segundo me contaram, a minha avó veio ao quarto acordar-me e perguntar-me se queria um copo de água. Ofegante, respondi que sim.
Bebi, devolvi o copo à minha avó, e quando tornei a adormecer, o sonho continuou.
Na manhã seguinte, Marta perguntou-me:
-Ó Carolina, com que é que sonháste hoje?
-Hoje? Hoje nem sequer sonhei...
Uma outra vez, em que os meus avós é que estavam em minha casa, a minha avó ficou surpreendida ao ver-me a atravessar o corredor, de olhos fechados e a dormir profundamente, e meter-me na casa-de-banho às escuras, sentar-me na sanita e desatar a rir às gargalhadas...
Quando já era mais velhas, e a Marta veio passar uma noite a minha casa e mais uma vez tivémos de dormir juntas, ela acordou a meio da noite comigo a cantar os "Jardins Proibidos". Segundo ela, eu estava muito feliz, a rir-me muito, como se estivesse num karaoke.
Mais recentemente, aliás, há alguns dias, sonhei que estava a na galhofa com um grupo de pessoas, e que a determinada altura todos cuspíamos para qualquer coisa... Acordei nesse mesmo instante, com a cara toda molhada de cuspo.
À anos, quando era uma criança, passei uma noite em casa dos meus avós, com a minha mãe. Sei que estava que estava a sonhar com alguma coisa relacionada com "Pokemons", e que a meio do sonho disse: "Temos de salvá-lo!".
Pouco depois, também em casa dos meus avós, numa noite em que tive que dormir com a minha prima Marta, dei-lhe uma grande tareia, enquanto gritava para uma outra prima nossa, com quem estava a sonhar: "Vais pagá-las! Vais pagá-las, Ana Rute!! Larga-me, Tomás, larga-me!! Vais pagá-las!!!".
Segundo me contaram, a minha avó veio ao quarto acordar-me e perguntar-me se queria um copo de água. Ofegante, respondi que sim.
Bebi, devolvi o copo à minha avó, e quando tornei a adormecer, o sonho continuou.
Na manhã seguinte, Marta perguntou-me:
-Ó Carolina, com que é que sonháste hoje?
-Hoje? Hoje nem sequer sonhei...
Uma outra vez, em que os meus avós é que estavam em minha casa, a minha avó ficou surpreendida ao ver-me a atravessar o corredor, de olhos fechados e a dormir profundamente, e meter-me na casa-de-banho às escuras, sentar-me na sanita e desatar a rir às gargalhadas...
Quando já era mais velhas, e a Marta veio passar uma noite a minha casa e mais uma vez tivémos de dormir juntas, ela acordou a meio da noite comigo a cantar os "Jardins Proibidos". Segundo ela, eu estava muito feliz, a rir-me muito, como se estivesse num karaoke.
Mais recentemente, aliás, há alguns dias, sonhei que estava a na galhofa com um grupo de pessoas, e que a determinada altura todos cuspíamos para qualquer coisa... Acordei nesse mesmo instante, com a cara toda molhada de cuspo.
Mendigos, Música e Violinos
Um dia depois do pesadelo que aqui publiquei antes, sonhei que estava em casa dos meus avós, com o meu irmão no quarto de visitas, debruçados na janela a olhar lá para baixo.
No terraço, encostado ao muro, estava um homem de aspecto miserável, mas que, com toda a dignidade do mundo, tocava violino. Era uma música lindíssima.
O meu irmão, deliciado, quis juntar-se-lhe: correu a pegar no seu violino, e foi ter com ele ao terraço. Pôs-se de pé sobre o muro e tocaram juntos.
Era tão bonita, a música, que eu até tinha pena de não saber tocar um instrumento qualquer, para me juntar a eles e fazer parte daquela melodia maravilhosa.
Procurei pela casa toda algo que eu pudesse tocar. Acabei por descobrir algo que até se parecia com um violino... Meio desfeito, é certo, e era diferente a maneira de usá-lo, mas, ainda assim, um violino: não tinha vara, e para o tocar era preciso friccionar com os dedos as cordas, prendendo-as com teclas montadas na cabeça do violino para tocar diferentes notas.
Lembro-me vagamente de um grande algazarra, de uma espécie de almoço, de ouvir a musica do meu irmão e do seu companheiro e de estar ansiosa por lhes mostrar o meu achado.
No terraço, encostado ao muro, estava um homem de aspecto miserável, mas que, com toda a dignidade do mundo, tocava violino. Era uma música lindíssima.
O meu irmão, deliciado, quis juntar-se-lhe: correu a pegar no seu violino, e foi ter com ele ao terraço. Pôs-se de pé sobre o muro e tocaram juntos.
Era tão bonita, a música, que eu até tinha pena de não saber tocar um instrumento qualquer, para me juntar a eles e fazer parte daquela melodia maravilhosa.
Procurei pela casa toda algo que eu pudesse tocar. Acabei por descobrir algo que até se parecia com um violino... Meio desfeito, é certo, e era diferente a maneira de usá-lo, mas, ainda assim, um violino: não tinha vara, e para o tocar era preciso friccionar com os dedos as cordas, prendendo-as com teclas montadas na cabeça do violino para tocar diferentes notas.
Lembro-me vagamente de um grande algazarra, de uma espécie de almoço, de ouvir a musica do meu irmão e do seu companheiro e de estar ansiosa por lhes mostrar o meu achado.
'Tô? Olha, é o do costume... ajudas-me a esconder um corpo?
Nestas férias da Páscoa, sonhei certa vez que eu e o Liro tinhamos morto um homem. Nunca vi a nossa vítima, nem no sonho nem na vida, mas sei que era um homem baixo, gordo, meio careca e de pele rosada, que usava uma camisa enfiada por umas calças de pano adentro.
Devia ter sido uma pessoa muito má, porque eu e o Liro estávamos mesmo contentes por tê-lo morto. Mesmo muito, muito satisfeitos.
No Parque das Nações, atirámos o corpo ao Rio Tejo e afastámo-nos, a rir e a falar alegremente do que tínhamos feito, orgulhosos do crime que havíamos cometido.
Não muito longe, estavam alguns armazéns, onde entrámos. Encaminhámo-nos para uma cozinha apertada, de paredes altas com a tinta a estalar, cheia de electrodomésticos velhos, todos ferrugentos.
Num repente, zangámo-nos. Começámos a discutir não sei porquê, e, do nada, as luzes apagaram-se. Não se ouviu um som.
Quando voltei a ver, o Liro tinha desaparecido: a cozinha estava suja de sangue, havia alguma carne picada numa trituradora, e um braço cortado pouco acima do cotovelo no micro-ondas.
Horrorizada, percebi que o Liro estava morto. E, como não havia ninguém por perto, deduzi que fôra eu quem o matara.
-Calma... Calma... - murmurei, enquanto pensava no que devia fazer.
Saí a correr do armazém e fui ter com um grupo de amigos que passeava à beira do rio. Entre eles, distingui Sara. Fui ter com ela e contei-lhe o que acontecera, e, apesar de ser uma grande amiga do Liro, não ficou triste, ou zangada, nem sequer surpreendida.
Disse-me que me ia ajudar a esconder o corpo, e que ia ficar tudo bem.
Regressámos juntas aos armazéns, entrámos na cozinha e deparámo-nos com tudo limpo, sem sinais do cadáver.
Fiquei desesperada: alguém o tinha encontrado. Estava condenada, sem dúvida, não havia nada que pudesse fazer... E agora? Estava tristíssima por ter morto o meu amigo, e a culpa esmagava-me... Sabia que merecia ir presa. Porém, eu não o fizera por querer. Nem sequer me lembrava de nada, era como se tivesse perdido o controlo do meu corpo, e portanto não pudesse escolher matá-lo ou não! Além do mais, lá por eu ir presa, por perder não-sei-quantos anos da minha vida, ele não ia voltar a viver, pois não? Tinha de fugir.
Entretanto, a Sara não perdera a calma, e na sua voz ao mesmo tempo doce, preguiçosa e desinteressada, falava ao telemóvel:
-'Tô? Então, 'tás bom? Tudo bem? Sim, eu também... Olha, é o do costume... Ajudas-me a esconder um corpo?
Devia ter sido uma pessoa muito má, porque eu e o Liro estávamos mesmo contentes por tê-lo morto. Mesmo muito, muito satisfeitos.
No Parque das Nações, atirámos o corpo ao Rio Tejo e afastámo-nos, a rir e a falar alegremente do que tínhamos feito, orgulhosos do crime que havíamos cometido.
Não muito longe, estavam alguns armazéns, onde entrámos. Encaminhámo-nos para uma cozinha apertada, de paredes altas com a tinta a estalar, cheia de electrodomésticos velhos, todos ferrugentos.
Num repente, zangámo-nos. Começámos a discutir não sei porquê, e, do nada, as luzes apagaram-se. Não se ouviu um som.
Quando voltei a ver, o Liro tinha desaparecido: a cozinha estava suja de sangue, havia alguma carne picada numa trituradora, e um braço cortado pouco acima do cotovelo no micro-ondas.
Horrorizada, percebi que o Liro estava morto. E, como não havia ninguém por perto, deduzi que fôra eu quem o matara.
-Calma... Calma... - murmurei, enquanto pensava no que devia fazer.
Saí a correr do armazém e fui ter com um grupo de amigos que passeava à beira do rio. Entre eles, distingui Sara. Fui ter com ela e contei-lhe o que acontecera, e, apesar de ser uma grande amiga do Liro, não ficou triste, ou zangada, nem sequer surpreendida.
Disse-me que me ia ajudar a esconder o corpo, e que ia ficar tudo bem.
Regressámos juntas aos armazéns, entrámos na cozinha e deparámo-nos com tudo limpo, sem sinais do cadáver.
Fiquei desesperada: alguém o tinha encontrado. Estava condenada, sem dúvida, não havia nada que pudesse fazer... E agora? Estava tristíssima por ter morto o meu amigo, e a culpa esmagava-me... Sabia que merecia ir presa. Porém, eu não o fizera por querer. Nem sequer me lembrava de nada, era como se tivesse perdido o controlo do meu corpo, e portanto não pudesse escolher matá-lo ou não! Além do mais, lá por eu ir presa, por perder não-sei-quantos anos da minha vida, ele não ia voltar a viver, pois não? Tinha de fugir.
Entretanto, a Sara não perdera a calma, e na sua voz ao mesmo tempo doce, preguiçosa e desinteressada, falava ao telemóvel:
-'Tô? Então, 'tás bom? Tudo bem? Sim, eu também... Olha, é o do costume... Ajudas-me a esconder um corpo?
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