Hoje sonhei com uma mulher que queria desesperadamente vingar-se de um homem. Nao sei o que ele lhe tinha feito.
Um dia, ela conseguiu captura-lo, e obrigou-o a acompanha-la a um hospital. La, ameaçou um medico e uma medica (respectivamente negro e branca), e conseguiu que fizessem o que ela queria.
Ordenou-lhes que a guiassem e ao homem de quem se queria vingar ate um bloco operatório, onde teriam de estar preparados para abrir os dois. O bloco operatório era muito pequeno, separado de muitos outros por finas paredes de plástico brancas, e era intensamente iluminado por uma luz, também branca.
Enquanto os dois médicos se preparavam, a mulher explicou o que queria:
-Vão anestesiar-me primeiro... Cortar-me a cabeça e...
-Cortar-lhe a cabeça? - perguntou a medica. O medico olhou-a pelo canto do olho, com uma expressão que significava: "esta cabra e mesmo doida".
-Sim. - disse a custo a mulher, fechando os olhos e cerrando o sobrolho. Era óbvio que não queria deitar-se e adormecer naquela maca sabendo que nunca mais viria a levantar-se. -Depois, tiram-me os olhos... e põem os dele nas minhas orbitas. Matam-no, e entreguem a minha cabeça com os olhos dele a família e aos amigos dele. -determinou ela.
-Seja. - concordou a medica. Não parecia nada perturbada. Voltou-se e começou a procurar uma serra.
"E se ela mudar de ideias?" pensei eu. "E se depois já não quiser que lhe cortem a cabeça? Será que vai conseguir dizer-lhes, ou só depois de ser anestesiada, quando sentir que esta a perder a voz e que e demasiado tarde, e que ela vai querer desistir?" . Eu não estava la. Só os meus olhos, e a minha consciência. Não sei onde estava o meu corpo. Era um pouco como ver um filme.
Entretanto, a mulher lançava olhares ameaçadores aos dois médicos e ao homem. Lembro-me que ela era pálida, tinha cabelo loiro comprido preso num rabo-de-cavalo e feições delicadas, o queixo um pouco redondo e o nariz arrebitado.
O homem estava ao seu lado: parecia um pouco nervoso, como se pensasse: "aposto que isto vai correr mal". Mas não chorou, nem disse nada. Limitou-se a olhar a sua volta, um pouco desamparado, com o sobrolho franzido e a boca ligeiramente aberta, como se não conseguisse respirar pelo nariz. Cruzava os braços, descruzava, coçava o queixo, punha as mãos nos bolsos, tirava... Era moreno, de cabelo castanho curto e espetado, e uma barba espessa da mesma cor. A cara era magra, o nariz recto.
Lembro-me de que de repente estava sobre a maca um pequeno rectângulo preto, rijo, com um forro semelhante aos tapetes dos carros. Era um encaixe para uma cabeça. Provavelmente, era uma espécie de almofada que os médicos usavam para manter o pescoço do paciente (ou vitima) direito enquanto o decapitavam.
-Esta tudo pronto. - disse a medica.
Depois, só me lembro de a mulher estar deitada atravessada na maca, o medico e o homem de quem ela se queria vingar a segurarem-lhe os braços, enquanto a medica de lhe cortava os pés pelos tornozelos: estava a explicar-lhe como lhe iriam cortar a cabeça.
A mulher já tinha sido anestesiada, mas a droga ainda não começara a fazer efeito, e ela gritava como uma louca. Entretanto, eu tornei-me a mulher. A minha consciência estava no corpo dela.
Recordo-me de olhar para baixo e ver os pés branquinhos serem cortados, a medica a segura-los e a dizer-me que ficasse calma. E doía! Era uma dor aguda! Parecia que ardia.
Tudo começou a ficar escuro, e eu já não me ouvia gritar: "Vão cortar-me a cabeça e não lhes consigo dizer para pararem!" pensei.
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