quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

TOMA!!!

Tive este sonho mais ou menos há um ano. Não me esqueci dele porque foi o sonho que me fez sentir pior, porque matava uma pessoa.
A minha casa fica numa praceta, onde eu estava, acho que a ver uns miúdos andar de bicicleta.
Apareceu-me então um rapaz loiro muito bonito, que eu nunca vira. Falámos um bocado, até que ele me convidou a explorar uma casa abandonada que, no meu sonho, ficava no meio da estrada da praceta.
Adoro explorar esses sítios, mas não me atrevo a fazê-lo sozinha. Como quase nunca ninguém se oferece para vir comigo, decidi aproveitar a oportunidade.
Enquanto caminhávamos lado a lado em direcção às ruínas, lembro-me de pensar que não tinha o telemóvel comigo, e que não avisara o irmão que ia à tal casa abandonada. Era perigoso, sentia-o, mas disse para mim mesma que não me ia acontecer nada.
O rapaz abriu a porta e deixou-me entrar primeiro. Ao passar por ele agradeci.
Então ele fechou a porta: fê-lo lentamente e com cuidado, silenciosamente. Mas ficou tudo escuro, e ouvi o mecanismo de uma fechadura funcionar.
Percebi imediatamente que se tratava de uma armadilha, e precipitei-me para outra divisão:
-Não fujas! - sibilou ele, ao ouvir os meus passos no escuro.
Vi então uma porta aberta, por onde entrava a luz do dia. Apesar do medo, contive-me e avancei devagar para ela, sem fazer um som.
-Onde estás? - ouvia-o perguntar num tom trocista, algures na escuridão.
A porta conduzia a uma sala grande, onde já não havia telhado: restava uma trave, apenas. Se conseguisse trepar pelas paredes e alcançá-la, podia gatinhar por cima dela sem que o meu perseguidor me visse, até chegar a uma das paredes. Depois, só teria de saltar para o lado de fora da casa.
Olhei à minha volta e descobri algo por onde podia subir. Consegui, e já tinha atravessado metade da trave quando o rapaz entrou na sala:
-Não vale a pena esconderes-te! - disse ele, perscrutando a divisão. Todavia, não olhou para cima, e eu decidi que tinha de avançar.
Então a trave cedeu sob o meu peso, e partiu-se. Com um grito, eu caí, e através da poeira vi o meu perseguidor avançar para mim, muito direito, com os punhos cerrados.
Palpei o chão à minha volta e descobri uma pedra, que atirei com toda a força à cabeça do rapaz.
Ele gritou e caiu no chão, agarrando a cabeça com ambas as mãos:
-Puta! Vais ver o que te vai acontecer!... - ameaçou ele, enquanto rastejava em direcção a um canto.
Sem hesitar, corri para ele, tornei a agarrar a pedra e bati-lhe várias vezes na cabeça com ela:
-Pára! -suplicou ele, quando começou a aparecer sangue - Pára, vais-me matar!
E eu não sabia o que havia de fazer, se ele me deixaria de facto, ou se me magoaria mais ainda pelo que lhe estava a fazer.
Continuei. Senti o osso desfazer-se, o cabelo doirado dele e as minhas mãos ficaram sujas de sangue.
-Pára, puta! - ordenou o pobre, cada vez mais fraco.
Mas eu não parei. Sempre a chorar, bati-lhe até ele deixar de se mexer e de falar, e eu sentir uma coisa mole sob a pedra.
Então, horrorizada com o que tinha feito, larguei a pedra e saí dali a correr. Atravessei num instante a praceta, sob o Sol da tarde.
Quando cheguei a casa, pálida e a tremer, deparei-me com o meu irmão e a minha mãe na cozinha, ela junto ao fogão, a mexer nas panelas, ele encostado à mesa.
Cumprimentaram-me e falaram comigo normalmente, e eu pensei: "será que não repararam?"

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