sábado, 27 de fevereiro de 2010

As Cobras Parasitas

Há cerca de um ano, sonhei que um dos meus cães, o meu querido Alex, tinha morrido. Eu adoro aquele cão, e no meu sonho fartei-me de chorar agarrada ao corpo dele.
Quando o estavam a enterrar, fiquei a olhar com pena para a terra a cair em cima do seus pêlo dourado, a pensar que dentro de pouco tempo deixaria de vê-lo para sempre.
Chorei até não poder mais...
Mas, ao sair de casa no dia seguinte, fui surpreendida pelo meu Alex, que se passeava junto à porta de entrada e abanava o rabo com tanta força que todo o corpo era também sacudido.
Louca de alegria, corri para ele. Mas o meu cão fugiu de mim, com a cauda entre as patas e de focinho baixo.
-Alex! - chamei - Anda à dona!
Corri atrás dele até chegar à orla de uma floresta muito escura e fria, onde o meu cão se meteu.
Curiosamente, tinha sido construído mesmo junto às árvores um café, onde uns velhos de longas barbas, camisas de xadrez e calças de ganga sustentadas por suspensórios me disseram que sabiam o que tinha o meu cão: explicaram-me que o corpo morto de Alex tinha sido mordido por uma espécie muito rara de cobras, que atacava apenas cadáveres e que, com uma dentada, passava a sua alma para dentro do corpo morto da vítima, passando a habitar nele.
-Cada cobra vive duas semanas no corpo que morde. - informou um dos velhos - Se quiseres manter o teu cão vivo, só tens de o trazer até aqui de quinze em quinze dias, para que uma nova cobra o venha morder.
Ao perceber que, como um parasita, um bicho imundo vivia no corpo do meu Alex, vivia através dele, e o profanava, fiquei cheia de raiva.
Nem me passou pela cabeça fazer o que o velho sugerira: o que quer que fosse que estava no corpo do Alex, não era o Alex, e estava a roubar a carne do meu adorado cão.
Decidi vingá-lo: mataria a cobra!
Porém, ela fugia de mim, e era dificílimo apanhá-la. Esperei até ela se sentir fraca, e, assim que percebeu que estava prestes a morrer, a cobra dirigiu-se para a floresta, dentro do corpo do meu cão, para que uma outra cobra tomasse o seu lugar.
Mas eu apanhei-a!
Agarrei-a com força e bati-lhe!
Só que o corpo dourado que se encolheu nos meus braços foi o do meu cão, e quando o ouvi ganir fiquei horrorizada: pareceu-me que estava a matar o meu Alex, que me lançava um olhar ao mesmo tempo assustado, admirado e suplicante. Parecia mesmo o meu cão, que me perguntava com aqueles olhinhos castanhos porque é que eu o estava a magoar, eu, que sempre o tratara tão bem, e me pedia que, por favor, o largasse.
Assim que me afastei, ele desatou a correr em direcção à floresta, onde, decerto, uma outra cobra veio ocupar o corpo morto do meu cão.
Então percebi como era difícil a minha missão: ou me conformava com os parasitas que habitavam o cadáver do meu Alex, e fingia que o meu cão continuava vivo, ou então, eu própria teria de matar aqueles répteis imundos, e ver morrer pelas minhas mãos o meu querido cão.
Não sei se consegui cumprir a minha tarefa, não me lembro. Sei que, depois de matar a cobra que estava dentro do meu Alex, teria de queimar o seu corpo, antes que uma outra o ocupasse.

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