sábado, 28 de janeiro de 2012

Shhhhh!

Hoje sonhei que estava num grande edifício de paredes cinzentas, juntamente com um grupo de jovens e crianças. Parecia que por todo o lado havia cozinhas e cozinheiros.
Ao redor deste edifício, existia uma plantação de milho, tão vasta que, não importa em que direcção se olhasse, era a única coisa que se via até ao horizonte.
Nós queríamos ir passear nessa plantação.
Descontraidamente, lá fomos nós.
Quando já lá estávamos, lembrei-me de qualquer coisa que devia ter trazido comigo. Voltei atrás para a ir buscar.
Lembro-me que para o fazer, tive de saltar para um fosso, com uns três metros de profundidade. Descalcei-me antes de fazê-lo, e, no ar, pensei como fora estúpida: ia certamente partir os pezinhos todos. Se fosse só isso que eu partisse.
Para minha surpresa, não senti dor nenhuma, e num instante me pus de pé e desatei a correr em direcção ao edifício.
A caminho de uma das cozinhas, reparei num estranho elevador. Sempre que ele subia, havia abaixo dele um outro elevador pendurado, e, por baixo desse elevador, um grande cilindro de vidro cheio de água imunda, onde um homem estava amarrado. Cheia de medo, e preocupada com o homem, aproximei-me. Nesse instante, ele emergiu, enchendo os pulmões de ar.
-Meu deus! -exclamei eu.
Ele era jovem, tinha o cabelo curto e espetado, e uma barba de vários de dias por fazer. O pêlo negro contrastava com a pele branca. Não me lembro do que ele me disse, mas estava desesperado.
Ouvi então um outro homem aproximar-se. Era baixo e gordo: a barriga opulenta quase fazia saltar os botões da camisola vermelha de xadrez. O que restava do seu cabelo negro rodeava, como se uma auréola se tratasse, uma reluzente careca no cimo do seu crânio. Um bigode muito feio é do que lembro melhor da sua cara bochechuda.
Recuei vários passos, dizendo:
-Eu não conto a ninguém! Prometo!
-Não vais a lado nenhum.
-Eu não conto a ninguém! - insisti, fazendo cara de menina ingénua e indefesa.
-Está bem... -cedeu o homem, movido pela minha patética expressão. - Mas dá-me a tua mão.
-P-para quê?
-Não sais daqui sem um aviso, pelo menos. - disse ele, segurando uma faca.
"Ele vai cortar-me a mão!"
-Não conto a ninguém, já disse!
-É só um cortezinho...
-Não confio em si.
-Um cortezinho, vá lá... - ele falava como se fosse um médico a consolar uma criança prestes a ser vacinada.
A tremer, deixei que ele pegasse na minha mão direita e fizesse um pequeno corte na palma. Assim que ele me largou, desatei a correr, a pensar se devia ou não contar a alguém o que acontecera.
Aquele pobre homem estava a ser torturado, e se eu não fizesse nada, dentro de pouco tempo talvez estivesse morto. Eu era a sua única esperança.
Mas quais seriam as consequências para mim?
E se fosse eu no lugar dele?
Será que ele me ajudaria ou não?
-Mãe, mãe, tenho de falar contigo! - choraminguei, assim que encontrei a minha mãe.
Num sítio isolado, contei-lhe o que se passara. Ela insistiu para que eu mantivesse a promessa que fizera, mas eu sentia-me esmagada pela culpa.
Não sei que decisão acabei por tomar.

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