Esta última noite foi incrível (no que concerne a sonhos... porque não saí de casa e dormi com o meu irmão)! Vivi duas aventuras fantásticas, uma após a outra!
A primeira passava-se durante um apocalipse zombie. Bem, na verdade, não era um apocalipse... Porque a vida continuava a decorrer normalmente: bastavam alguns cuidados para a população viva evitar qualquer contacto com a morta.
Ainda assim, eu tinha imenso medo de sair de casa. Todavia, quando a minha mãe chegou a casa, insistiu para que eu fosse comprar pão. Fiz "olhinhos-de-bambi", choraminguei, chantageei, mas não me serviu de nada.
Com as pernas a tremer, meti-me no elevador e saí no andar errado (no prédio de Massamá há dois andares que dão acesso à rua). Atravessei o jardim, percorri as ruas, até chegar à estação de comboios de Monte-Abraão. Só depois de entrar num comboio e este iniciar a sua marcha é que me apercebi que estava a seguir um caminho completamente errado.
Aborrecida de morte por me ter enganado, saí na estação seguinte, decidida a entrar no primeiro comboio que seguisse no sentido contrário, para poder regressar a casa.
No entanto, não sei como, deparei-me com um grupo de pessoas feridas e assustadas que temia a chegada de zombies a qualquer hora. Não consegui partir sem os ajudar.
Depois, só me lembro de estar numa casa, mais especificamente numa cozinha apertada, com duas portas: uma em cada extremidade. Uma delas dava para a rua, e eu estava apoiada contra ela, usando o meu peso para impedir um grupo de zombies famintos de entrar. Tinha medo. Tanto medo.
Estava comigo uma mulher grávida, o respectivo marido, e um outro homem. Ela tinha cabelo loiro e curto, preso num minúsculo rabo-de-cavalo. Não me lembro do seu marido. O outro homem era bonito, tinha o cabelo castanho curto e a barba por fazer.
O resto do grupo tinha-nos deixado: quando perceberam que a mulher grávida não podia fugir dali a tempo de escapar aos zombies, deixaram-nos para trás.
-AAAAH!- gritei, quando vi uma série de dedos putrefactos passar pela porta.
Eu e a mulher grávida atirá-mo-nos de costas contra a porta várias vezes, e assim que o monstro recuou, trancámos a porta e deixámo-nos cair onde estávamos: ela encostada à porta e eu a uma bancada.
Entretanto, os dois homens não se mexeram: limitaram-se a olhar para nós boquiabertos, com os olhos arregalados de medo.
Instantes depois, apareceu à outra porta um bebé morto:
-Meu Deus... -murmurei - um bebé zombie.
Os zombies tinham conseguido entrar por outro lado qualquer. Estávamos cercados.
Muito mais rápido do que eu imaginara que ele fosse capaz, o bebé correu para a mulher grávida e saltou sobre a a barriga dela, começando nesse mesmo instante a comê-la.
As duas gritámos como só as mulheres conseguem, e segundos depois o homem bonito caiu à minha frente com vários zombies adultos agarrados às suas costas (com unhas e dentes, literalmente) tentando a todo o custo arrancar pedaços de carne.
Amparando-me na bancada, levantei-me, abri a porta a que a mulher grávida estava encostada e saltei para a rua. Tudo isto sem que eu parasse de gritar.
Na rua, desferi murros e pontapés a torto e a direito, e consegui atravessar a multidão de zombies sem que me tocassem.
O marido da mulher grávida, que me seguira, não teve tanta sorte: um dos mortos cavara com as unhas um profundo buraco na palma da sua mão.
-Arranharam-me! Arranharam-me! - gritou o homem.
Ao ouvi-lo, soube que dentro de algum tempo ele seria um daqueles monstros. Senti por ele uma repulsa que era quase nojo, e preparava-me para abandoná-lo entre os mortos quando os seus gritos de me despertaram pena. Voltei atrás e segurei firmemente a sua mão sã, puxando-o na minha direcção com toda a minha força.
Quando se apercebeu da minha presença, o homem calou-se, fitou-me por instantes, com os olhos muitos redondos e a boca entreaberta, e seguiu-me.
Não sei como nem porquê, mas estávamos novamente na estação de Monte Abraão, e não naquela onde eu saíra por engano.
Atravessámos uma passagem superior, quase caímos numa valeta ao tentar contorná-la, e finalmente fomos agarrados por dois policias que nos enfiaram num jipe: iam levar-nos a casa.
Muito encolhida no meu assento, eu esforçava-me por não olhar para o homem que salvara. Não conseguia decidir se devia ou não revelar aos polícias que ele fôra infectado.
Tinha imensa pena dele: vira a morrer a mulher e o filho que ainda nem nascera, e sabia que dentro de algum tempo ele próprio seria um monstro como aqueles que, naquela altura, deviam estar a devorar a carne das pessoas que mais amava no mundo.
Mas se não dissesse nada, era possível que ele viesse a matar ou infectar outras pessoas...
O jipe parou diante de uma casinha baixa e estreita, feita de um material cuja cor lembrava o barro. Era uma adorável: tinha flores vermelhas nos parapeitos da janelas e cortinas de renda. Estava entalada entre várias outras casas semelhantes, numa rua muito inclinada.
O homem saiu do carro e entrou em sua casa.
Depois os polícias continuaram a descer a rua, para me levarem a mim a casa.
Fui incapaz de tirar os olhos da casinha do homem até ela desaparecer por detrás de outras casas e prédios.
Não sei o que acontecera entretanto, mas de repente aquele homem nunca tinha sido casado com a mulher grávida: era meu namorado. Enquanto os polícias me levavam a casa, eu tentava decidir se iria ou não tornar a visitá-lo, antes de ele sucumbir à infecção.
Quando cheguei a casa, todas as luzes estavam apagadas excepto a do hall de entrada.
"Espero que o Tomás me deixe dormir com a mãe, hoje." pensei. Fui até à sala e deparei-me com o meu irmão estendido no sofá, a dormir. Tinha a farda da escola vestida e tapava os olhos com o braço direito.
Deixei-o e fui ao encontro da minha mãe, que me abraçou com força. Ela já soubera o que acontecera:
-Deixa-me dormir contigo, hoje. -pedi-lhe.
-Claro.
Não percebo porque estaria o meu irmão a dormir no sofá quando podia ter ido para o seu próprio quarto... Mas esse é talvez o pormenor mais insignificante de todos.
No próximo post: o outro sonho fantástico que se seguiu a este.
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