Juntamente com um rapaz, ou melhor, um homem, eu estava a percorrer uma cidade de ruas estreitas, onde os prédios e as ruas se sobrepunham uns aos outros, formando uma espécie de montanha sobre a qual e dentro da qual habitavam pessoas. Era uma cidade fantástica, apesar de muito pobre e suja, e não me ocorrem palavras capazes de a descrever: não tenho escolha senão desenhá-la, um dia.
-Aqui. -disse-me o homem, depois de passarmos por um mendigo e subirmos alguns degraus.
Olhei à minha volta: estávamos num cantinho minúsculo, que teria, no máximo, 1x1m. Atrás de nós estavam a rua e as escadas por onde tínhamos entrado, ao nosso lado, outras escadas, que subiam. Apesar de haver um tecto, era óbvio que ainda estávamos na rua. As paredes era amarelas e tinham marcas de humidade, e de um dos lados havia um cano que descia encostado à parede. Terminava junto ao chão, e dele pingavam ritmadamente gotas de uma matéria imunda.
-Não.
-Não?! - ele não levantou a voz, mas era evidente que estava irritadíssimo. Devia estar mortinho por me dar uma sova.
-Queres sexo, não queres? - ele respondeu lançando-me um olhar faminto. - Então arranja um lugar. - retorqui. -E um preservativo. - acrescentei.
Ele resmungou qualquer coisa entredentes, voltou-me as costas e subiu as escadas que estavam ao nosso lado.
Sei que não era uma prostitua: havia alguma coisa entre mim e aquele homem. Mesmo que não fosse amor. O que nos faltava, era um lugar decente para fazermos sexo.
Eu segui-o. Era colossal: sou uma mulher alta, e, no entanto, dava-lhe pelo peito. Tinha ombros muito largos, e músculos inchados. Esbarrar contra ele devia ser semelhante a esbarrar com uma parede.
Um estrondo abalou a cidade. Apoiá-mo-nos nas paredes e desatámos a correr. Subitamente, nunca houvera nada entre nós: éramos dois colegas de trabalho, e a nossa missão era destruir o monstro que atacava a cidade.
O meu parceiro, muito mais forte que eu, subiu agilmente as escadas até um estreito corredor com grandes janelas lanceoladas. Como estas não tinham vidro, agarrou-se com uma mão à fachada do edifício e saltou para o parapeito. Estava a cerca de cinquenta metros do chão, mas isso não o perturbava nem um pouco: estava disposto a enfrentar aquela criatura ali mesmo.
Num repente, era Hellboy, que saltou e aterrou sobre uma superfície invisível que esmurrou vezes sem conta com a sua gigantesca manápula de pedra, até que a besta sucumbiu e caiu sobre o chão da cidade. Momentos antes de o monstro desfalecer, Hellboy saltou novamente para o parapeito da janela.
Entretanto, eu corria pelas ruas da cidade a caminho da sede da organização para a qual eu, Hellboy, e curiosamente Diogo (um colega meu), trabalhávamos.
Diogo estava atrasado devido a uma multidão que se acumulara ao redor da besta morta e não o deixava passar. Um jovem rapaz agarrou-se a ele muito entusiasticamente e pediu-lhe que o deixasse fazer parte da nossa equipa. Diogo concordou, mas decidiu que antes de o rapaz se juntar a nós deveria ouvir algumas regras... Por isso, pôs-se a descrever-lhe os poderes que ele podia usar ou não (suponho que não era possível duas pessoas usarem o mesmo poder, apesar de terem a hipótese de escolher qual o poder que queriam).
Entretanto, os dois encontraram-me no cimo de uma rua, a subir a uma extensa e larga escada que conduzia à sede.
-Vá, Diogo, pára de ser o miúdo que decide que pokémons é que os outros podem ser.
Dito isto, continuei a subir.
Tinha imenso medo de cair, pelo que o fazia bem lentamente. Tanto, que devo ter irritado Hellboy, que aparentemente subia atrás de mim. Ultrapassou-me tão rapidamente que só me lembro de ver a ponta da sua cauda vermelha agitar-se ao meu lado.
-Ei! Eu sou fraquinha! -justifiquei-me.
Só me lembro disto.
Esta deve ser a história de super-heróis mais ridícula de sempre. Tem tudo para o ser: uma absurda mistura dos filmes Hellboy e Cloverfield, uma série de membros inúteis numa equipa que mais parece um clube de crianças...
E eu nem sequer cheguei a descobrir qual era o meu poder...
Bem, mas foi divertido. E aquela cidade era muito gira.
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