Há cerca de uma semana sonhei que me encontrava num condomínio privado com bonitas casas amarelas, muito semelhante ao que fica diante da quinta onde moro. Não se via nem ouvia ninguém.
Só quando passei por uma pequena ponte que ligava duas casas ouvi risos. Olhei para cima e constatei que se tratava de duas crianças acompanhadas de um cão, que tentava transpor as grades e saltar lá para baixo, para ao pé de mim. Sorri ao vê-lo, e, para divertir os pequenos, passei por debaixo da ponte várias vezes, para lá e para cá. Sempre que eu ia para "lá", a cabeça do cão aparecia na ponte a espreitar para o lado de "lá"; se eu ia para "cá", o cão corria e olhava para o lado de "cá".
De repente, vi-o saltar para cima das grades e equilibrar-se (muito mal) sobre elas, com as patas dianteiras e traseiras muito juntas, como se estivesse sentado. Percebi imediatamente que ia tentar saltar:
-Não! -ordenei. -Não saltes!
Mas ele saltou.
Soou um estrondo abafado no momento em que ele tocou no chão, e eu senti o ventre gelado. Corri para ele e debrucei-me sobre o seu corpo inerte. Verifiquei que quase não respirava, e apesar de ver nem uma gota de sangue, ou qualquer outro sinal de que ele se tinha magoado, deduzi que estivesse completamente partido por dentro. Com cuidado, apalpei-lhe o corpo, à procura de ossos partidos.
Só então me apercebi que aquele cão se parecia muito com o Alex. Era, aliás, igualzinho a ele, mais do que um irmão gémeo. Posso, no entanto, garantir que não era ele.
Tinha acabado de verificar que uma pata traseira estava intacta quando o cão começou a dar ao rabo. Um pouco hesitante, ele levantou-se, e depois ficou ali a olhar para mim, todo contente, a abanar o corpo todo como se não lhe tivesse acontecido nada.
Nesse momento, vi que o mundo tinha girado debaixo de mim e do cão sem que eu me tivesse apercebido: o cão caíra do lado de "lá" da ponte, no entanto, estávamos os dois agora no lado de "cá". Sorri de alívio e afaguei o seu pêlo dourado antes de me ir embora.
Não me lembro do caminho que percorri: apenas de chegar a casa. Era muito diferente do que é na realidade. Em vez de ter aquele ar adorável de casinha de campo, parecia uma daquelas casas todas modernas, muito minimalistas. Era completamente branca, e parecia feita de quadrados, construídas unicamente com linhas rectas perpendiculares entre si.
Entrei por uma garagem um pouco escura, onde a única fonte de luz era o portão aberto. Estava lá a minha mãe, a queixar-se de alguma coisa em relação ao meu padrasto. Estava furiosa. Ouvi-a em silêncio, sem nenhuma vontade de me envolver nas suas discussões.
Pouco depois ele apareceu, e começaram os dois a discutir. O problema tinha qualquer coisa haver com dinheiro... Sempre o dinheiro.
No meio de tantos gritos, tanta confusão, tanta coisa, a minha mãe disse-lhe algo que ele não gostou nada de ouvir (mas que era verdade). Ficaram os dois mudos, a olhar um para o outro por breves instantes. Depois, o meu padrasto voltou-nos as costas e foi-se embora. Eu subi as escadas juntamente com a minha mãe e entrámos num quarto espaçoso e bem iluminado, com duas grandes janelas que davam para duas varandas. O chão era de uma madeira muito clara. Suponho que há esquerda de quem entrava havia uma pequena cama de casal, e há direita uma parede toda ocupada por um guarda-fatos. Em suma, era um quarto muito semelhante ao de uma tia minha, só que, exceptuando a cama, estava completamente vazio.
Mal entrámos, ouvimos um ganido horrível, que nos fez tremer de receio e ansiedade. Nem um segundo passara, o meu padrasto apareceu numa das varandas (não sei como subiu até lá) e entrou no quarto, com um grande objecto metálico na mão. Não me recordo muito bem do que era, mas suponho que se tratasse de um pé-de-cabra.
-Sabes o que acabei de fazer? - perguntou à minha mãe, cheio de raiva -matei um cão.
Mal disse isto, começou a bater com aquelas coisa metálica no chão, disposto a destruir a casa.
Depois, tudo aconteceu muito rápido.
"Deus queira que não tenha não tenha sido um dos nossos" foi a primeira coisa que pensei (muitas pessoas costumam deixar os seus animais connosco quando se ausentam por um motivo qualquer, uma vez que nos servimos dos nossos canis como um hotel para cães). "E se foi o Alex?" pensei de seguida.
-AAAH! -rugi - Como podes ser tão mau?!
Atirei-me para cima dele e mordi-o com tanta força que penso que tenha arrancado um pedaço de carne da sua perna.
Acordei imediatamente depois, encharcada de suor.
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