Lembro-me de muito pouco deste sonho. Resumindo, a minha mãe tinha dado guarida a um grupo de zombies e fazia todos os possíveis para (re)inseri-los na sociedade, argumentando que os zombies também tinham sentimentos, e ficavam tristes por serem rejeitados.
Segundo ela dizia, eles eram inofensivos, ao contrário do que as histórias contam. Convivia com eles uma boa parte do dia, e estava empenhada em ensinar-lhes danças de salão (que ela própria não sabe).
Estava também decidida a apresentá-los a mim e ao meu irmão, insistindo que tentássemos conversar com eles (apesar de eles não serem capazes de responder). Naturalmente, eu desatava a correr assim que via um daqueles cadáveres ambulantes a arrastar-se na minha direcção. Isso enfurecia tanto a minha mãe como os mortos, e enquanto me afastava eu conseguia ouvi-la a ela a gritar para que eu voltasse e a eles a grunhir incongruências.
A certa altura, um zombie com um grande chapéu de palha enfeitado com flores tentou aproximar-se de mim. Incapaz de soltar sequer um grito, afastei-me com um salto ágil e caí, rolando no chão. Entretanto, o monstro, que tinha ficado muito ofendido, começou a perseguir-me com os braços esticados.
Levantei-me e corri o mais depressa que podia em direcção aos canis. No caminho, agarrei o meu irmão pelo pulso da camisola e ordenei-lhe que viesse comigo.
Fechá-mo-nos atrás das grades e vimos, de olhos arregalados, vários mortos a avançarem em direcção do canil, furiosos.
-Carolina! Tomás! - vociferou a minha mãe - Saiam já daí e peçam desculpa!
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
terça-feira, 23 de agosto de 2011
O que estamos dispostos a fazer para conseguir uma casa em tempos de crise...
Esta noite, vi-me a mim e à minha família a visitar a casa-museu de um famoso realizador de filmes de terror, que, fascinado pela sua arte, transformara o seu lar num verdadeiro cenário de filmes de terror clássicos.
As paredes altíssimas eram feitas de grande blocos de pedra cinzenta, e, se bem me lembro, em certas divisões não havia tecto: olhando para cima, conseguíamos ver o céu, coberto de espessas nuvens cinzentas. Não se viam janelas, e os candelabros estavam todos apagados e envoltos em teias de aranha. Uma luz pálida, quase gélida, entrava através das divisões sem tecto ou de minúsculos buracos nas paredes. O chão era umas vezes de madeira, outras de pedra, mas sempre frio como um morto.
Era difícil acreditar que um dia alguém tinha habitado aquela casa.
Ao entrarmos, passámos sob um colossal arco lanceolado,e deparámos-nos com um poço tão fundo que, ao olharmos para baixo, víamos apenas escuridão. Dir-se-ia que ia dar ao próprio inferno.
A única maneira de transpor aquele vazio era atravessá-lo sobre portões metálicos constituídos por finíssimas barras que se cruzavam vertical e horizontalmente. Estas plataformas estavam em constante movimento, deslocando-se ao longo de várias e longas divisões, sobrepondo-se umas às outras, afastando-se subitamente, e repletas de armadilhas escondidas. A qualquer momento, podíamos cair no abismo negro que estava sob os nossos pés.
Felizmente, conseguíamos chegar em segurança a uma sala ampla, da qual apenas uma parede permanecia inteira: nela, havia quatro ou cinco janelas lanceoladas, tão altas e esguias que ocupavam a parede desde o chão ao tecto. Tratavam-se de vitrais coloridos em tons de roxos e azuis. Não havia tecto na sala... Lembro-me que sobre ela o céu era lilás, e, por detrás de algumas nuvens, viam-se uma ou duas estrelas, que irradiavam uma luz muito fraca.
Diante da janela, havia uma elaborada (e, honestamente, pirosa) estátua de uma raposa branca ou um arminho. Diante dela, havia um cálice com o que à primeira vista poderiam parecer pauzinhos queimados, e uma inscrição com instruções deixadas pelo falecido dono da casa. Segundo a inscrição, o seu espírito continuava a divagar pelas paredes da casa, sob a forma de um fantasma de uma raposa branca ou de um arminho. ISto era possível apenas devido à estátua que tínhamos diante dos nossos olhos. Estava também escrito que o espírito estava disposto a deixar a sua casa ao fã que lhe escrevesse a carta mais comovente de todas. O seu único desejo era que não mudassem em nada o aspecto da casa nem destruíssem a sua estátua.
"Está bem, está..." pensei "Se fosse eu, era a primeira coisa que ia à vida".
Depois, porém, pus-me a pensar... Eu precisava de uma casa, e, apesar de tudo, esta era de borla. Decidi tentar a minha sorte. Inclinei-me sobre o cálice, para perceber se era lá que os fãs deixavam as suas cartas, e constatei que aqueles poucos pauzinhos queimados eram na verdade pequenos rolos de pergaminho.
Nesse momento, o fantasma do antigo proprietário apareceu diante de mim. Parecia feito de fumo: a sua forma alterava-se constantemente, e era difícil perceber se tinha se seria azul ou branco. Os seus olhos ora pareciam vazios, ora imensamente tristes. Ao afastar-me, reparei que havia no cachaço do bicho um grande buraco negro, à volta do qual o pêlo estava manchado de sangue escuro. Era o buraco deixado pela bala que tinha morto o homem.
Estava cheia de medo, mas, enquanto me afastava, consegui reunir coragem suficiente para me voltar para trás, piscar o olho ao espírito e dizer:
-Eu vejo-te depois, ok? Trago-te a minha carta daqui a uns dias.
Ele olhou para mim com uma expressão vaga, depois desapareceu.
Voltar a sair daquela casa sombria foi muito mais complicado do que entrar. Quando tornei a aproximar-me das plataformas, gritei de medo, como se fosse incapaz de as atravessar. Quando me ouviu, um homem que já estava muito à minha frente correu para trás para me ajudar. Tinha uma grande "afro", era judeu, e suponho que se tratasse de um grande amigo de Zé Oliveira, namorado de uma tia minha.
-Não! Eu consigo! - gritei, quando percebi quais eram as suas intenções. Senti-me mal por fazê-lo arriscar a sua vida. Mas nada o deteve: aproximou-se de mim, deu-me a mão, e começou a andar comigo atrás dele, segurando sempre as suas duas mãos.
-Não pensem! - recomendou a minha mãe, já longe. - É preciso não pensar!
Depois de ela dizer isto resolvi seguir o meu instinto, e realmente tudo me pareceu mais fácil, até perceber que caminhávamos com os pés esquerdos e direitos em plataformas diferente, que aos poucos se iam afastando uma da outra.
-Oh meu Deus! Oh meus Deus! - murmurava eu, ao ver que não conseguia saltar para nenhuma das duas plataformas sem cair no abismo.
Para piorar a situação, eu e o meu companheiro apercebe-mo-nos de que Zé Oliveira se encontrava na mesma situação, pouco adiante. Só que estava imóvel, enquanto que nós éramos rapidamente impelidos na sua direcção.
O momento seguinte parecia uma cena retirada de um filme animado: o meu companheiro caíra e eu agarrara-o pelos braços, e Zé Oliveira, que caíra também, agarrara-se desesperadamente às suas pernas. Entretanto, eu estava prestes a fazer a espargata.
Tinha de me livrar o mais depressa possível daquele peso ou acabaríamos por mergulhar os três na escuridão.
Reuni todas as minhas forças (que na realidade são nenhumas)e consegui atirar os dois homens para uma plataforma onde estariam seguros. Os dois agradeceram-me, e comecei a ouvir aplausos ao meu lado: quatro membros de uma equipa de football americano (se bem que muito pouco robustos) aplaudiam a minha proeza, confortavelmente sentados em cadeiras de plástico montadas na plataforma metálica à minha direita.
Conseguimos sair sãos e salvos da casa, mas não sem que antes o Zé Olveira esbarrasse contra uma mesa onde estava servido um banquete sumptuoso, e tivesse que arrancar um garfo que tinha ficado espetado na sua perna esquerda após o acidente.
As paredes altíssimas eram feitas de grande blocos de pedra cinzenta, e, se bem me lembro, em certas divisões não havia tecto: olhando para cima, conseguíamos ver o céu, coberto de espessas nuvens cinzentas. Não se viam janelas, e os candelabros estavam todos apagados e envoltos em teias de aranha. Uma luz pálida, quase gélida, entrava através das divisões sem tecto ou de minúsculos buracos nas paredes. O chão era umas vezes de madeira, outras de pedra, mas sempre frio como um morto.
Era difícil acreditar que um dia alguém tinha habitado aquela casa.
Ao entrarmos, passámos sob um colossal arco lanceolado,e deparámos-nos com um poço tão fundo que, ao olharmos para baixo, víamos apenas escuridão. Dir-se-ia que ia dar ao próprio inferno.
A única maneira de transpor aquele vazio era atravessá-lo sobre portões metálicos constituídos por finíssimas barras que se cruzavam vertical e horizontalmente. Estas plataformas estavam em constante movimento, deslocando-se ao longo de várias e longas divisões, sobrepondo-se umas às outras, afastando-se subitamente, e repletas de armadilhas escondidas. A qualquer momento, podíamos cair no abismo negro que estava sob os nossos pés.
Felizmente, conseguíamos chegar em segurança a uma sala ampla, da qual apenas uma parede permanecia inteira: nela, havia quatro ou cinco janelas lanceoladas, tão altas e esguias que ocupavam a parede desde o chão ao tecto. Tratavam-se de vitrais coloridos em tons de roxos e azuis. Não havia tecto na sala... Lembro-me que sobre ela o céu era lilás, e, por detrás de algumas nuvens, viam-se uma ou duas estrelas, que irradiavam uma luz muito fraca.
Diante da janela, havia uma elaborada (e, honestamente, pirosa) estátua de uma raposa branca ou um arminho. Diante dela, havia um cálice com o que à primeira vista poderiam parecer pauzinhos queimados, e uma inscrição com instruções deixadas pelo falecido dono da casa. Segundo a inscrição, o seu espírito continuava a divagar pelas paredes da casa, sob a forma de um fantasma de uma raposa branca ou de um arminho. ISto era possível apenas devido à estátua que tínhamos diante dos nossos olhos. Estava também escrito que o espírito estava disposto a deixar a sua casa ao fã que lhe escrevesse a carta mais comovente de todas. O seu único desejo era que não mudassem em nada o aspecto da casa nem destruíssem a sua estátua.
"Está bem, está..." pensei "Se fosse eu, era a primeira coisa que ia à vida".
Depois, porém, pus-me a pensar... Eu precisava de uma casa, e, apesar de tudo, esta era de borla. Decidi tentar a minha sorte. Inclinei-me sobre o cálice, para perceber se era lá que os fãs deixavam as suas cartas, e constatei que aqueles poucos pauzinhos queimados eram na verdade pequenos rolos de pergaminho.
Nesse momento, o fantasma do antigo proprietário apareceu diante de mim. Parecia feito de fumo: a sua forma alterava-se constantemente, e era difícil perceber se tinha se seria azul ou branco. Os seus olhos ora pareciam vazios, ora imensamente tristes. Ao afastar-me, reparei que havia no cachaço do bicho um grande buraco negro, à volta do qual o pêlo estava manchado de sangue escuro. Era o buraco deixado pela bala que tinha morto o homem.
Estava cheia de medo, mas, enquanto me afastava, consegui reunir coragem suficiente para me voltar para trás, piscar o olho ao espírito e dizer:
-Eu vejo-te depois, ok? Trago-te a minha carta daqui a uns dias.
Ele olhou para mim com uma expressão vaga, depois desapareceu.
Voltar a sair daquela casa sombria foi muito mais complicado do que entrar. Quando tornei a aproximar-me das plataformas, gritei de medo, como se fosse incapaz de as atravessar. Quando me ouviu, um homem que já estava muito à minha frente correu para trás para me ajudar. Tinha uma grande "afro", era judeu, e suponho que se tratasse de um grande amigo de Zé Oliveira, namorado de uma tia minha.
-Não! Eu consigo! - gritei, quando percebi quais eram as suas intenções. Senti-me mal por fazê-lo arriscar a sua vida. Mas nada o deteve: aproximou-se de mim, deu-me a mão, e começou a andar comigo atrás dele, segurando sempre as suas duas mãos.
-Não pensem! - recomendou a minha mãe, já longe. - É preciso não pensar!
Depois de ela dizer isto resolvi seguir o meu instinto, e realmente tudo me pareceu mais fácil, até perceber que caminhávamos com os pés esquerdos e direitos em plataformas diferente, que aos poucos se iam afastando uma da outra.
-Oh meu Deus! Oh meus Deus! - murmurava eu, ao ver que não conseguia saltar para nenhuma das duas plataformas sem cair no abismo.
Para piorar a situação, eu e o meu companheiro apercebe-mo-nos de que Zé Oliveira se encontrava na mesma situação, pouco adiante. Só que estava imóvel, enquanto que nós éramos rapidamente impelidos na sua direcção.
O momento seguinte parecia uma cena retirada de um filme animado: o meu companheiro caíra e eu agarrara-o pelos braços, e Zé Oliveira, que caíra também, agarrara-se desesperadamente às suas pernas. Entretanto, eu estava prestes a fazer a espargata.
Tinha de me livrar o mais depressa possível daquele peso ou acabaríamos por mergulhar os três na escuridão.
Reuni todas as minhas forças (que na realidade são nenhumas)e consegui atirar os dois homens para uma plataforma onde estariam seguros. Os dois agradeceram-me, e comecei a ouvir aplausos ao meu lado: quatro membros de uma equipa de football americano (se bem que muito pouco robustos) aplaudiam a minha proeza, confortavelmente sentados em cadeiras de plástico montadas na plataforma metálica à minha direita.
Conseguimos sair sãos e salvos da casa, mas não sem que antes o Zé Olveira esbarrasse contra uma mesa onde estava servido um banquete sumptuoso, e tivesse que arrancar um garfo que tinha ficado espetado na sua perna esquerda após o acidente.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Canibalismo e civilizações perdidas
Há já muito tempo que não escrevo... Hoje, contudo, o sonho que vou contar fez-me notar a minha falta: estava numa sala de cinema muito longa e estreita. Era clara, acho que toda branca, mas estava um pouco escuro. Por vezes, era difícil perceber se estávamos realmente entre quatro paredes ou ao ar livre.
Comigo, estavam o meu irmão e a minha prima Ana. O filme que estávamos a ver era muito mau, para além de dolorosamente aborrecido. Por isso, apesar de já nos terem repreendido algumas vezes, nós continuávamos a falar.
A dada altura, Ana revelou-nos que se tinha chateado com uma amiga sua: a Inês, com quem passei uns dias à pouco tempo:
-Mas ela teve o que merecia: a Patrícia comeu-a!
Fui sacudida por um arrepio tão gelado que me fez doer o corpo. A Patrícia é outra das amigas de Ana, com quem também estive este Verão.
-O quê? - murmurei, incrédula.
-A Patrícia comeu-a. Ela e mais algumas amigas dela. Foi bem-feita!
Quase deixei de ouvir Ana, durante algum tempo. Sentia-me tonta, e estava prestes a vomitar.
Entretanto, Ana continuava a tagarelar:
-Cortaram-na aos bocadinhos, guardaram a carne num frigorífico e foram comendo. É que a Patrícia faz parte de uma seita canibal qualquer, sabes? Se alguém chateia uma dela... pronto! Mas foi bem-feita, foi bem-feita...
Como é que era possível que a Ana fosse amiga de uma pessoa assim? Porque não tinha revelado isto a mais ninguém? Estaria com medo? E como é que era possível que a polícia nunca tivesse descoberto qualquer vestígio de um crime tão macabro:
-Onde é que elas escondem os ossos? - lembrei-me de perguntar.
A Ana assumiu uma expressão pensativa, e acabou por me dizer que não sabia.
-Mas agora eu tenho de ter cuidado com elas... - disse-me ela, num tom subitamente sério - É que eu e a Patrícia chateá-mo-nos, sabes?
Quando ela me contou isto, apeteceu-me desatar a chorar. O Tomás, por seu turno, ficou animadíssimo, comentando com a nossa prima como era empolgante ela fazer parte de semelhante drama.
Entretanto, eu fiquei tão nervosa que desatei a comer qualquer coisa e a falar, pelo que fui expulsa da sala. Lembro-me que na altura em que me expulsaram apareceu no ecrã um homem de aspecto rude, com uma palhinha na boca. Lembrou-me o Chuck Norris. Estava num campo aberto, cheio de capim.
Dei comigo numa imensa cidade greco-romana, que aos pouco uma equipa de arqueólogos ia escavando.
Tudo estava intacto: as esculturas, os edifícios... Mas era tudo de um branco imaculado: todas as pinturas de cores vivas tinham desaparecido.
Acabei por encontrar o meu professor de animação Zepe, que, juntamente com um um ou dois companheiros, explorava o achado.
Segui-os à distância (provavelmente com medo que o meu professor me perguntasse alguma em relação a um trabalho em atraso). Passei as mãos por um mosaico lindíssimo, feito de pequenas pedrinhas de um verde-jade, macias como seda.
Zepe acabou por se aperceber da minha presença e foi ao meu encontro. Revelou-me que uma escavação semelhante àquela estava naquele momento a ser feita no jardim da quinta onde moro.
Incrédula, fui a correr para casa.
Quando vi que a parte bonita do nosso jardim tinha desaparecido, e que no seu lugar havia um buracão colossal, pensei como o tio e a mãe ficariam aborrecidos.
Lá em baixo, a pelo menos 25 metros da superfície, uma antiga cidade greco-romana era redescoberta.
"Será que pediram permissão ao tio para escavar no jardim dele?" pensei "Será que lhe estão a pagar para estar aqui?".
Desci. Aquele achado era agora usado como uma espécie de parque temático: tal como em Óbidos se fazem feiras medievais, ali deparei-me com uma feira greco-romana. Muitas pessoas usavam togas.
Ao fim de algum tempo parei junto de uma banca onde se vendia fruta, construída sobre uma estrutura de madeira improvisada. Sentei-me junto a uma cesta e pus-me a comer frutos secos (que na realidade detesto).
De volta a casa, cruzei-me com o meu padrasto e disse-lhe:
-Tio! Já sabes que havia uma cidade greco-romana in-tei-ri-nha debaixo do jardim?!
-Oh! Mas isso via-se logo! - retorquiu ele. Deduzi que tivesse descoberto tal coisa através das irregularidades do terreno.
Comigo, estavam o meu irmão e a minha prima Ana. O filme que estávamos a ver era muito mau, para além de dolorosamente aborrecido. Por isso, apesar de já nos terem repreendido algumas vezes, nós continuávamos a falar.
A dada altura, Ana revelou-nos que se tinha chateado com uma amiga sua: a Inês, com quem passei uns dias à pouco tempo:
-Mas ela teve o que merecia: a Patrícia comeu-a!
Fui sacudida por um arrepio tão gelado que me fez doer o corpo. A Patrícia é outra das amigas de Ana, com quem também estive este Verão.
-O quê? - murmurei, incrédula.
-A Patrícia comeu-a. Ela e mais algumas amigas dela. Foi bem-feita!
Quase deixei de ouvir Ana, durante algum tempo. Sentia-me tonta, e estava prestes a vomitar.
Entretanto, Ana continuava a tagarelar:
-Cortaram-na aos bocadinhos, guardaram a carne num frigorífico e foram comendo. É que a Patrícia faz parte de uma seita canibal qualquer, sabes? Se alguém chateia uma dela... pronto! Mas foi bem-feita, foi bem-feita...
Como é que era possível que a Ana fosse amiga de uma pessoa assim? Porque não tinha revelado isto a mais ninguém? Estaria com medo? E como é que era possível que a polícia nunca tivesse descoberto qualquer vestígio de um crime tão macabro:
-Onde é que elas escondem os ossos? - lembrei-me de perguntar.
A Ana assumiu uma expressão pensativa, e acabou por me dizer que não sabia.
-Mas agora eu tenho de ter cuidado com elas... - disse-me ela, num tom subitamente sério - É que eu e a Patrícia chateá-mo-nos, sabes?
Quando ela me contou isto, apeteceu-me desatar a chorar. O Tomás, por seu turno, ficou animadíssimo, comentando com a nossa prima como era empolgante ela fazer parte de semelhante drama.
Entretanto, eu fiquei tão nervosa que desatei a comer qualquer coisa e a falar, pelo que fui expulsa da sala. Lembro-me que na altura em que me expulsaram apareceu no ecrã um homem de aspecto rude, com uma palhinha na boca. Lembrou-me o Chuck Norris. Estava num campo aberto, cheio de capim.
Dei comigo numa imensa cidade greco-romana, que aos pouco uma equipa de arqueólogos ia escavando.
Tudo estava intacto: as esculturas, os edifícios... Mas era tudo de um branco imaculado: todas as pinturas de cores vivas tinham desaparecido.
Acabei por encontrar o meu professor de animação Zepe, que, juntamente com um um ou dois companheiros, explorava o achado.
Segui-os à distância (provavelmente com medo que o meu professor me perguntasse alguma em relação a um trabalho em atraso). Passei as mãos por um mosaico lindíssimo, feito de pequenas pedrinhas de um verde-jade, macias como seda.
Zepe acabou por se aperceber da minha presença e foi ao meu encontro. Revelou-me que uma escavação semelhante àquela estava naquele momento a ser feita no jardim da quinta onde moro.
Incrédula, fui a correr para casa.
Quando vi que a parte bonita do nosso jardim tinha desaparecido, e que no seu lugar havia um buracão colossal, pensei como o tio e a mãe ficariam aborrecidos.
Lá em baixo, a pelo menos 25 metros da superfície, uma antiga cidade greco-romana era redescoberta.
"Será que pediram permissão ao tio para escavar no jardim dele?" pensei "Será que lhe estão a pagar para estar aqui?".
Desci. Aquele achado era agora usado como uma espécie de parque temático: tal como em Óbidos se fazem feiras medievais, ali deparei-me com uma feira greco-romana. Muitas pessoas usavam togas.
Ao fim de algum tempo parei junto de uma banca onde se vendia fruta, construída sobre uma estrutura de madeira improvisada. Sentei-me junto a uma cesta e pus-me a comer frutos secos (que na realidade detesto).
De volta a casa, cruzei-me com o meu padrasto e disse-lhe:
-Tio! Já sabes que havia uma cidade greco-romana in-tei-ri-nha debaixo do jardim?!
-Oh! Mas isso via-se logo! - retorquiu ele. Deduzi que tivesse descoberto tal coisa através das irregularidades do terreno.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
MAIS UM APOCALIPSE ZOMBIE (isto começa a preocupar-me)
Costumo ter várias vezes o mesmo sonho, e muitas vezes até gosto: é como ler um capítulo de um livro, pô-lo de parte, e mais tarde voltar a pegar nele para ler mais um capítulo ou dois. Mas já começo a estranhar esta história dos apocalipses zombies... Até porque os sonhos estão a tornar-se cada vez mais violentos.
Infelizmente, já passou demasiado tempo desde que tive este último sonho para me lembrar dele com todo o pormenor.
Mas sei que tudo começou numa praia... Uma praia muito estranha, para dizer a verdade: ficava dentro de uma pequena sala de paredes brancas (ou seria apenas um nevoeiro muito espesso?).
Eu estava na água, a apanhar as conchas que as ondas arrastavam para junto dos meus pés. A água era muito transparente, e através dela viam-se perfeitamente as algas, as conchas, as pedras...
Quando estava voltada para o mar, ficavam à minha direita alguns cadeirões, e mesmo uma estante cheia de livros. Grande parte da minha família estava aí. Lembro-me particularmente bem dos meus avós.
Junto de mim estavam algumas crianças, que não sei se eram estranhos, ou os meus primos e o meu irmão (creio que eram eles, apesar de na realidade a nossa diferença de idades ser muito reduzida).
Connosco, estava um adulto. Era um homem, e usava calções de banho curtos e justo, às riscas brancas e azuis. Umas vezes era o meu pai, outras, um tio meu (o tio Zé Marques). Não tinha paciência nenhuma para nós, e não se esforçava para o esconder: fazia constantemente comentários cépticos que me irritavam.
Apesar de estarmos todos juntos, e ainda por cima na praia, o ambiente era pesado. A única palavra que me ocorre para o descrever é "cinzento".
A maré trazia à costa objectos cada vez mais estranhos, que eu apanhava ansiosamente. No entanto, fui obrigada a abandoná-los quando a minha família me chamou para me dizer que "tínhamos de ir embora". Eu não sabia porquê, aliás, acho que ninguém sabia. Mas nenhum de nós questionou esta decisão.
De repente, a praia desaparecera, e estávamos na casa dos meus avós, em Setúbal.
Percorri o corredor até ao último quarto, enquanto na sala a minha família me dizia para me despachar. O último quarto da casa dos avós era agora o meu quarto da casa de Massamá. Consigo pensar em dezenas de objectos que gostaria de levar comigo se algum dia fosse obrigada a fugir de minha casa, mas, neste sonho, nem sequer me lembrei deles: sem hesitar, fui até à aparelhagem, e retirei, de um pequeno esconderijo, um livro. Era um livro minúsculo e feio, com uma capa castanho-dourada de textura rude. Abri o livro, e quando o fiz, uma música lúgubre e sombria começou a tocar. Em cada página do livro havia uma fotografia de um zombie: aquele tratava do verdadeiro livro dos mortos. Lá, estavam todos os mortos-vivos que tínhamos de abater, de uma vez por todas. Sempre que um deles morria, uma página desaparecia. Sempre que uma pessoa se convertia num deles, aparecia mais uma página.
Eu era a responsável pelo livro.
Fechei-o, perturbada pela música.
Corri de novo para a minha família, que, na sala da casa dos meus avós, esperava por mim. Já tinham os casacos vestidos e não pareciam mais ansiosos por partir do que numa das nossas habituais reuniões familiares.
Lembro-me de muito pouco a partir do momento em que passámos pela porta: sei que a determinada altura eu era uma homem branco que sobrevivia a um acidente de automóvel e logo a seguir escapava a dois zombies. Depois, era novamente eu própria, e atravessava um pequeno campo de basquetebol cercado por grades em Massamá. Estavam lá dois ou três zombies por que passei sem que me dessem a menor importância. Porém, atrás de mim vinha uma pequena menina negra. Tinha o cabelo preso em dois totós, usava um adorável vestido cor-de-rosa e uma capa vermelha que a fazia parecer o capuchinho vermelho. Trazia consigo um saco de gomas.
Quando as duas saímos do campo de basquetebol, uma zombie agarrou-a e puxou-a de encontro a si. Era o cadáver de uma mulher velha e raquítica, cuja pele pálida caía aos poucos.
-Candy! - gritou ela, enfiando a mão no saco de gomas da menina e levando várias à boca - Candy! - tornou a gritar, empurrando os restos dos doces que enfiara na própria boca para a da menina.
A criança tentou gritar quando a mão putrefacta se colou à boca dela, e gritou novamente quando a velha começou a comer-lhe o peito.
Em pânico, subi por um candeeiro de rua acima com a agilidade de um gato.
No topo, tornei-me um homem negro,um pouco gordo e calvo.
Ao olhar para baixo, vi dois zombies a contornar o candeeiro, gemendo e grunhindo,à espera que eu descesse.
-Carolina!
Alguém chamava o meu nome! Olhei imediatamente na direcção do som: era Catarina!
-Carolina, salta! Não tenhas medo! Anda!
Estava cheia de medo, mas eu confio na Catarina. Por isso, saltei.
Assim que os meus pés tocaram no chão, desatei a correr. Ou pelo menos, a tentar: por algum motivo, eu não consigo correr nos meus sonhos, salvo raras excepções. Limito-me a dar alguns passinhos pequeninos muito depressa.
Mesmo assim, consegui escapar aos zombies quando eles me perseguiram.
Como eu e a Catarina corremos em direcções opostas, não sei o que lhe aconteceu.
Quanto a mim, dentro de pouco pouco estava em minha casa (em Massamá). E era eu própria outra vez.
Lá, corri o corredor até ao fim, e, deparei-me com um zombie a comer alguém, no quarto do meu irmão.
Sem perder tempo, tranquei-me no meu quarto, chorando enquanto ouvia a vítima a gritar.
Horas mais tarde, a minha família chegou e abriu a porta do meu quarto:
-Está um zombie cá em casa!
-Não... Já deve ter saído. -tranquilizou-me o meu irmão.
Na cozinha, encontrei-me com a minha mãe, uma tia minha, e a minha avó. Do joelho para baixo, a sua perna esquerda estava reduzida a tiras de carne e pele. Foi então que percebi que a pessoa que o zombie estava a comer no quarto do meu irmão era a minha avó. Senti-me esmagada pela culpa, e rezei para que ela não me tivesse visto fugir enquanto ela gritava por socorro.
Todos juntos, tratámos a ferida dela e ligámo-la. Decidimos que aquela casa seria o nosso lar, e que seria nela que tentaríamos sobreviver.
Pouco depois, toda a gente saiu de casa, excepto eu e o meu irmão. Estávamos os dois na cozinha, ele junto à janela, eu perto da mesa.
Foi então que apareceram dois zombies: não faço ideia como tinham entrado na nossa casa, mas tinham conseguido. Eram bizarros: um deles nascia das costas do outro, existindo apenas da cintura para cima.
-Eu tenho uma faca! - gritei, agarrando um cutel que estava sobre a mesa. Estava decidida a não me aproximar daqueles montros, pelo que atirei a faca com todo o meu ímpeto, apontando para o peito (não sei porque é que não tentei acertar na cabeça, já que é a única maneira de matar um zombie). Infelizmente, outra das características dos meus sonhos é que perco completamente a força... e o cutel caiu no chão mesmo aos pés da criatura.
Fiquei boquiaberta, paralisada pelo medo, a olhar ora para o cutel, ora para o monstro.
Ele passou por mim e caminhou direitinho ao meu irmão.
-Não! - gritei, e, vencendo o medo e a repugnância, agarrei a criatura pela cintura, lutando para a afastar do meu irmão enquanto tentava escapar às unhas e aos dentes do zombie que nascia das costas do outro.
-Tomás! - gritei - Mata-o! Depressa!
-Espera... -retorquiu o meu irmão, num tom tranquilo. -Tenho de escolher a faca certa... - explicou ele, enquanto revistava o seu estojo de facas (ele está a estudar para ser chef de cozinha).
-Despacha-te!
-Olha, toma esta. - disse ele, estendendo-me uma faca com toda a calma. Comecei imediatamente a esfaquear a garganta e o peito do zombie que estava colado às costas do outro. Ele olhou-me com algum desdém, e, agarrou o meu braço com força, puxando-o em direcção aos seus dentes podres.
-Não! - guinchei. Mas não pude escapar: se o fizesse, o monstro apanharia o meu irmão.
Olhando-me nos olhos, o zombie abocanhou a minha carne e puxou com prazer. Lembro-me claramente da dor.
Pouco depois, o meu irmão matou a criatura, e fugiu de mim a correr. Soube que ia dizer à minha família que eu tinha sido infectada, e que para o bem de todos era preciso matar-me.
Eu queria viver.
Por isso, corri para a bancada da coziha, escolhi um faca que ainda não tinha sido usada para matar nenhum zombie, e comecei a cortar o meu braço (tendo o cuidado de o fazer sobre uma tábua). Tinha esperanças que a vírus não tivesse chegado a espalhar-se pelo resto do corpo. Era uma ideia tôla, mas tinha de tentar.
Estava tudo sujo com o meu sangue. A dor era atroz.
Mesmo assim, cortei mais um bocado, quase rente ao cotovelo.
Acordei pouco depois... Lembro-me da dor, e voltar a sentir a mão, aos poucos e poucos.
pedras = ossos
família = vida
Infelizmente, já passou demasiado tempo desde que tive este último sonho para me lembrar dele com todo o pormenor.
Mas sei que tudo começou numa praia... Uma praia muito estranha, para dizer a verdade: ficava dentro de uma pequena sala de paredes brancas (ou seria apenas um nevoeiro muito espesso?).
Eu estava na água, a apanhar as conchas que as ondas arrastavam para junto dos meus pés. A água era muito transparente, e através dela viam-se perfeitamente as algas, as conchas, as pedras...
Quando estava voltada para o mar, ficavam à minha direita alguns cadeirões, e mesmo uma estante cheia de livros. Grande parte da minha família estava aí. Lembro-me particularmente bem dos meus avós.
Junto de mim estavam algumas crianças, que não sei se eram estranhos, ou os meus primos e o meu irmão (creio que eram eles, apesar de na realidade a nossa diferença de idades ser muito reduzida).
Connosco, estava um adulto. Era um homem, e usava calções de banho curtos e justo, às riscas brancas e azuis. Umas vezes era o meu pai, outras, um tio meu (o tio Zé Marques). Não tinha paciência nenhuma para nós, e não se esforçava para o esconder: fazia constantemente comentários cépticos que me irritavam.
Apesar de estarmos todos juntos, e ainda por cima na praia, o ambiente era pesado. A única palavra que me ocorre para o descrever é "cinzento".
A maré trazia à costa objectos cada vez mais estranhos, que eu apanhava ansiosamente. No entanto, fui obrigada a abandoná-los quando a minha família me chamou para me dizer que "tínhamos de ir embora". Eu não sabia porquê, aliás, acho que ninguém sabia. Mas nenhum de nós questionou esta decisão.
De repente, a praia desaparecera, e estávamos na casa dos meus avós, em Setúbal.
Percorri o corredor até ao último quarto, enquanto na sala a minha família me dizia para me despachar. O último quarto da casa dos avós era agora o meu quarto da casa de Massamá. Consigo pensar em dezenas de objectos que gostaria de levar comigo se algum dia fosse obrigada a fugir de minha casa, mas, neste sonho, nem sequer me lembrei deles: sem hesitar, fui até à aparelhagem, e retirei, de um pequeno esconderijo, um livro. Era um livro minúsculo e feio, com uma capa castanho-dourada de textura rude. Abri o livro, e quando o fiz, uma música lúgubre e sombria começou a tocar. Em cada página do livro havia uma fotografia de um zombie: aquele tratava do verdadeiro livro dos mortos. Lá, estavam todos os mortos-vivos que tínhamos de abater, de uma vez por todas. Sempre que um deles morria, uma página desaparecia. Sempre que uma pessoa se convertia num deles, aparecia mais uma página.
Eu era a responsável pelo livro.
Fechei-o, perturbada pela música.
Corri de novo para a minha família, que, na sala da casa dos meus avós, esperava por mim. Já tinham os casacos vestidos e não pareciam mais ansiosos por partir do que numa das nossas habituais reuniões familiares.
Lembro-me de muito pouco a partir do momento em que passámos pela porta: sei que a determinada altura eu era uma homem branco que sobrevivia a um acidente de automóvel e logo a seguir escapava a dois zombies. Depois, era novamente eu própria, e atravessava um pequeno campo de basquetebol cercado por grades em Massamá. Estavam lá dois ou três zombies por que passei sem que me dessem a menor importância. Porém, atrás de mim vinha uma pequena menina negra. Tinha o cabelo preso em dois totós, usava um adorável vestido cor-de-rosa e uma capa vermelha que a fazia parecer o capuchinho vermelho. Trazia consigo um saco de gomas.
Quando as duas saímos do campo de basquetebol, uma zombie agarrou-a e puxou-a de encontro a si. Era o cadáver de uma mulher velha e raquítica, cuja pele pálida caía aos poucos.
-Candy! - gritou ela, enfiando a mão no saco de gomas da menina e levando várias à boca - Candy! - tornou a gritar, empurrando os restos dos doces que enfiara na própria boca para a da menina.
A criança tentou gritar quando a mão putrefacta se colou à boca dela, e gritou novamente quando a velha começou a comer-lhe o peito.
Em pânico, subi por um candeeiro de rua acima com a agilidade de um gato.
No topo, tornei-me um homem negro,um pouco gordo e calvo.
Ao olhar para baixo, vi dois zombies a contornar o candeeiro, gemendo e grunhindo,à espera que eu descesse.
-Carolina!
Alguém chamava o meu nome! Olhei imediatamente na direcção do som: era Catarina!
-Carolina, salta! Não tenhas medo! Anda!
Estava cheia de medo, mas eu confio na Catarina. Por isso, saltei.
Assim que os meus pés tocaram no chão, desatei a correr. Ou pelo menos, a tentar: por algum motivo, eu não consigo correr nos meus sonhos, salvo raras excepções. Limito-me a dar alguns passinhos pequeninos muito depressa.
Mesmo assim, consegui escapar aos zombies quando eles me perseguiram.
Como eu e a Catarina corremos em direcções opostas, não sei o que lhe aconteceu.
Quanto a mim, dentro de pouco pouco estava em minha casa (em Massamá). E era eu própria outra vez.
Lá, corri o corredor até ao fim, e, deparei-me com um zombie a comer alguém, no quarto do meu irmão.
Sem perder tempo, tranquei-me no meu quarto, chorando enquanto ouvia a vítima a gritar.
Horas mais tarde, a minha família chegou e abriu a porta do meu quarto:
-Está um zombie cá em casa!
-Não... Já deve ter saído. -tranquilizou-me o meu irmão.
Na cozinha, encontrei-me com a minha mãe, uma tia minha, e a minha avó. Do joelho para baixo, a sua perna esquerda estava reduzida a tiras de carne e pele. Foi então que percebi que a pessoa que o zombie estava a comer no quarto do meu irmão era a minha avó. Senti-me esmagada pela culpa, e rezei para que ela não me tivesse visto fugir enquanto ela gritava por socorro.
Todos juntos, tratámos a ferida dela e ligámo-la. Decidimos que aquela casa seria o nosso lar, e que seria nela que tentaríamos sobreviver.
Pouco depois, toda a gente saiu de casa, excepto eu e o meu irmão. Estávamos os dois na cozinha, ele junto à janela, eu perto da mesa.
Foi então que apareceram dois zombies: não faço ideia como tinham entrado na nossa casa, mas tinham conseguido. Eram bizarros: um deles nascia das costas do outro, existindo apenas da cintura para cima.
-Eu tenho uma faca! - gritei, agarrando um cutel que estava sobre a mesa. Estava decidida a não me aproximar daqueles montros, pelo que atirei a faca com todo o meu ímpeto, apontando para o peito (não sei porque é que não tentei acertar na cabeça, já que é a única maneira de matar um zombie). Infelizmente, outra das características dos meus sonhos é que perco completamente a força... e o cutel caiu no chão mesmo aos pés da criatura.
Fiquei boquiaberta, paralisada pelo medo, a olhar ora para o cutel, ora para o monstro.
Ele passou por mim e caminhou direitinho ao meu irmão.
-Não! - gritei, e, vencendo o medo e a repugnância, agarrei a criatura pela cintura, lutando para a afastar do meu irmão enquanto tentava escapar às unhas e aos dentes do zombie que nascia das costas do outro.
-Tomás! - gritei - Mata-o! Depressa!
-Espera... -retorquiu o meu irmão, num tom tranquilo. -Tenho de escolher a faca certa... - explicou ele, enquanto revistava o seu estojo de facas (ele está a estudar para ser chef de cozinha).
-Despacha-te!
-Olha, toma esta. - disse ele, estendendo-me uma faca com toda a calma. Comecei imediatamente a esfaquear a garganta e o peito do zombie que estava colado às costas do outro. Ele olhou-me com algum desdém, e, agarrou o meu braço com força, puxando-o em direcção aos seus dentes podres.
-Não! - guinchei. Mas não pude escapar: se o fizesse, o monstro apanharia o meu irmão.
Olhando-me nos olhos, o zombie abocanhou a minha carne e puxou com prazer. Lembro-me claramente da dor.
Pouco depois, o meu irmão matou a criatura, e fugiu de mim a correr. Soube que ia dizer à minha família que eu tinha sido infectada, e que para o bem de todos era preciso matar-me.
Eu queria viver.
Por isso, corri para a bancada da coziha, escolhi um faca que ainda não tinha sido usada para matar nenhum zombie, e comecei a cortar o meu braço (tendo o cuidado de o fazer sobre uma tábua). Tinha esperanças que a vírus não tivesse chegado a espalhar-se pelo resto do corpo. Era uma ideia tôla, mas tinha de tentar.
Estava tudo sujo com o meu sangue. A dor era atroz.
Mesmo assim, cortei mais um bocado, quase rente ao cotovelo.
Acordei pouco depois... Lembro-me da dor, e voltar a sentir a mão, aos poucos e poucos.
pedras = ossos
família = vida
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Este sonho tem pelo menos quatro anos: vivia com o meu pai na nossa casa.
Sonhei que estava na minha cama, que está encostada ao armário que divide o quarto ao meio.
Ouvi vozes do outro lado do armário:
-Cala-te, olha que acordas a miúda!
Ao ouvir isto, abri a boca para gritar pelo meu pai.
-Foda-se! -praguejaram as vozes.
Demasiado rápido para que eu conseguisse perceber do que se tratava, uma sombra surgiu detrás do armário, contornou a minha cama e segurou-me com dentes pontiagudos, que perfuraram a minha carne entre as costelas.
A dor era agonizante, e por mais que tentasse, eu não era capaz de emitir um som. "Vou morrer!" pensei.
Sonhei que estava na minha cama, que está encostada ao armário que divide o quarto ao meio.
Ouvi vozes do outro lado do armário:
-Cala-te, olha que acordas a miúda!
Ao ouvir isto, abri a boca para gritar pelo meu pai.
-Foda-se! -praguejaram as vozes.
Demasiado rápido para que eu conseguisse perceber do que se tratava, uma sombra surgiu detrás do armário, contornou a minha cama e segurou-me com dentes pontiagudos, que perfuraram a minha carne entre as costelas.
A dor era agonizante, e por mais que tentasse, eu não era capaz de emitir um som. "Vou morrer!" pensei.
Somos tão menosprezados que trabalhamos debaixo do chão
Este sonho foi anterior ao do cérebro. Aliás, tive-o mesmo antes dele... Suponho até que houvesse uma ligação entre os dois, se bem que eu não me lembre dela.
Tínhamos tido a última aula de animação, e estávamos a preparar-mo-nos para deixar o estúdio e partir de férias. Desligámos os computadores, arrumámos o furador de folhas, guardámos lápis, papéis...
Estava tão ocupada a pôr cada coisa no seu devido lugar que não me apercebi que, ao contrário da realidade (graças a Deus), não havia janelas na sala.
Quando terminámos, sacudimos as mãos, muito felizes, e passámos pela porta para um corredor muito escuro, cheio de motores, válvulas, e caldeiras.
Lá, havia, no centro, uma escada de metal, pela qual subimos um a um. O primeiro abriu uma portinha redonda semelhante à de um submarino. Ao passarmos por ela, chegávamos à superfície. Curiosamente, em vez de ficar na faculdade, o estúdio de animação situava-se no subsolo da Alameda D. Afonso Henriques, a qual subi durante três anos para chegar À António Arroio.
Quando já estávamos todos fora da sala, forrámos a abertura com cartão e fita-cola, antes de tornarmos a fechar a porta.
Pouco depois, o Rodrigo comunicou-nos, muito aflito, que se havia esquecido da borracha dentro da sala. Voltámos todos atrás, abrimos a porta e rasgámos o cartão com uma faca para que o rapaz pudesse passar e ir buscar a sua preciosa borracha.
Tínhamos tido a última aula de animação, e estávamos a preparar-mo-nos para deixar o estúdio e partir de férias. Desligámos os computadores, arrumámos o furador de folhas, guardámos lápis, papéis...
Estava tão ocupada a pôr cada coisa no seu devido lugar que não me apercebi que, ao contrário da realidade (graças a Deus), não havia janelas na sala.
Quando terminámos, sacudimos as mãos, muito felizes, e passámos pela porta para um corredor muito escuro, cheio de motores, válvulas, e caldeiras.
Lá, havia, no centro, uma escada de metal, pela qual subimos um a um. O primeiro abriu uma portinha redonda semelhante à de um submarino. Ao passarmos por ela, chegávamos à superfície. Curiosamente, em vez de ficar na faculdade, o estúdio de animação situava-se no subsolo da Alameda D. Afonso Henriques, a qual subi durante três anos para chegar À António Arroio.
Quando já estávamos todos fora da sala, forrámos a abertura com cartão e fita-cola, antes de tornarmos a fechar a porta.
Pouco depois, o Rodrigo comunicou-nos, muito aflito, que se havia esquecido da borracha dentro da sala. Voltámos todos atrás, abrimos a porta e rasgámos o cartão com uma faca para que o rapaz pudesse passar e ir buscar a sua preciosa borracha.
É só levantar a tampa... e eis o cérebro! Tã-ram!
Uma ou duas noites depois daqueles últimos sonhos incríveis, sonhei que, devido a um acidente qualquer, uma grande parte do meu crânio se partira: puxando o cabelo, era possível remover pele e osso e expor o meu cérebro.
Não sentia dor, mas temia que a qualquer momento aquele bocado da minha cabeça caísse e o cérebro fosse atingido por alguma coisa. Por isso, passava grande parte do tempo com as mãos na nuca, ou então curvada, de maneira a que o queixo ficasse apoiado sobre o peito. Assim, eu conseguia manter aquela bizarra tampa no devido lugar.
A certa altura comecei a sentir comichão ao redor do buraco, acompanhada de um ardor atroz. Corri para a casa de banho, e, desesperada, comecei a cortar o cabelo rente ao crânio (algo que eu jamais faria, pelo menos sem chorar).
Após duas ou três tesouradas, a maior parte do meu cabelo estava espalhada pelo chão, formando montinhos de brilhantes fios negros. Na minha cabeça, pouco restava da esplendorosa cabeleira: uma escassa franja tombava sobre a minha testa, e, por toda a cabeça, havia grandes peladas. Sobre a "tampa", não havia um único cabelo.
Examinei-a cuidadosamente e descobri três pequenos buracos, muito redondinhos, que, sinceramente, me fizeram lembrar uma bola de bowling, ou um côco.
Pouco depois, um dos buracos estava agrafado, certamente para fechar mais rapidamente. Entre a pele esticada, escorria um pequeno fio de sangue.
Ao descobrir-me com o cabelo rapado, a minha avó insistiu em ver o que se passava. Primeiro recusei, ansiosa de que ela removesse a "tampa" para examinar melhor a ferida. Depois, vencida pela sua insistência, acedi e voltei-me de costas para ela, dobrando os joelhos para que a ferida ficasse ao nível dos seus olhos.
-Não a tires. - repeti eu, pela milésima vez.
-Está descansada... -tranquilizou-me ela, enquanto palpava a minha cabeça com os dedos ágeis e as unhas pontiagudas.
Pouco depois, lembro-me de estar num local semelhante a uma estufa. Era muito quente e abafado, e havia plantas altas e de folhas largas por todo o lado.
Eu sentia-me exausta, e até piscar os olhos me custava. Mas tinha de fugir: estava em perigo.
Esforçava-me para me pôr de pé quando uma mão enorme me agarrou pela cintura e me puxou na sua direcção. Parecia-me que aquela mão ia esmagar-me com a sua força, e tudo o que consegui fazer no momento em que me agarrou foi soltar um estranho grunhido abafado, com o qual expulsei todo o que ar que tinha nos pulmões.
Incapaz de me debater, desisti, e lembro-me de estar bastante calma enquanto aquela criatura me levava de um lado para o outro, acabando por largar-me no meio das plantas.
Durante um bocado, fiquei ali, estendida no chão, sem me mexer.
Um homem apareceu, então, e colocou-me sobre o que parecia uma pequena bancada branca. Inclinou-se sobre mim e beijou-me. Desviei o rosto, mas ele segurou-mo e forçou-me a encará-lo. Com medo que a "tampa" caísse, tentei segurá-la, mas os meus braços não me obedeciam. Por fim, fechei os olhos e retribuí o beijo. Quando dei conta já estava a afastar as pernas, segurava o corpo dele com as mãos e puxava-o de encontro ao meu.
Pouco depois, acordei.
Não sentia dor, mas temia que a qualquer momento aquele bocado da minha cabeça caísse e o cérebro fosse atingido por alguma coisa. Por isso, passava grande parte do tempo com as mãos na nuca, ou então curvada, de maneira a que o queixo ficasse apoiado sobre o peito. Assim, eu conseguia manter aquela bizarra tampa no devido lugar.
A certa altura comecei a sentir comichão ao redor do buraco, acompanhada de um ardor atroz. Corri para a casa de banho, e, desesperada, comecei a cortar o cabelo rente ao crânio (algo que eu jamais faria, pelo menos sem chorar).
Após duas ou três tesouradas, a maior parte do meu cabelo estava espalhada pelo chão, formando montinhos de brilhantes fios negros. Na minha cabeça, pouco restava da esplendorosa cabeleira: uma escassa franja tombava sobre a minha testa, e, por toda a cabeça, havia grandes peladas. Sobre a "tampa", não havia um único cabelo.
Examinei-a cuidadosamente e descobri três pequenos buracos, muito redondinhos, que, sinceramente, me fizeram lembrar uma bola de bowling, ou um côco.
Pouco depois, um dos buracos estava agrafado, certamente para fechar mais rapidamente. Entre a pele esticada, escorria um pequeno fio de sangue.
Ao descobrir-me com o cabelo rapado, a minha avó insistiu em ver o que se passava. Primeiro recusei, ansiosa de que ela removesse a "tampa" para examinar melhor a ferida. Depois, vencida pela sua insistência, acedi e voltei-me de costas para ela, dobrando os joelhos para que a ferida ficasse ao nível dos seus olhos.
-Não a tires. - repeti eu, pela milésima vez.
-Está descansada... -tranquilizou-me ela, enquanto palpava a minha cabeça com os dedos ágeis e as unhas pontiagudas.
Pouco depois, lembro-me de estar num local semelhante a uma estufa. Era muito quente e abafado, e havia plantas altas e de folhas largas por todo o lado.
Eu sentia-me exausta, e até piscar os olhos me custava. Mas tinha de fugir: estava em perigo.
Esforçava-me para me pôr de pé quando uma mão enorme me agarrou pela cintura e me puxou na sua direcção. Parecia-me que aquela mão ia esmagar-me com a sua força, e tudo o que consegui fazer no momento em que me agarrou foi soltar um estranho grunhido abafado, com o qual expulsei todo o que ar que tinha nos pulmões.
Incapaz de me debater, desisti, e lembro-me de estar bastante calma enquanto aquela criatura me levava de um lado para o outro, acabando por largar-me no meio das plantas.
Durante um bocado, fiquei ali, estendida no chão, sem me mexer.
Um homem apareceu, então, e colocou-me sobre o que parecia uma pequena bancada branca. Inclinou-se sobre mim e beijou-me. Desviei o rosto, mas ele segurou-mo e forçou-me a encará-lo. Com medo que a "tampa" caísse, tentei segurá-la, mas os meus braços não me obedeciam. Por fim, fechei os olhos e retribuí o beijo. Quando dei conta já estava a afastar as pernas, segurava o corpo dele com as mãos e puxava-o de encontro ao meu.
Pouco depois, acordei.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
BPRD
Juntamente com um rapaz, ou melhor, um homem, eu estava a percorrer uma cidade de ruas estreitas, onde os prédios e as ruas se sobrepunham uns aos outros, formando uma espécie de montanha sobre a qual e dentro da qual habitavam pessoas. Era uma cidade fantástica, apesar de muito pobre e suja, e não me ocorrem palavras capazes de a descrever: não tenho escolha senão desenhá-la, um dia.
-Aqui. -disse-me o homem, depois de passarmos por um mendigo e subirmos alguns degraus.
Olhei à minha volta: estávamos num cantinho minúsculo, que teria, no máximo, 1x1m. Atrás de nós estavam a rua e as escadas por onde tínhamos entrado, ao nosso lado, outras escadas, que subiam. Apesar de haver um tecto, era óbvio que ainda estávamos na rua. As paredes era amarelas e tinham marcas de humidade, e de um dos lados havia um cano que descia encostado à parede. Terminava junto ao chão, e dele pingavam ritmadamente gotas de uma matéria imunda.
-Não.
-Não?! - ele não levantou a voz, mas era evidente que estava irritadíssimo. Devia estar mortinho por me dar uma sova.
-Queres sexo, não queres? - ele respondeu lançando-me um olhar faminto. - Então arranja um lugar. - retorqui. -E um preservativo. - acrescentei.
Ele resmungou qualquer coisa entredentes, voltou-me as costas e subiu as escadas que estavam ao nosso lado.
Sei que não era uma prostitua: havia alguma coisa entre mim e aquele homem. Mesmo que não fosse amor. O que nos faltava, era um lugar decente para fazermos sexo.
Eu segui-o. Era colossal: sou uma mulher alta, e, no entanto, dava-lhe pelo peito. Tinha ombros muito largos, e músculos inchados. Esbarrar contra ele devia ser semelhante a esbarrar com uma parede.
Um estrondo abalou a cidade. Apoiá-mo-nos nas paredes e desatámos a correr. Subitamente, nunca houvera nada entre nós: éramos dois colegas de trabalho, e a nossa missão era destruir o monstro que atacava a cidade.
O meu parceiro, muito mais forte que eu, subiu agilmente as escadas até um estreito corredor com grandes janelas lanceoladas. Como estas não tinham vidro, agarrou-se com uma mão à fachada do edifício e saltou para o parapeito. Estava a cerca de cinquenta metros do chão, mas isso não o perturbava nem um pouco: estava disposto a enfrentar aquela criatura ali mesmo.
Num repente, era Hellboy, que saltou e aterrou sobre uma superfície invisível que esmurrou vezes sem conta com a sua gigantesca manápula de pedra, até que a besta sucumbiu e caiu sobre o chão da cidade. Momentos antes de o monstro desfalecer, Hellboy saltou novamente para o parapeito da janela.
Entretanto, eu corria pelas ruas da cidade a caminho da sede da organização para a qual eu, Hellboy, e curiosamente Diogo (um colega meu), trabalhávamos.
Diogo estava atrasado devido a uma multidão que se acumulara ao redor da besta morta e não o deixava passar. Um jovem rapaz agarrou-se a ele muito entusiasticamente e pediu-lhe que o deixasse fazer parte da nossa equipa. Diogo concordou, mas decidiu que antes de o rapaz se juntar a nós deveria ouvir algumas regras... Por isso, pôs-se a descrever-lhe os poderes que ele podia usar ou não (suponho que não era possível duas pessoas usarem o mesmo poder, apesar de terem a hipótese de escolher qual o poder que queriam).
Entretanto, os dois encontraram-me no cimo de uma rua, a subir a uma extensa e larga escada que conduzia à sede.
-Vá, Diogo, pára de ser o miúdo que decide que pokémons é que os outros podem ser.
Dito isto, continuei a subir.
Tinha imenso medo de cair, pelo que o fazia bem lentamente. Tanto, que devo ter irritado Hellboy, que aparentemente subia atrás de mim. Ultrapassou-me tão rapidamente que só me lembro de ver a ponta da sua cauda vermelha agitar-se ao meu lado.
-Ei! Eu sou fraquinha! -justifiquei-me.
Só me lembro disto.
Esta deve ser a história de super-heróis mais ridícula de sempre. Tem tudo para o ser: uma absurda mistura dos filmes Hellboy e Cloverfield, uma série de membros inúteis numa equipa que mais parece um clube de crianças...
E eu nem sequer cheguei a descobrir qual era o meu poder...
Bem, mas foi divertido. E aquela cidade era muito gira.
-Aqui. -disse-me o homem, depois de passarmos por um mendigo e subirmos alguns degraus.
Olhei à minha volta: estávamos num cantinho minúsculo, que teria, no máximo, 1x1m. Atrás de nós estavam a rua e as escadas por onde tínhamos entrado, ao nosso lado, outras escadas, que subiam. Apesar de haver um tecto, era óbvio que ainda estávamos na rua. As paredes era amarelas e tinham marcas de humidade, e de um dos lados havia um cano que descia encostado à parede. Terminava junto ao chão, e dele pingavam ritmadamente gotas de uma matéria imunda.
-Não.
-Não?! - ele não levantou a voz, mas era evidente que estava irritadíssimo. Devia estar mortinho por me dar uma sova.
-Queres sexo, não queres? - ele respondeu lançando-me um olhar faminto. - Então arranja um lugar. - retorqui. -E um preservativo. - acrescentei.
Ele resmungou qualquer coisa entredentes, voltou-me as costas e subiu as escadas que estavam ao nosso lado.
Sei que não era uma prostitua: havia alguma coisa entre mim e aquele homem. Mesmo que não fosse amor. O que nos faltava, era um lugar decente para fazermos sexo.
Eu segui-o. Era colossal: sou uma mulher alta, e, no entanto, dava-lhe pelo peito. Tinha ombros muito largos, e músculos inchados. Esbarrar contra ele devia ser semelhante a esbarrar com uma parede.
Um estrondo abalou a cidade. Apoiá-mo-nos nas paredes e desatámos a correr. Subitamente, nunca houvera nada entre nós: éramos dois colegas de trabalho, e a nossa missão era destruir o monstro que atacava a cidade.
O meu parceiro, muito mais forte que eu, subiu agilmente as escadas até um estreito corredor com grandes janelas lanceoladas. Como estas não tinham vidro, agarrou-se com uma mão à fachada do edifício e saltou para o parapeito. Estava a cerca de cinquenta metros do chão, mas isso não o perturbava nem um pouco: estava disposto a enfrentar aquela criatura ali mesmo.
Num repente, era Hellboy, que saltou e aterrou sobre uma superfície invisível que esmurrou vezes sem conta com a sua gigantesca manápula de pedra, até que a besta sucumbiu e caiu sobre o chão da cidade. Momentos antes de o monstro desfalecer, Hellboy saltou novamente para o parapeito da janela.
Entretanto, eu corria pelas ruas da cidade a caminho da sede da organização para a qual eu, Hellboy, e curiosamente Diogo (um colega meu), trabalhávamos.
Diogo estava atrasado devido a uma multidão que se acumulara ao redor da besta morta e não o deixava passar. Um jovem rapaz agarrou-se a ele muito entusiasticamente e pediu-lhe que o deixasse fazer parte da nossa equipa. Diogo concordou, mas decidiu que antes de o rapaz se juntar a nós deveria ouvir algumas regras... Por isso, pôs-se a descrever-lhe os poderes que ele podia usar ou não (suponho que não era possível duas pessoas usarem o mesmo poder, apesar de terem a hipótese de escolher qual o poder que queriam).
Entretanto, os dois encontraram-me no cimo de uma rua, a subir a uma extensa e larga escada que conduzia à sede.
-Vá, Diogo, pára de ser o miúdo que decide que pokémons é que os outros podem ser.
Dito isto, continuei a subir.
Tinha imenso medo de cair, pelo que o fazia bem lentamente. Tanto, que devo ter irritado Hellboy, que aparentemente subia atrás de mim. Ultrapassou-me tão rapidamente que só me lembro de ver a ponta da sua cauda vermelha agitar-se ao meu lado.
-Ei! Eu sou fraquinha! -justifiquei-me.
Só me lembro disto.
Esta deve ser a história de super-heróis mais ridícula de sempre. Tem tudo para o ser: uma absurda mistura dos filmes Hellboy e Cloverfield, uma série de membros inúteis numa equipa que mais parece um clube de crianças...
E eu nem sequer cheguei a descobrir qual era o meu poder...
Bem, mas foi divertido. E aquela cidade era muito gira.
domingo, 22 de maio de 2011
Outro apocalipse zombie
Esta última noite foi incrível (no que concerne a sonhos... porque não saí de casa e dormi com o meu irmão)! Vivi duas aventuras fantásticas, uma após a outra!
A primeira passava-se durante um apocalipse zombie. Bem, na verdade, não era um apocalipse... Porque a vida continuava a decorrer normalmente: bastavam alguns cuidados para a população viva evitar qualquer contacto com a morta.
Ainda assim, eu tinha imenso medo de sair de casa. Todavia, quando a minha mãe chegou a casa, insistiu para que eu fosse comprar pão. Fiz "olhinhos-de-bambi", choraminguei, chantageei, mas não me serviu de nada.
Com as pernas a tremer, meti-me no elevador e saí no andar errado (no prédio de Massamá há dois andares que dão acesso à rua). Atravessei o jardim, percorri as ruas, até chegar à estação de comboios de Monte-Abraão. Só depois de entrar num comboio e este iniciar a sua marcha é que me apercebi que estava a seguir um caminho completamente errado.
Aborrecida de morte por me ter enganado, saí na estação seguinte, decidida a entrar no primeiro comboio que seguisse no sentido contrário, para poder regressar a casa.
No entanto, não sei como, deparei-me com um grupo de pessoas feridas e assustadas que temia a chegada de zombies a qualquer hora. Não consegui partir sem os ajudar.
Depois, só me lembro de estar numa casa, mais especificamente numa cozinha apertada, com duas portas: uma em cada extremidade. Uma delas dava para a rua, e eu estava apoiada contra ela, usando o meu peso para impedir um grupo de zombies famintos de entrar. Tinha medo. Tanto medo.
Estava comigo uma mulher grávida, o respectivo marido, e um outro homem. Ela tinha cabelo loiro e curto, preso num minúsculo rabo-de-cavalo. Não me lembro do seu marido. O outro homem era bonito, tinha o cabelo castanho curto e a barba por fazer.
O resto do grupo tinha-nos deixado: quando perceberam que a mulher grávida não podia fugir dali a tempo de escapar aos zombies, deixaram-nos para trás.
-AAAAH!- gritei, quando vi uma série de dedos putrefactos passar pela porta.
Eu e a mulher grávida atirá-mo-nos de costas contra a porta várias vezes, e assim que o monstro recuou, trancámos a porta e deixámo-nos cair onde estávamos: ela encostada à porta e eu a uma bancada.
Entretanto, os dois homens não se mexeram: limitaram-se a olhar para nós boquiabertos, com os olhos arregalados de medo.
Instantes depois, apareceu à outra porta um bebé morto:
-Meu Deus... -murmurei - um bebé zombie.
Os zombies tinham conseguido entrar por outro lado qualquer. Estávamos cercados.
Muito mais rápido do que eu imaginara que ele fosse capaz, o bebé correu para a mulher grávida e saltou sobre a a barriga dela, começando nesse mesmo instante a comê-la.
As duas gritámos como só as mulheres conseguem, e segundos depois o homem bonito caiu à minha frente com vários zombies adultos agarrados às suas costas (com unhas e dentes, literalmente) tentando a todo o custo arrancar pedaços de carne.
Amparando-me na bancada, levantei-me, abri a porta a que a mulher grávida estava encostada e saltei para a rua. Tudo isto sem que eu parasse de gritar.
Na rua, desferi murros e pontapés a torto e a direito, e consegui atravessar a multidão de zombies sem que me tocassem.
O marido da mulher grávida, que me seguira, não teve tanta sorte: um dos mortos cavara com as unhas um profundo buraco na palma da sua mão.
-Arranharam-me! Arranharam-me! - gritou o homem.
Ao ouvi-lo, soube que dentro de algum tempo ele seria um daqueles monstros. Senti por ele uma repulsa que era quase nojo, e preparava-me para abandoná-lo entre os mortos quando os seus gritos de me despertaram pena. Voltei atrás e segurei firmemente a sua mão sã, puxando-o na minha direcção com toda a minha força.
Quando se apercebeu da minha presença, o homem calou-se, fitou-me por instantes, com os olhos muitos redondos e a boca entreaberta, e seguiu-me.
Não sei como nem porquê, mas estávamos novamente na estação de Monte Abraão, e não naquela onde eu saíra por engano.
Atravessámos uma passagem superior, quase caímos numa valeta ao tentar contorná-la, e finalmente fomos agarrados por dois policias que nos enfiaram num jipe: iam levar-nos a casa.
Muito encolhida no meu assento, eu esforçava-me por não olhar para o homem que salvara. Não conseguia decidir se devia ou não revelar aos polícias que ele fôra infectado.
Tinha imensa pena dele: vira a morrer a mulher e o filho que ainda nem nascera, e sabia que dentro de algum tempo ele próprio seria um monstro como aqueles que, naquela altura, deviam estar a devorar a carne das pessoas que mais amava no mundo.
Mas se não dissesse nada, era possível que ele viesse a matar ou infectar outras pessoas...
O jipe parou diante de uma casinha baixa e estreita, feita de um material cuja cor lembrava o barro. Era uma adorável: tinha flores vermelhas nos parapeitos da janelas e cortinas de renda. Estava entalada entre várias outras casas semelhantes, numa rua muito inclinada.
O homem saiu do carro e entrou em sua casa.
Depois os polícias continuaram a descer a rua, para me levarem a mim a casa.
Fui incapaz de tirar os olhos da casinha do homem até ela desaparecer por detrás de outras casas e prédios.
Não sei o que acontecera entretanto, mas de repente aquele homem nunca tinha sido casado com a mulher grávida: era meu namorado. Enquanto os polícias me levavam a casa, eu tentava decidir se iria ou não tornar a visitá-lo, antes de ele sucumbir à infecção.
Quando cheguei a casa, todas as luzes estavam apagadas excepto a do hall de entrada.
"Espero que o Tomás me deixe dormir com a mãe, hoje." pensei. Fui até à sala e deparei-me com o meu irmão estendido no sofá, a dormir. Tinha a farda da escola vestida e tapava os olhos com o braço direito.
Deixei-o e fui ao encontro da minha mãe, que me abraçou com força. Ela já soubera o que acontecera:
-Deixa-me dormir contigo, hoje. -pedi-lhe.
-Claro.
Não percebo porque estaria o meu irmão a dormir no sofá quando podia ter ido para o seu próprio quarto... Mas esse é talvez o pormenor mais insignificante de todos.
No próximo post: o outro sonho fantástico que se seguiu a este.
A primeira passava-se durante um apocalipse zombie. Bem, na verdade, não era um apocalipse... Porque a vida continuava a decorrer normalmente: bastavam alguns cuidados para a população viva evitar qualquer contacto com a morta.
Ainda assim, eu tinha imenso medo de sair de casa. Todavia, quando a minha mãe chegou a casa, insistiu para que eu fosse comprar pão. Fiz "olhinhos-de-bambi", choraminguei, chantageei, mas não me serviu de nada.
Com as pernas a tremer, meti-me no elevador e saí no andar errado (no prédio de Massamá há dois andares que dão acesso à rua). Atravessei o jardim, percorri as ruas, até chegar à estação de comboios de Monte-Abraão. Só depois de entrar num comboio e este iniciar a sua marcha é que me apercebi que estava a seguir um caminho completamente errado.
Aborrecida de morte por me ter enganado, saí na estação seguinte, decidida a entrar no primeiro comboio que seguisse no sentido contrário, para poder regressar a casa.
No entanto, não sei como, deparei-me com um grupo de pessoas feridas e assustadas que temia a chegada de zombies a qualquer hora. Não consegui partir sem os ajudar.
Depois, só me lembro de estar numa casa, mais especificamente numa cozinha apertada, com duas portas: uma em cada extremidade. Uma delas dava para a rua, e eu estava apoiada contra ela, usando o meu peso para impedir um grupo de zombies famintos de entrar. Tinha medo. Tanto medo.
Estava comigo uma mulher grávida, o respectivo marido, e um outro homem. Ela tinha cabelo loiro e curto, preso num minúsculo rabo-de-cavalo. Não me lembro do seu marido. O outro homem era bonito, tinha o cabelo castanho curto e a barba por fazer.
O resto do grupo tinha-nos deixado: quando perceberam que a mulher grávida não podia fugir dali a tempo de escapar aos zombies, deixaram-nos para trás.
-AAAAH!- gritei, quando vi uma série de dedos putrefactos passar pela porta.
Eu e a mulher grávida atirá-mo-nos de costas contra a porta várias vezes, e assim que o monstro recuou, trancámos a porta e deixámo-nos cair onde estávamos: ela encostada à porta e eu a uma bancada.
Entretanto, os dois homens não se mexeram: limitaram-se a olhar para nós boquiabertos, com os olhos arregalados de medo.
Instantes depois, apareceu à outra porta um bebé morto:
-Meu Deus... -murmurei - um bebé zombie.
Os zombies tinham conseguido entrar por outro lado qualquer. Estávamos cercados.
Muito mais rápido do que eu imaginara que ele fosse capaz, o bebé correu para a mulher grávida e saltou sobre a a barriga dela, começando nesse mesmo instante a comê-la.
As duas gritámos como só as mulheres conseguem, e segundos depois o homem bonito caiu à minha frente com vários zombies adultos agarrados às suas costas (com unhas e dentes, literalmente) tentando a todo o custo arrancar pedaços de carne.
Amparando-me na bancada, levantei-me, abri a porta a que a mulher grávida estava encostada e saltei para a rua. Tudo isto sem que eu parasse de gritar.
Na rua, desferi murros e pontapés a torto e a direito, e consegui atravessar a multidão de zombies sem que me tocassem.
O marido da mulher grávida, que me seguira, não teve tanta sorte: um dos mortos cavara com as unhas um profundo buraco na palma da sua mão.
-Arranharam-me! Arranharam-me! - gritou o homem.
Ao ouvi-lo, soube que dentro de algum tempo ele seria um daqueles monstros. Senti por ele uma repulsa que era quase nojo, e preparava-me para abandoná-lo entre os mortos quando os seus gritos de me despertaram pena. Voltei atrás e segurei firmemente a sua mão sã, puxando-o na minha direcção com toda a minha força.
Quando se apercebeu da minha presença, o homem calou-se, fitou-me por instantes, com os olhos muitos redondos e a boca entreaberta, e seguiu-me.
Não sei como nem porquê, mas estávamos novamente na estação de Monte Abraão, e não naquela onde eu saíra por engano.
Atravessámos uma passagem superior, quase caímos numa valeta ao tentar contorná-la, e finalmente fomos agarrados por dois policias que nos enfiaram num jipe: iam levar-nos a casa.
Muito encolhida no meu assento, eu esforçava-me por não olhar para o homem que salvara. Não conseguia decidir se devia ou não revelar aos polícias que ele fôra infectado.
Tinha imensa pena dele: vira a morrer a mulher e o filho que ainda nem nascera, e sabia que dentro de algum tempo ele próprio seria um monstro como aqueles que, naquela altura, deviam estar a devorar a carne das pessoas que mais amava no mundo.
Mas se não dissesse nada, era possível que ele viesse a matar ou infectar outras pessoas...
O jipe parou diante de uma casinha baixa e estreita, feita de um material cuja cor lembrava o barro. Era uma adorável: tinha flores vermelhas nos parapeitos da janelas e cortinas de renda. Estava entalada entre várias outras casas semelhantes, numa rua muito inclinada.
O homem saiu do carro e entrou em sua casa.
Depois os polícias continuaram a descer a rua, para me levarem a mim a casa.
Fui incapaz de tirar os olhos da casinha do homem até ela desaparecer por detrás de outras casas e prédios.
Não sei o que acontecera entretanto, mas de repente aquele homem nunca tinha sido casado com a mulher grávida: era meu namorado. Enquanto os polícias me levavam a casa, eu tentava decidir se iria ou não tornar a visitá-lo, antes de ele sucumbir à infecção.
Quando cheguei a casa, todas as luzes estavam apagadas excepto a do hall de entrada.
"Espero que o Tomás me deixe dormir com a mãe, hoje." pensei. Fui até à sala e deparei-me com o meu irmão estendido no sofá, a dormir. Tinha a farda da escola vestida e tapava os olhos com o braço direito.
Deixei-o e fui ao encontro da minha mãe, que me abraçou com força. Ela já soubera o que acontecera:
-Deixa-me dormir contigo, hoje. -pedi-lhe.
-Claro.
Não percebo porque estaria o meu irmão a dormir no sofá quando podia ter ido para o seu próprio quarto... Mas esse é talvez o pormenor mais insignificante de todos.
No próximo post: o outro sonho fantástico que se seguiu a este.
sábado, 21 de maio de 2011
Orgulho vão e noites a pé
Creio que foi há um mês que sonhei este sonho: em vez de morarmos na quinta do meu padrasto, morávamos todos num pequeno apartamento, situado numa cidade cujas ruas tinham um aspecto pobre e sujo, e onde nenhum prédio tinha mais de quatro andares.
Tinha discutido com o meu padrasto, já não sei porquê... Apesar de o motivo não o justificar, saí de casa, decidida a passar a noite fora. Lembro-me muito claramente de querer que não me quisessem em casa, só para ter uma desculpa para tomar aquela ridícula atitude.
Estava muito mais frio na rua do que eu imaginava, mas o meu orgulho não me permitiu regressar a casa. Aliás, não mudei de ideias nem mesmo quando me cruzei com alguns vagabundos de aspecto ameaçador, que me encheram de medo.
Subitamente, começou a chover. Impelida pela minha vontade inabalável, comecei a procurar um lugar resguardado onde pudesse dormir.
Deitei-me à entrada de um prédio com uma porta metálica. Como as gotas de chuva ainda me alcançavam, senti que tinha ganho a sorte grande quando alguém saiu do prédio: aproveitei imediatamente a oportunidade para entrar.
O interior era escuro e lúgubre: as paredes estavam revestidas de uma tinta cinzenta ou verde, já muito gasta, e sob os meus pés havia uma extensa escadaria de madeira, que, curiosamente, era horizontal em vez de vertical, paralela ao chão desde o principio até ao fim.
Curiosa, avancei uns passos e premi um botão, que deveria indicar o número respectivo a um andar (já não me lembro onde estava o tal botão, mas estava lá).
No momento em que o fiz, as escadas começaram a avançar sozinhas, e fizeram-me pensar nas escadas mágicas de Hoghwarts, ou nas escadas rolantes da estação de comboios do Areeiro.
Pararam subitamente diante de uma porta. Foi então que percebi que naquele lugar os prédios não precisavam de ser altos porque os andares se distribuíam no comprimento, e não na altura. Achei que era algo extremamente estúpido, mas fiquei fascinada por isso de qualquer maneira.
Um homem de aspecto rude, e muito magrinho, abriu a porta. Ficou muito feliz por me ver, e cumprimentou-me calorosamente (tenho a certeza absoluta que já tinha sonhado com ele antes... devo tê-lo salvo de algum monstro, ou algo do género). Convidou-me a entrar e apresentou-se à sua mulher, que estava numa velha e apertada cozinha, com paredes revestidas de uns azulejos acastanhados muito feios. Através das portas do casa, que estavam todas escancaradas, consegui ver os filhos do casal a brincar na banheira, completamente às escuras.
Eram pessoas simpáticas e estava a divertir-me com eles... Mas tinha consciência de que precisava de dormir, porque em breve teria de ir para a faculdade e precisava mesmo de descansar.
O homem pediu-me para passar lá a noite, e tive muita vontade de aceitar, até me lembrar que a minha mãe ficaria muito assustada/zangada se acordasse de manhã e soubesse que eu tinha passado uma boa parte da noite sozinha na rua, e outra na casa de um desconhecido. Ainda por cima, sem ter avisado ninguém. Por isso, agradeci ao casal o seu convite, mas recusei-o e expliquei-lhes porquê, acrescentando que teria de estar em casa antes de madrugada.
Eles ficaram muito aborrecidos com a minha resposta, e começaram a preparar "um farnel para a minha viagem de regresso".
Tentei ser paciente e esperar, mas estava exausta e via desesperadamente o Sol nascer lá fora, sem que eu tivesse dormido um só instante e imaginando a ira da minha mãe quando chegasse a casa.
A cozinha feia do casal transformara-se entretanto na cozinha da casa da minha mãe: muito espaçosa, toda branca e luminosa, só que bastante desarrumada.
Quando finalmente consegui sair de casa do casal, já tinha amanhecido. Olhei para o céu com um suspiro, e pensei que depois das aulas poderia finalmente dormir.
Acho muito interessante o facto de estar a dormir e mesmo assim sonhar com insónias...
Tinha discutido com o meu padrasto, já não sei porquê... Apesar de o motivo não o justificar, saí de casa, decidida a passar a noite fora. Lembro-me muito claramente de querer que não me quisessem em casa, só para ter uma desculpa para tomar aquela ridícula atitude.
Estava muito mais frio na rua do que eu imaginava, mas o meu orgulho não me permitiu regressar a casa. Aliás, não mudei de ideias nem mesmo quando me cruzei com alguns vagabundos de aspecto ameaçador, que me encheram de medo.
Subitamente, começou a chover. Impelida pela minha vontade inabalável, comecei a procurar um lugar resguardado onde pudesse dormir.
Deitei-me à entrada de um prédio com uma porta metálica. Como as gotas de chuva ainda me alcançavam, senti que tinha ganho a sorte grande quando alguém saiu do prédio: aproveitei imediatamente a oportunidade para entrar.
O interior era escuro e lúgubre: as paredes estavam revestidas de uma tinta cinzenta ou verde, já muito gasta, e sob os meus pés havia uma extensa escadaria de madeira, que, curiosamente, era horizontal em vez de vertical, paralela ao chão desde o principio até ao fim.
Curiosa, avancei uns passos e premi um botão, que deveria indicar o número respectivo a um andar (já não me lembro onde estava o tal botão, mas estava lá).
No momento em que o fiz, as escadas começaram a avançar sozinhas, e fizeram-me pensar nas escadas mágicas de Hoghwarts, ou nas escadas rolantes da estação de comboios do Areeiro.
Pararam subitamente diante de uma porta. Foi então que percebi que naquele lugar os prédios não precisavam de ser altos porque os andares se distribuíam no comprimento, e não na altura. Achei que era algo extremamente estúpido, mas fiquei fascinada por isso de qualquer maneira.
Um homem de aspecto rude, e muito magrinho, abriu a porta. Ficou muito feliz por me ver, e cumprimentou-me calorosamente (tenho a certeza absoluta que já tinha sonhado com ele antes... devo tê-lo salvo de algum monstro, ou algo do género). Convidou-me a entrar e apresentou-se à sua mulher, que estava numa velha e apertada cozinha, com paredes revestidas de uns azulejos acastanhados muito feios. Através das portas do casa, que estavam todas escancaradas, consegui ver os filhos do casal a brincar na banheira, completamente às escuras.
Eram pessoas simpáticas e estava a divertir-me com eles... Mas tinha consciência de que precisava de dormir, porque em breve teria de ir para a faculdade e precisava mesmo de descansar.
O homem pediu-me para passar lá a noite, e tive muita vontade de aceitar, até me lembrar que a minha mãe ficaria muito assustada/zangada se acordasse de manhã e soubesse que eu tinha passado uma boa parte da noite sozinha na rua, e outra na casa de um desconhecido. Ainda por cima, sem ter avisado ninguém. Por isso, agradeci ao casal o seu convite, mas recusei-o e expliquei-lhes porquê, acrescentando que teria de estar em casa antes de madrugada.
Eles ficaram muito aborrecidos com a minha resposta, e começaram a preparar "um farnel para a minha viagem de regresso".
Tentei ser paciente e esperar, mas estava exausta e via desesperadamente o Sol nascer lá fora, sem que eu tivesse dormido um só instante e imaginando a ira da minha mãe quando chegasse a casa.
A cozinha feia do casal transformara-se entretanto na cozinha da casa da minha mãe: muito espaçosa, toda branca e luminosa, só que bastante desarrumada.
Quando finalmente consegui sair de casa do casal, já tinha amanhecido. Olhei para o céu com um suspiro, e pensei que depois das aulas poderia finalmente dormir.
Acho muito interessante o facto de estar a dormir e mesmo assim sonhar com insónias...
sábado, 14 de maio de 2011
Este sonho foi mesmo estranho, e já chocou alguns colegas a quem o contei: não sei porquê, mas vivíamos todos com um dos nossos professores. Dormíamos todos no mesmo quarto, em vários colchões espalhados pelo chão. A cama estava reservada ao professor e a dois colegas meus... que não reagiram muito bem quando lhes contei isto (apesar de não haver nada entre eles e o dito professor).
Esqueci-me que devia ter publicado este sonho antes de "Minões, minões" : é-lhe anterior...
Seja como fôr, estava no jardim da quinta onde moro, mas não na parte bonita, diante da qual as pessoas param para tirar fotografias. Estava na parte selvagem, onde o terreno é íngreme e a relva tão espessa que é difícil caminhar entre ela. Por todo o lado há pedras, árvores tombadas, e muitas, muitas mimosas. Aquelas plantas são uma autêntica praga.
Estava com o meu irmão (que na realidade nunca vai para o jardim, muito menos para a parte selagem, desde que deixámos de ser crianças) e tinha entre as mãos um cachorrinho recém-nascido: estávamos a celebrá-lo. A determinada altura o bebé começou a urinar nas minhas mãos (isto acontece-me sempre...), e tive de o afastar um pouco de mim para não me sujar mais.
Pouco depois, estávamos no cantinho mais remoto de toda a quinta com toda a nossa família, unicamente por causa do bebé.
Durante a festa, a mãe do meu padrasto aproximou-se de mim para comentar como os homens não lhe resistiam, apesar da sua idade avançada. Eu lancei-lhe um olhar de desprezo pelo canto do olho (ultimamente ela tem-se revelado uma pessoa extremamente cruel), entreguei o cãozinho a alguém e comecei a trepar pelas pedras, dizendo bem alto:
-Com licença, tenho de ir ao meu quarto ver se alguém me roubou... - a mãe do meu padrasto ofendeu-se muito com o que eu disse: era bastante claro que estava a gozá-la, uma vez que vive apavorada com a ideia com que a roubem. Aliás, todas as empregadas que teve até agora, por muito amáveis, prestáveis e educadas que fossem, eram aos seus olhos ladras cínicas. Os filhos dela também são ladrões, os caseiros das suas quintas também são ladrões,... Ironicamente, existem pessoas que a roubam mesmo, e dessas, ela nunca suspeita. Pensa que são pobres criaturas injustiçadas que precisam do seu socorro, ou então que nutrem por ela um verdadeiro interesse ou até amor passional, e merecem o seu dinheiro... perdão, a sua atenção.
Então ela pôs-se a subir a encosta atrás de mim, a tagarelar, sem que eu lhe desse importância.
Entrei em casa (que parecia uma daquelas coisas enormes e coloridas onde os miúdos brincam no McDonald's) e fui até uma espaçosa divisão destinada aos meus cães, onde havia somente um sofá.
Ela continuava a cacarejar incansavelmente atrás de mim, e de repente senti-me tão cansada (e senti mesmo), que caí no sofá e desmaiei.
Então entraram na sala vários actores, vestidos com bonitas roupas coloridas que lembravam os palhaços do Circu du Soleil. Estou convencida de se tratavam dos meus cães transformados em pessoas.
Não existem palavras para definir a raiva que nutriam pela mãe do meu padrasto naquele momento. Mataram-na, e, no momento em que acordei, já não restavam nenhumas provas do crime.
Seja como fôr, estava no jardim da quinta onde moro, mas não na parte bonita, diante da qual as pessoas param para tirar fotografias. Estava na parte selvagem, onde o terreno é íngreme e a relva tão espessa que é difícil caminhar entre ela. Por todo o lado há pedras, árvores tombadas, e muitas, muitas mimosas. Aquelas plantas são uma autêntica praga.
Estava com o meu irmão (que na realidade nunca vai para o jardim, muito menos para a parte selagem, desde que deixámos de ser crianças) e tinha entre as mãos um cachorrinho recém-nascido: estávamos a celebrá-lo. A determinada altura o bebé começou a urinar nas minhas mãos (isto acontece-me sempre...), e tive de o afastar um pouco de mim para não me sujar mais.
Pouco depois, estávamos no cantinho mais remoto de toda a quinta com toda a nossa família, unicamente por causa do bebé.
Durante a festa, a mãe do meu padrasto aproximou-se de mim para comentar como os homens não lhe resistiam, apesar da sua idade avançada. Eu lancei-lhe um olhar de desprezo pelo canto do olho (ultimamente ela tem-se revelado uma pessoa extremamente cruel), entreguei o cãozinho a alguém e comecei a trepar pelas pedras, dizendo bem alto:
-Com licença, tenho de ir ao meu quarto ver se alguém me roubou... - a mãe do meu padrasto ofendeu-se muito com o que eu disse: era bastante claro que estava a gozá-la, uma vez que vive apavorada com a ideia com que a roubem. Aliás, todas as empregadas que teve até agora, por muito amáveis, prestáveis e educadas que fossem, eram aos seus olhos ladras cínicas. Os filhos dela também são ladrões, os caseiros das suas quintas também são ladrões,... Ironicamente, existem pessoas que a roubam mesmo, e dessas, ela nunca suspeita. Pensa que são pobres criaturas injustiçadas que precisam do seu socorro, ou então que nutrem por ela um verdadeiro interesse ou até amor passional, e merecem o seu dinheiro... perdão, a sua atenção.
Então ela pôs-se a subir a encosta atrás de mim, a tagarelar, sem que eu lhe desse importância.
Entrei em casa (que parecia uma daquelas coisas enormes e coloridas onde os miúdos brincam no McDonald's) e fui até uma espaçosa divisão destinada aos meus cães, onde havia somente um sofá.
Ela continuava a cacarejar incansavelmente atrás de mim, e de repente senti-me tão cansada (e senti mesmo), que caí no sofá e desmaiei.
Então entraram na sala vários actores, vestidos com bonitas roupas coloridas que lembravam os palhaços do Circu du Soleil. Estou convencida de se tratavam dos meus cães transformados em pessoas.
Não existem palavras para definir a raiva que nutriam pela mãe do meu padrasto naquele momento. Mataram-na, e, no momento em que acordei, já não restavam nenhumas provas do crime.
Minões, minões
Há cerca de uma semana sonhei que me encontrava num condomínio privado com bonitas casas amarelas, muito semelhante ao que fica diante da quinta onde moro. Não se via nem ouvia ninguém.
Só quando passei por uma pequena ponte que ligava duas casas ouvi risos. Olhei para cima e constatei que se tratava de duas crianças acompanhadas de um cão, que tentava transpor as grades e saltar lá para baixo, para ao pé de mim. Sorri ao vê-lo, e, para divertir os pequenos, passei por debaixo da ponte várias vezes, para lá e para cá. Sempre que eu ia para "lá", a cabeça do cão aparecia na ponte a espreitar para o lado de "lá"; se eu ia para "cá", o cão corria e olhava para o lado de "cá".
De repente, vi-o saltar para cima das grades e equilibrar-se (muito mal) sobre elas, com as patas dianteiras e traseiras muito juntas, como se estivesse sentado. Percebi imediatamente que ia tentar saltar:
-Não! -ordenei. -Não saltes!
Mas ele saltou.
Soou um estrondo abafado no momento em que ele tocou no chão, e eu senti o ventre gelado. Corri para ele e debrucei-me sobre o seu corpo inerte. Verifiquei que quase não respirava, e apesar de ver nem uma gota de sangue, ou qualquer outro sinal de que ele se tinha magoado, deduzi que estivesse completamente partido por dentro. Com cuidado, apalpei-lhe o corpo, à procura de ossos partidos.
Só então me apercebi que aquele cão se parecia muito com o Alex. Era, aliás, igualzinho a ele, mais do que um irmão gémeo. Posso, no entanto, garantir que não era ele.
Tinha acabado de verificar que uma pata traseira estava intacta quando o cão começou a dar ao rabo. Um pouco hesitante, ele levantou-se, e depois ficou ali a olhar para mim, todo contente, a abanar o corpo todo como se não lhe tivesse acontecido nada.
Nesse momento, vi que o mundo tinha girado debaixo de mim e do cão sem que eu me tivesse apercebido: o cão caíra do lado de "lá" da ponte, no entanto, estávamos os dois agora no lado de "cá". Sorri de alívio e afaguei o seu pêlo dourado antes de me ir embora.
Não me lembro do caminho que percorri: apenas de chegar a casa. Era muito diferente do que é na realidade. Em vez de ter aquele ar adorável de casinha de campo, parecia uma daquelas casas todas modernas, muito minimalistas. Era completamente branca, e parecia feita de quadrados, construídas unicamente com linhas rectas perpendiculares entre si.
Entrei por uma garagem um pouco escura, onde a única fonte de luz era o portão aberto. Estava lá a minha mãe, a queixar-se de alguma coisa em relação ao meu padrasto. Estava furiosa. Ouvi-a em silêncio, sem nenhuma vontade de me envolver nas suas discussões.
Pouco depois ele apareceu, e começaram os dois a discutir. O problema tinha qualquer coisa haver com dinheiro... Sempre o dinheiro.
No meio de tantos gritos, tanta confusão, tanta coisa, a minha mãe disse-lhe algo que ele não gostou nada de ouvir (mas que era verdade). Ficaram os dois mudos, a olhar um para o outro por breves instantes. Depois, o meu padrasto voltou-nos as costas e foi-se embora. Eu subi as escadas juntamente com a minha mãe e entrámos num quarto espaçoso e bem iluminado, com duas grandes janelas que davam para duas varandas. O chão era de uma madeira muito clara. Suponho que há esquerda de quem entrava havia uma pequena cama de casal, e há direita uma parede toda ocupada por um guarda-fatos. Em suma, era um quarto muito semelhante ao de uma tia minha, só que, exceptuando a cama, estava completamente vazio.
Mal entrámos, ouvimos um ganido horrível, que nos fez tremer de receio e ansiedade. Nem um segundo passara, o meu padrasto apareceu numa das varandas (não sei como subiu até lá) e entrou no quarto, com um grande objecto metálico na mão. Não me recordo muito bem do que era, mas suponho que se tratasse de um pé-de-cabra.
-Sabes o que acabei de fazer? - perguntou à minha mãe, cheio de raiva -matei um cão.
Mal disse isto, começou a bater com aquelas coisa metálica no chão, disposto a destruir a casa.
Depois, tudo aconteceu muito rápido.
"Deus queira que não tenha não tenha sido um dos nossos" foi a primeira coisa que pensei (muitas pessoas costumam deixar os seus animais connosco quando se ausentam por um motivo qualquer, uma vez que nos servimos dos nossos canis como um hotel para cães). "E se foi o Alex?" pensei de seguida.
-AAAH! -rugi - Como podes ser tão mau?!
Atirei-me para cima dele e mordi-o com tanta força que penso que tenha arrancado um pedaço de carne da sua perna.
Acordei imediatamente depois, encharcada de suor.
Só quando passei por uma pequena ponte que ligava duas casas ouvi risos. Olhei para cima e constatei que se tratava de duas crianças acompanhadas de um cão, que tentava transpor as grades e saltar lá para baixo, para ao pé de mim. Sorri ao vê-lo, e, para divertir os pequenos, passei por debaixo da ponte várias vezes, para lá e para cá. Sempre que eu ia para "lá", a cabeça do cão aparecia na ponte a espreitar para o lado de "lá"; se eu ia para "cá", o cão corria e olhava para o lado de "cá".
De repente, vi-o saltar para cima das grades e equilibrar-se (muito mal) sobre elas, com as patas dianteiras e traseiras muito juntas, como se estivesse sentado. Percebi imediatamente que ia tentar saltar:
-Não! -ordenei. -Não saltes!
Mas ele saltou.
Soou um estrondo abafado no momento em que ele tocou no chão, e eu senti o ventre gelado. Corri para ele e debrucei-me sobre o seu corpo inerte. Verifiquei que quase não respirava, e apesar de ver nem uma gota de sangue, ou qualquer outro sinal de que ele se tinha magoado, deduzi que estivesse completamente partido por dentro. Com cuidado, apalpei-lhe o corpo, à procura de ossos partidos.
Só então me apercebi que aquele cão se parecia muito com o Alex. Era, aliás, igualzinho a ele, mais do que um irmão gémeo. Posso, no entanto, garantir que não era ele.
Tinha acabado de verificar que uma pata traseira estava intacta quando o cão começou a dar ao rabo. Um pouco hesitante, ele levantou-se, e depois ficou ali a olhar para mim, todo contente, a abanar o corpo todo como se não lhe tivesse acontecido nada.
Nesse momento, vi que o mundo tinha girado debaixo de mim e do cão sem que eu me tivesse apercebido: o cão caíra do lado de "lá" da ponte, no entanto, estávamos os dois agora no lado de "cá". Sorri de alívio e afaguei o seu pêlo dourado antes de me ir embora.
Não me lembro do caminho que percorri: apenas de chegar a casa. Era muito diferente do que é na realidade. Em vez de ter aquele ar adorável de casinha de campo, parecia uma daquelas casas todas modernas, muito minimalistas. Era completamente branca, e parecia feita de quadrados, construídas unicamente com linhas rectas perpendiculares entre si.
Entrei por uma garagem um pouco escura, onde a única fonte de luz era o portão aberto. Estava lá a minha mãe, a queixar-se de alguma coisa em relação ao meu padrasto. Estava furiosa. Ouvi-a em silêncio, sem nenhuma vontade de me envolver nas suas discussões.
Pouco depois ele apareceu, e começaram os dois a discutir. O problema tinha qualquer coisa haver com dinheiro... Sempre o dinheiro.
No meio de tantos gritos, tanta confusão, tanta coisa, a minha mãe disse-lhe algo que ele não gostou nada de ouvir (mas que era verdade). Ficaram os dois mudos, a olhar um para o outro por breves instantes. Depois, o meu padrasto voltou-nos as costas e foi-se embora. Eu subi as escadas juntamente com a minha mãe e entrámos num quarto espaçoso e bem iluminado, com duas grandes janelas que davam para duas varandas. O chão era de uma madeira muito clara. Suponho que há esquerda de quem entrava havia uma pequena cama de casal, e há direita uma parede toda ocupada por um guarda-fatos. Em suma, era um quarto muito semelhante ao de uma tia minha, só que, exceptuando a cama, estava completamente vazio.
Mal entrámos, ouvimos um ganido horrível, que nos fez tremer de receio e ansiedade. Nem um segundo passara, o meu padrasto apareceu numa das varandas (não sei como subiu até lá) e entrou no quarto, com um grande objecto metálico na mão. Não me recordo muito bem do que era, mas suponho que se tratasse de um pé-de-cabra.
-Sabes o que acabei de fazer? - perguntou à minha mãe, cheio de raiva -matei um cão.
Mal disse isto, começou a bater com aquelas coisa metálica no chão, disposto a destruir a casa.
Depois, tudo aconteceu muito rápido.
"Deus queira que não tenha não tenha sido um dos nossos" foi a primeira coisa que pensei (muitas pessoas costumam deixar os seus animais connosco quando se ausentam por um motivo qualquer, uma vez que nos servimos dos nossos canis como um hotel para cães). "E se foi o Alex?" pensei de seguida.
-AAAH! -rugi - Como podes ser tão mau?!
Atirei-me para cima dele e mordi-o com tanta força que penso que tenha arrancado um pedaço de carne da sua perna.
Acordei imediatamente depois, encharcada de suor.
sábado, 9 de abril de 2011
Esta noite, sonhei que ao sair do meu quarto ao entardecer, começava a falar com a minha família sobre a possibilidade de passar um semestre na Bélgica a estudar, até que de repente o meu professor de animação começou a subir as escadas. Não faço a menor ideia de como encontrou a minha casa.
-O-olá Zepe. - cumprimentei-o, um pouco atrapalhada pela surpresa.
-Hã? Ah! - fez ele, depois de um instante a olhar para mim, como se não me tivesse reconhecido logo - Olá, olá.
Dito isto, passou pelo Tomás, a Mãe e o Bé sem dizer nada e foi sentar-se à frente do nosso computador a trabalhar. Tinha tido alguma vontade de lhe dizer que estivesse à vontade, mas era evidente que não era preciso.
A minha família ficou a olhar para ele algum tempo, talvez à espera que ele os cumprimentasse ou então que lhes explicasse o que estava ali a fazer. Depois, deixaram de lhe prestar atenção e voltaram a fazer o que sempre fazem: o Tomás alojou-se na "sua" poltrona com o computador portátil ao colo, o Bé recostou-se no sofá para ver mais confortavelmente futebol, e a minha mãe desceu as escadas em direcção à cozinha, murmurando que tinha de preparar alguma coisa para os convidados. "Convidados?" pensei "Não sabia que vinha alguém cá a casa...". Segui-a, esperançosa de lamber as pás cobertas de chocolate da batedeira caso ela preparasse um bolo, ou então de roubar um pedaço de cebola, alho ou pimento, coisas que apesar de a maioria das pessoas não considerar nada apetecível, são autênticas iguarias para mim.
Mas a Mãe não cozinhou nada que me interessasse. Fiquei um bocadinho em silêncio ao pé dela, até que uma senhora entrou em nossa casa. Vinha com um cigarro na mão e parecia ter algo muito importante de que falar. Não tenho a certeza se seria a tia Graça... Seja como fôr, depois dela veio outra, e mais outra... Todas tagarelavam ao mesmo tempo umas com as outras, e, farta de ouvir aquele barulho contínuo que lembrava o cacarejar de dezenas de galinhas, saí da cozinha e tornei a subir as escadas. Também estava cheio de gente: nunca tinha visto a nossa casa tão cheia. Contornei as pessoas para ir ter com o meu professor. No caminho, comecei a apontar para as pessoas, dizendo:
-Tu és boa pessoa... Tu és boa pessoa...
E foi então que encontrei a tia Judite, irmã do meu pai. Ao reconhecê-la, aproximei-me dela, com o indicador esticado na sua direcção, e sibilei com um sorriso de desprezo:
-Tu... és má pessoa.
Assim que acabei de falar a cabeça dela desfez-se em tiras, que caíram sobre os ombros todas enrugadas, tal e qual um balão esvaziado. Depois disto, aproximei-me com a maior naturalidade do Zepe, que continuava a um canto todo inclinado sobre monitor.
Ao lado dele, estava Darcy, um aluno de animação do terceiro ano. Os dois discutiam um projecto qualquer, e eu fiquei ali a ouvir a conversa à espera de uma oportunidade para participar. Como ela nunca mais chegava, rodei sobre os calcanhares para ir para o meu quarto, e escapar a toda aquela monotonia, barulho, confusão...
Contornei pessoas com rosto deformados, semelhantes a retratos abstractos ou cartoons demasiado estilizados, até me fechar atrás da porta azul.
Estendi-me na minha cama, que estava muito mais rente ao chão do que na realidade, e, ao rebolar sobre mim mesma e ficar de costas para a porta, vi que não havia paredes daquele lado do meu quarto, e que a relva, as pedras, a floresta de mimosas entrava por ali a dentro. Sentei-me na cama, maravilhada com a vista dos montes, das casinhas brancas pequeninas, logo a seguir à floresta.
Tive uma vontade tão grande de sair do meu quarto e passear para sempre naquele lugar...
-O-olá Zepe. - cumprimentei-o, um pouco atrapalhada pela surpresa.
-Hã? Ah! - fez ele, depois de um instante a olhar para mim, como se não me tivesse reconhecido logo - Olá, olá.
Dito isto, passou pelo Tomás, a Mãe e o Bé sem dizer nada e foi sentar-se à frente do nosso computador a trabalhar. Tinha tido alguma vontade de lhe dizer que estivesse à vontade, mas era evidente que não era preciso.
A minha família ficou a olhar para ele algum tempo, talvez à espera que ele os cumprimentasse ou então que lhes explicasse o que estava ali a fazer. Depois, deixaram de lhe prestar atenção e voltaram a fazer o que sempre fazem: o Tomás alojou-se na "sua" poltrona com o computador portátil ao colo, o Bé recostou-se no sofá para ver mais confortavelmente futebol, e a minha mãe desceu as escadas em direcção à cozinha, murmurando que tinha de preparar alguma coisa para os convidados. "Convidados?" pensei "Não sabia que vinha alguém cá a casa...". Segui-a, esperançosa de lamber as pás cobertas de chocolate da batedeira caso ela preparasse um bolo, ou então de roubar um pedaço de cebola, alho ou pimento, coisas que apesar de a maioria das pessoas não considerar nada apetecível, são autênticas iguarias para mim.
Mas a Mãe não cozinhou nada que me interessasse. Fiquei um bocadinho em silêncio ao pé dela, até que uma senhora entrou em nossa casa. Vinha com um cigarro na mão e parecia ter algo muito importante de que falar. Não tenho a certeza se seria a tia Graça... Seja como fôr, depois dela veio outra, e mais outra... Todas tagarelavam ao mesmo tempo umas com as outras, e, farta de ouvir aquele barulho contínuo que lembrava o cacarejar de dezenas de galinhas, saí da cozinha e tornei a subir as escadas. Também estava cheio de gente: nunca tinha visto a nossa casa tão cheia. Contornei as pessoas para ir ter com o meu professor. No caminho, comecei a apontar para as pessoas, dizendo:
-Tu és boa pessoa... Tu és boa pessoa...
E foi então que encontrei a tia Judite, irmã do meu pai. Ao reconhecê-la, aproximei-me dela, com o indicador esticado na sua direcção, e sibilei com um sorriso de desprezo:
-Tu... és má pessoa.
Assim que acabei de falar a cabeça dela desfez-se em tiras, que caíram sobre os ombros todas enrugadas, tal e qual um balão esvaziado. Depois disto, aproximei-me com a maior naturalidade do Zepe, que continuava a um canto todo inclinado sobre monitor.
Ao lado dele, estava Darcy, um aluno de animação do terceiro ano. Os dois discutiam um projecto qualquer, e eu fiquei ali a ouvir a conversa à espera de uma oportunidade para participar. Como ela nunca mais chegava, rodei sobre os calcanhares para ir para o meu quarto, e escapar a toda aquela monotonia, barulho, confusão...
Contornei pessoas com rosto deformados, semelhantes a retratos abstractos ou cartoons demasiado estilizados, até me fechar atrás da porta azul.
Estendi-me na minha cama, que estava muito mais rente ao chão do que na realidade, e, ao rebolar sobre mim mesma e ficar de costas para a porta, vi que não havia paredes daquele lado do meu quarto, e que a relva, as pedras, a floresta de mimosas entrava por ali a dentro. Sentei-me na cama, maravilhada com a vista dos montes, das casinhas brancas pequeninas, logo a seguir à floresta.
Tive uma vontade tão grande de sair do meu quarto e passear para sempre naquele lugar...
A caminho da Terra Prometida a cavalo numa girafa
Mais uma vez, sonhei que estava a caminho de Moçambique: eu, o meu irmão e a minha tínhamos empreendido numa longa viagem até à Terra Prometida.
Atravessámos a pé uma planície árida, muito semelhante ao Alentejo, que pouco a pouco se converteu numa savana. Começámos então a ver animais selvagens à nossa volta: manadas de zebras, alguns leões que dormiam debaixo das árvores, abrigados na sombra do sol abrasador.
De repente, o bonito céu azul e brilhante que nos cobria tornou-se cinzento, e grandes gotas de chuva desabaram sobre nós. Quando a água nos dava pela cintura, não sei o que fizemos, mas do nada apareceram três girafas, que montámos.
Continuámos assim a nossa viagem, até deparar-mo-nos com portagens; o valor a pagar era tão alto que não pudemos seguir em frente, e novamente não chegámos a Moçambique.
É muito curioso... nos meus sonhos (e, confesso, também na vida real) Moçambique é sempre a Terra Prometida, e faço de tudo para lá chegar. No entanto, nunca consigo. Lembro-me que há uns anos sonhei que um hipopótamo se atravessava no nosso caminho, ou algo do género, e que num outro sonho não podíamos pagar a gasolina do jipe que conduzíamos.
Atravessámos a pé uma planície árida, muito semelhante ao Alentejo, que pouco a pouco se converteu numa savana. Começámos então a ver animais selvagens à nossa volta: manadas de zebras, alguns leões que dormiam debaixo das árvores, abrigados na sombra do sol abrasador.
De repente, o bonito céu azul e brilhante que nos cobria tornou-se cinzento, e grandes gotas de chuva desabaram sobre nós. Quando a água nos dava pela cintura, não sei o que fizemos, mas do nada apareceram três girafas, que montámos.
Continuámos assim a nossa viagem, até deparar-mo-nos com portagens; o valor a pagar era tão alto que não pudemos seguir em frente, e novamente não chegámos a Moçambique.
É muito curioso... nos meus sonhos (e, confesso, também na vida real) Moçambique é sempre a Terra Prometida, e faço de tudo para lá chegar. No entanto, nunca consigo. Lembro-me que há uns anos sonhei que um hipopótamo se atravessava no nosso caminho, ou algo do género, e que num outro sonho não podíamos pagar a gasolina do jipe que conduzíamos.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Sonhos em atraso, mais uma vez
Já que não consigo abrir nenhum dos documentos de que preciso para adiantar a minha pesquisa relativamente às faculdades onde pretendo fazer Erasmus, finalmente consegui o livro essencial para Projecto e já reservei aquele que o professor de Teoria da Imagem pediu, e ainda tenho uma hora e meia até à próxima aula, vou aproveitar para por em dia os sonhos em atraso de que me recordo.
No mais antigo de todos, eu estava num carro, no lugar do pendura, com o meu amigo Diogo, que ocupava o lugar do condutor. Suponho que tivesse tirado a carta à pouco tempo, porque estava sempre a espreitar ansiosamente por cima do ombro e a hesitar antes de pensar sequer em encostar os pés aos pedais.
Já a ficar nervosa, comecei eu própria a mexer-me no banco, olhando atentamente à minha volta para me certificar que tudo corria bem e ele não nos matava aos dois.
Muito devagarinho, o Diogo lá arrancou, e pouco depois conduzia muito bem. Agora que confiava mais nele, deixei-me relazar e aproveitei a viagem.
Antes de a viagem começar, o carro estava estacionada num local muito semelhante a uma rua de Massamá, que tem de um lado o "Barco do Mimo" (outrora "Mimo Infantil". Foi o meu jardim de infância), e do outro uma escola pré-primária (onde eu andei também).No sonho, a escola pré-primária não existia: havia, no seu lugar, um parque de estacionamento. Era lá onde estava o carro.
Houve outro sonho em que tinha ido com os meus amigos ao Bairro Alto. Sabia que tinha sair cedo, por que teria de regressar a pé para casa enquanto as estradas estavam fechadas ao trânsito de automóveis (não sei porquê, mas neste meu sonho ninguém podia conduzir durante a noite). Porém, ao longo de toda a noite eles foram insistindo para que eu ficasse, e eu ia adiando a hora de me ir embora... Até que o Sol começou a nascer.
Em pânico, comecei a correr a caminho de casa. Só conseguia pensar que a minha mãe se ia passar comigo...
Quando cheguei ao túnel do Gril, estava desesperada: jamais conseguiria chegar a tempo! Foi então que um belo princípe (sim, era mesmo um princípe, com calças justas e aquelas camisolas com ombros redondos e almofadados) apareceu de repente à minha frente: parecia magia.
Ele disse-me para não desistir, e quando argumentei que estava tudo perdido, ele insistiu que tudo iria correr bem.
Apesar de não confiar muito nas palavras dele, pus-me novamente a correr pelas estrada fora.
Pouco depois, numa curva na A8 onde uma dia estive num acidente de automóvel, tornei a ver o princípe. Estava rodeado de pás, pinos,... em suma, todos o que é necessário para fazer obras numa estrada.
Foi então que o reconheci: era o meu pai. Pedi-lhe que não me deixai-se, e voltasse comigo para casa, mas ele recusou e desapareceu.
Quase imediatamente, fui rodeada de pessoas e seres fantásticos, e apareceram edificios colorios (principalmente de cor-de-rosa e cor-de-laranja) em forma de abóbora à minha volta. Ao que parece, era o meu povo, muito feliz por m e tornar a ver. Trataram-me por "princesa" e começaram a cochichar entre eles que um principe misterioso usara magia para parar o tempo e me ajudar a chegar a horas a casa.
Não chegara à Venda do Pinheiro, nem sequer a meio do caminho, mas no sonho aquele lugar era a minha casa.
Noutro sonho, estava numa floresta escura, com árvores e arbustos bidimensionais que pareciam saídos de um videojogo de baixa qualidade, em tons escuros de castanho, laranja, verde e cinzento. Não era a única: o meu irmão, e muitas outras pessoas, talzes amigos ou colegas, estavam lá também. Porém, cada um seguia o seu caminho, e só nos encontravamos raramente. Acho que estávamos a fugir de algo, ou então a caçá-lo. O sonho terminou quando ao contornar um arbusto deparei com uma impenetrável barreira de árvores. Era ali que eu tinha de chegar: havia alguma criatura escondida na folhagem. Mas será que tinha de a caçar, ou apesar de dever fugir dela, e eu estava decidida a enfrentá-la?
Há uma ou duas noite, tive um sonho muito especial: durante uma fracção de segundo, estava a passear nos montes na Venda do Pinheiro, durante o dia. Depois, estava num local deserto, atrás de uma grande casa branca, separada do mato cerrado por uma estrada de terra batida. Era noite escura, e eu estava um pouco assustada. Então vi uma sombra caminhar para fora da floresta. Era um homem. Veio ter comigo a sorrir, e, depois de o reconhecer, chamei-o também a rir. Ele aproximou-se de mim, abraçou-me, e beijou-me. Foi um beijo quente, devastador, que me deixou rendida nos braços dele. De seguida, despediu-se, e correu de volta para a floresta.
Em casa, com o meu irmão, ele contou-me que tinha encontrado um qualquer coisa espectacular algures onde eu estivera a passear.
-Então queres ir lá comigo? - perguntei ansiosamente.
-Yah, claro! Já fui lá ontem!... (o Tomás, a passear? Só em sonhos, mesmo...)
Subimos juntos o monte. A certa altura, a subida era tão ingreme que tinhamos de trepar. Não era nada fácil, mas mesmo assim rimos o caminho todo.
Quando chegamos ao cima, passámos por um velho e ferrugento portão de ferro (semelhante ao do "Casal dos Dois"), e, talvez dois metros à frente, passasmos por outros, que não sei se era de madeira, ou só uma espessa camada de vegetação.
Entre os dois portões, estava uma estranha criatura muito pequena, que umas vezes me parecia uma burrinha, outras, uma gazela.
Estavamos a admirá-la quando um grupo de cão ferozes correu em direcção ao portão de ferro, direito ao pequeno animal. Ladravam ferozmente, sacudindo longos fios de saliva que lhe spendiam dos baiços. A pequena criatura agachou-se e caminhou até um canto mais escondido entre os dois portões.
Deduzindo que ela estaria a salvo dos cães, eu e o meu irmão passámos o segundo portão e continuámos.
Quando chegámos àquele local fantástico onde eu tinha encontrado aquele homem, era noite cerrada (parecia que, independentemente de no resto do mundo ser dia, ali era sempre noite).
-Tens de acreditar que a pessoa que tu queres ver está mesmo ali! Se acreditares, ela aparece! - eu sabia que essa pessoa, tal como o homem que me beijara, se tratava apenas de uma ilusão, mas ainda assim falava dela como se fosse real.
Enquanto eu e o Tomás corríamos para o sítio, vimos os nossos primos Marta e Alexandre voltarem a correr de lá, cada um com um sorriso maior que o outro. Muito entusiasmados, começaram a falar do que tinham visto e a dizer ao meu irmão que fosse experimentar.
Mas quando ele se estava a aproximar, ouviu-se subitamente o braulho ensurdecedor do motor de uma mota, que apareceu numa estrada de terra por entre as árvores, diante de nós. A mota caiu do céu, e aterrou de uma maneira muito cómica: a saltitar sobre uma mola que tinha sob a roda dianteira, de maneira que parecia um saltitão. O piloto era agitado perigosamente, com a cara a aproximar-se e afastar-se do chão.
Desatámos todos a correr, em pânico. Logo a seguir apareceram ovnis (policiais), mais motas saltitonas (policiais) e áinda carros (também policiais).
De repente estávamos rodeados de homens quen nos gritavam que estávamos em perigo, e a dizerem que tinham de investigar o local.
No mais antigo de todos, eu estava num carro, no lugar do pendura, com o meu amigo Diogo, que ocupava o lugar do condutor. Suponho que tivesse tirado a carta à pouco tempo, porque estava sempre a espreitar ansiosamente por cima do ombro e a hesitar antes de pensar sequer em encostar os pés aos pedais.
Já a ficar nervosa, comecei eu própria a mexer-me no banco, olhando atentamente à minha volta para me certificar que tudo corria bem e ele não nos matava aos dois.
Muito devagarinho, o Diogo lá arrancou, e pouco depois conduzia muito bem. Agora que confiava mais nele, deixei-me relazar e aproveitei a viagem.
Antes de a viagem começar, o carro estava estacionada num local muito semelhante a uma rua de Massamá, que tem de um lado o "Barco do Mimo" (outrora "Mimo Infantil". Foi o meu jardim de infância), e do outro uma escola pré-primária (onde eu andei também).No sonho, a escola pré-primária não existia: havia, no seu lugar, um parque de estacionamento. Era lá onde estava o carro.
Houve outro sonho em que tinha ido com os meus amigos ao Bairro Alto. Sabia que tinha sair cedo, por que teria de regressar a pé para casa enquanto as estradas estavam fechadas ao trânsito de automóveis (não sei porquê, mas neste meu sonho ninguém podia conduzir durante a noite). Porém, ao longo de toda a noite eles foram insistindo para que eu ficasse, e eu ia adiando a hora de me ir embora... Até que o Sol começou a nascer.
Em pânico, comecei a correr a caminho de casa. Só conseguia pensar que a minha mãe se ia passar comigo...
Quando cheguei ao túnel do Gril, estava desesperada: jamais conseguiria chegar a tempo! Foi então que um belo princípe (sim, era mesmo um princípe, com calças justas e aquelas camisolas com ombros redondos e almofadados) apareceu de repente à minha frente: parecia magia.
Ele disse-me para não desistir, e quando argumentei que estava tudo perdido, ele insistiu que tudo iria correr bem.
Apesar de não confiar muito nas palavras dele, pus-me novamente a correr pelas estrada fora.
Pouco depois, numa curva na A8 onde uma dia estive num acidente de automóvel, tornei a ver o princípe. Estava rodeado de pás, pinos,... em suma, todos o que é necessário para fazer obras numa estrada.
Foi então que o reconheci: era o meu pai. Pedi-lhe que não me deixai-se, e voltasse comigo para casa, mas ele recusou e desapareceu.
Quase imediatamente, fui rodeada de pessoas e seres fantásticos, e apareceram edificios colorios (principalmente de cor-de-rosa e cor-de-laranja) em forma de abóbora à minha volta. Ao que parece, era o meu povo, muito feliz por m e tornar a ver. Trataram-me por "princesa" e começaram a cochichar entre eles que um principe misterioso usara magia para parar o tempo e me ajudar a chegar a horas a casa.
Não chegara à Venda do Pinheiro, nem sequer a meio do caminho, mas no sonho aquele lugar era a minha casa.
Noutro sonho, estava numa floresta escura, com árvores e arbustos bidimensionais que pareciam saídos de um videojogo de baixa qualidade, em tons escuros de castanho, laranja, verde e cinzento. Não era a única: o meu irmão, e muitas outras pessoas, talzes amigos ou colegas, estavam lá também. Porém, cada um seguia o seu caminho, e só nos encontravamos raramente. Acho que estávamos a fugir de algo, ou então a caçá-lo. O sonho terminou quando ao contornar um arbusto deparei com uma impenetrável barreira de árvores. Era ali que eu tinha de chegar: havia alguma criatura escondida na folhagem. Mas será que tinha de a caçar, ou apesar de dever fugir dela, e eu estava decidida a enfrentá-la?
Há uma ou duas noite, tive um sonho muito especial: durante uma fracção de segundo, estava a passear nos montes na Venda do Pinheiro, durante o dia. Depois, estava num local deserto, atrás de uma grande casa branca, separada do mato cerrado por uma estrada de terra batida. Era noite escura, e eu estava um pouco assustada. Então vi uma sombra caminhar para fora da floresta. Era um homem. Veio ter comigo a sorrir, e, depois de o reconhecer, chamei-o também a rir. Ele aproximou-se de mim, abraçou-me, e beijou-me. Foi um beijo quente, devastador, que me deixou rendida nos braços dele. De seguida, despediu-se, e correu de volta para a floresta.
Em casa, com o meu irmão, ele contou-me que tinha encontrado um qualquer coisa espectacular algures onde eu estivera a passear.
-Então queres ir lá comigo? - perguntei ansiosamente.
-Yah, claro! Já fui lá ontem!... (o Tomás, a passear? Só em sonhos, mesmo...)
Subimos juntos o monte. A certa altura, a subida era tão ingreme que tinhamos de trepar. Não era nada fácil, mas mesmo assim rimos o caminho todo.
Quando chegamos ao cima, passámos por um velho e ferrugento portão de ferro (semelhante ao do "Casal dos Dois"), e, talvez dois metros à frente, passasmos por outros, que não sei se era de madeira, ou só uma espessa camada de vegetação.
Entre os dois portões, estava uma estranha criatura muito pequena, que umas vezes me parecia uma burrinha, outras, uma gazela.
Estavamos a admirá-la quando um grupo de cão ferozes correu em direcção ao portão de ferro, direito ao pequeno animal. Ladravam ferozmente, sacudindo longos fios de saliva que lhe spendiam dos baiços. A pequena criatura agachou-se e caminhou até um canto mais escondido entre os dois portões.
Deduzindo que ela estaria a salvo dos cães, eu e o meu irmão passámos o segundo portão e continuámos.
Quando chegámos àquele local fantástico onde eu tinha encontrado aquele homem, era noite cerrada (parecia que, independentemente de no resto do mundo ser dia, ali era sempre noite).
-Tens de acreditar que a pessoa que tu queres ver está mesmo ali! Se acreditares, ela aparece! - eu sabia que essa pessoa, tal como o homem que me beijara, se tratava apenas de uma ilusão, mas ainda assim falava dela como se fosse real.
Enquanto eu e o Tomás corríamos para o sítio, vimos os nossos primos Marta e Alexandre voltarem a correr de lá, cada um com um sorriso maior que o outro. Muito entusiasmados, começaram a falar do que tinham visto e a dizer ao meu irmão que fosse experimentar.
Mas quando ele se estava a aproximar, ouviu-se subitamente o braulho ensurdecedor do motor de uma mota, que apareceu numa estrada de terra por entre as árvores, diante de nós. A mota caiu do céu, e aterrou de uma maneira muito cómica: a saltitar sobre uma mola que tinha sob a roda dianteira, de maneira que parecia um saltitão. O piloto era agitado perigosamente, com a cara a aproximar-se e afastar-se do chão.
Desatámos todos a correr, em pânico. Logo a seguir apareceram ovnis (policiais), mais motas saltitonas (policiais) e áinda carros (também policiais).
De repente estávamos rodeados de homens quen nos gritavam que estávamos em perigo, e a dizerem que tinham de investigar o local.
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