Ha umas quantas noites, tornei a sonhar com zombies: suponho que tenha alguma coisa haver com a serie "walking dead", de que gosto muito.
Desta vez, sonhei que estava em minha casa, em Massama, e que tinha havido uma infestação.
Os estores estavam todos corridos, e não me lembro se era dia ou noite la fora.
Estava com o meu irmão na casa-de-banho diante do meu quarto, e dizia-lhe:
-Tomas, se me acontecer alguma coisa, quero que saibas que te amo muito...
-Sim, sim, 'ta bem, deixa-te dessas merdas... -disse-me ele, antes de sair da casa-de-banho.
Nesse momento, os dois vimos a luz do mo meu quarto acesa (em Massama, o meu quarto fica mesmo em frente a casa-de-banho), e a nossa mãe sentada a borda a minha cama, com uma boneca de pano na mão. A mobília estava disposta como quando eu era pequena, e não como esta agora.
Os dois fomos ter com a nossa mãe:
-Mãe, o que e que estas a fazer? - quis saber.
-A despir as bonecas.- retorquiu ela, como se me estivesse a acusar de não as ter despido eu mesma. Tinha uma caixa de plástico cheia de bonecas aos pés.
-Mas para que?
-Porque elas não podem ficar assim!- respondeu ela, irritada.
-Então?... -perguntou a minha avo, ao entrar de repente no quarto.
São me lembro de ficarmos todos ajoelhado ao redor da minha mãe, a tentar convence-la a não despir as bonecas.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
O Pai
Tambem esta noite, sonhei com o meu pai.
Nao o vejo ha mais ou menos quatro anos, e mal me lembro da cara dele: so me consigo recordar de uma fotografia sua que me ofereceu pouco antes de se ir embora, dizendo que como nao gostava dela, eu podia ficar com ela.
Desde algum tempo para ca, quando tento pensar na cara do meu pai, por muito que me esforce, e sempre igual aquela fotografia: sempre a mesma expressão, como se o rosto tivesse sido congelado, sempre o mesmo olhar vago, o cabelo penteado para o mesmo lado e a barba feita, o colarinho da mesma camisola...
Tenho imensa curiosidade em saber como esta agora.
Ha uns dias, o meu irmao esteve com ele: para mim, foi muito estranho. Parecia que ele tinha estado com uma pessoa de quem sempre falamos mas que na realidade, nao existe, e com a qual nunca estariamos (como um personagem de um filme, ou assim...).
Ate tive alguma inveja do meu irmao.
Quando eu voltei a casa nesse dia, so queria ouvir uma descrição sua do aspecto do pai, apesar de os assuntos discutidos no tribunal serem muito mais importantes.
O Tomas revelou-me que o nosso pai era muito mais pequeno que ele (algo que eu ja sabia, uma vez que decorei a altura do meu pai muito antes de ele sair da casa, e sei que hoje medimos os dois 1,74cm, muito inferiores aos 1,80m e tal do meu irmao), tinha a voz muito mais fina que a dele (isto fez-me muita impressao, mas uma vez que nao me lembro da voz do meu pai nao consegui sequer imaginar como seria a sua voz fininha), e contou-me ainda que estava mais velho, e, ate, feio.
-Feio?! - exclamei, incredula. Lembro-me de ter achado o meu pai bonito toda a minha vida.
-Sim - insistiu o meu irmao. Contou-me que agora o pai tinha as bochechas descaídas e a cara mais quadrada, alguma barriguinha, e parecia atarracado.
-Parece que encolheu!- comentou.
-Queres dizer que esta a mirrar??
-Sim. Se calhar, ate esta mais baixo que tu. A serio, vais dar pela diferença quando o voltares a ver.
Bem tentei, mas nao o consegui imaginar assim: so o conseguia ver como naquela maldita fotografia.
Contaram-me ainda que o meu pai nao reconheceu o meu irmao e nao saberia quem ele era se este nao se tivesse aproximado dele, e tambem sei que nao perguntou por mim.
Mas esta noite sonhei com o meu pai.
Por um motivo qualquer, a minha mae levava-me ao restaurante chines perto da nossa casa em Massama (o que e absurdo, porque ela se fartou de comida chinesa depois de eu a forçar a ela e ao resto da familia a ir la constantemente).
Eu estava felicissima, a falar com ela e a rir (adoooro comida chinesa), ate, ao passar por uma parede de vidro pintada, me deparar com duas pessoas sentadas a uma mesa. Uma delas, sei que era o meu irmao, apesar de nao ter visto mais que a sua silhueta, uma forma muito pouco difusa. A outra, era o meu pai.
Estava tal e qual o Tomas o tinha descrito, com a exactidao que apenas os sonhos e a imaginaçao desgovernada sao capazes de conceber, mas, ainda assim, eu reconheci-o.
Parecia que o mundo tinha parado e so existiam os olhos dele, muito concentrados e fitos em mim.
Ja nao me lembro como era a cara dele... So sei que tinha as bochechas descaídas, de facto, e grandes papos cor-de-rosa debaixo dos olhos. O resto, nao consigo descrever.
Dei meia volta, meio atordoada, e senti uma terrivel vontade de ir a casa-de-banho.
Comecei a andar em direcçao a casa-de-banho, quando o meu pai se levantou num salto e gritou:
-Não vais embora!
-Vou só a casa-de-banho... -disse. Lembro-me de me sentir muito feliz por ele me querer impedir de ir embora. Ele queria estar comigo.
Lembro-me que ele se acalmou... E não sei como acabou o sonho.
Era naquele restaurante que ele, eu e o meu irmão nos encontrávamos todas as quartas-feiras, antes de ele ir embora. Iamos la tantas vezes que começaram a oferecer-me pulseiras.
Passados dois anos sem o ver, voltei a esse restaurante: tinha tido uma excelente nota num teste qualquer, e, geralmente, eu podia ir buscar sopa chinesa para o meu jantar quando isso acontecia.
Nem eu, nem o meu irmão, e muito menos a minha mãe, la tínhamos ido desde que os encontros com o meu pai tinham sido cancelados...
Ao reconhecer-me, o empregado riu e quase saltou de contentamento, enquanto tagarelava:
-Ilmaozinho, Ilmaozinho! - disse ele, assinalando com a mão a altura que o meu irmão tinha da ultima vez que o vira.
-Irmaozao! - respondei, com um sorriso, agitando a mão acima da minha cabeça, para que ele percebesse que agora o Tomas era bem maior que eu.
Ele riu, todo satisfeito, e logo a seguir perguntou:
-E o pai?
-Não o vejo há dois anos!- respondi, com toda a naturalidade.
O homem ficou aterrado, e durante uns instantes não se mexeu, limitou-se a olhar para mim, mudo, com uma expressão de horror na cara.
Nao o vejo ha mais ou menos quatro anos, e mal me lembro da cara dele: so me consigo recordar de uma fotografia sua que me ofereceu pouco antes de se ir embora, dizendo que como nao gostava dela, eu podia ficar com ela.
Desde algum tempo para ca, quando tento pensar na cara do meu pai, por muito que me esforce, e sempre igual aquela fotografia: sempre a mesma expressão, como se o rosto tivesse sido congelado, sempre o mesmo olhar vago, o cabelo penteado para o mesmo lado e a barba feita, o colarinho da mesma camisola...
Tenho imensa curiosidade em saber como esta agora.
Ha uns dias, o meu irmao esteve com ele: para mim, foi muito estranho. Parecia que ele tinha estado com uma pessoa de quem sempre falamos mas que na realidade, nao existe, e com a qual nunca estariamos (como um personagem de um filme, ou assim...).
Ate tive alguma inveja do meu irmao.
Quando eu voltei a casa nesse dia, so queria ouvir uma descrição sua do aspecto do pai, apesar de os assuntos discutidos no tribunal serem muito mais importantes.
O Tomas revelou-me que o nosso pai era muito mais pequeno que ele (algo que eu ja sabia, uma vez que decorei a altura do meu pai muito antes de ele sair da casa, e sei que hoje medimos os dois 1,74cm, muito inferiores aos 1,80m e tal do meu irmao), tinha a voz muito mais fina que a dele (isto fez-me muita impressao, mas uma vez que nao me lembro da voz do meu pai nao consegui sequer imaginar como seria a sua voz fininha), e contou-me ainda que estava mais velho, e, ate, feio.
-Feio?! - exclamei, incredula. Lembro-me de ter achado o meu pai bonito toda a minha vida.
-Sim - insistiu o meu irmao. Contou-me que agora o pai tinha as bochechas descaídas e a cara mais quadrada, alguma barriguinha, e parecia atarracado.
-Parece que encolheu!- comentou.
-Queres dizer que esta a mirrar??
-Sim. Se calhar, ate esta mais baixo que tu. A serio, vais dar pela diferença quando o voltares a ver.
Bem tentei, mas nao o consegui imaginar assim: so o conseguia ver como naquela maldita fotografia.
Contaram-me ainda que o meu pai nao reconheceu o meu irmao e nao saberia quem ele era se este nao se tivesse aproximado dele, e tambem sei que nao perguntou por mim.
Mas esta noite sonhei com o meu pai.
Por um motivo qualquer, a minha mae levava-me ao restaurante chines perto da nossa casa em Massama (o que e absurdo, porque ela se fartou de comida chinesa depois de eu a forçar a ela e ao resto da familia a ir la constantemente).
Eu estava felicissima, a falar com ela e a rir (adoooro comida chinesa), ate, ao passar por uma parede de vidro pintada, me deparar com duas pessoas sentadas a uma mesa. Uma delas, sei que era o meu irmao, apesar de nao ter visto mais que a sua silhueta, uma forma muito pouco difusa. A outra, era o meu pai.
Estava tal e qual o Tomas o tinha descrito, com a exactidao que apenas os sonhos e a imaginaçao desgovernada sao capazes de conceber, mas, ainda assim, eu reconheci-o.
Parecia que o mundo tinha parado e so existiam os olhos dele, muito concentrados e fitos em mim.
Ja nao me lembro como era a cara dele... So sei que tinha as bochechas descaídas, de facto, e grandes papos cor-de-rosa debaixo dos olhos. O resto, nao consigo descrever.
Dei meia volta, meio atordoada, e senti uma terrivel vontade de ir a casa-de-banho.
Comecei a andar em direcçao a casa-de-banho, quando o meu pai se levantou num salto e gritou:
-Não vais embora!
-Vou só a casa-de-banho... -disse. Lembro-me de me sentir muito feliz por ele me querer impedir de ir embora. Ele queria estar comigo.
Lembro-me que ele se acalmou... E não sei como acabou o sonho.
Era naquele restaurante que ele, eu e o meu irmão nos encontrávamos todas as quartas-feiras, antes de ele ir embora. Iamos la tantas vezes que começaram a oferecer-me pulseiras.
Passados dois anos sem o ver, voltei a esse restaurante: tinha tido uma excelente nota num teste qualquer, e, geralmente, eu podia ir buscar sopa chinesa para o meu jantar quando isso acontecia.
Nem eu, nem o meu irmão, e muito menos a minha mãe, la tínhamos ido desde que os encontros com o meu pai tinham sido cancelados...
Ao reconhecer-me, o empregado riu e quase saltou de contentamento, enquanto tagarelava:
-Ilmaozinho, Ilmaozinho! - disse ele, assinalando com a mão a altura que o meu irmão tinha da ultima vez que o vira.
-Irmaozao! - respondei, com um sorriso, agitando a mão acima da minha cabeça, para que ele percebesse que agora o Tomas era bem maior que eu.
Ele riu, todo satisfeito, e logo a seguir perguntou:
-E o pai?
-Não o vejo há dois anos!- respondi, com toda a naturalidade.
O homem ficou aterrado, e durante uns instantes não se mexeu, limitou-se a olhar para mim, mudo, com uma expressão de horror na cara.
Ele só queria ficar no meu quarto...
Ha já muito tempo que não escrevo nada aqui (tenho estado muito ocupada), e infelizmente já me esqueci de muitos dos sonhos que tenho tido.
Esta noite porem, tive um sonho que não posso adiar.
Um pesadelo, alias.
Sonhei que estava a dormir no meu quarto, e que ao acordar me deparava com um grande e gordo homem negro sentado aos pés da minha cama.
Ao lado da minha cama, no chão, estava uma gambiarra com pequeninas e coloridas lanternas chinesas que realmente tenho, e que, de facto, estava ligada naquela noite, projectando uma luz avermelhada no meu quarto.
Tudo estava tal e qual a realidade.
Excepto o homem, que olhava para mim e sorria. Parecia louco.
Pedi-lhe para sair do meu quarto, mas ele limitou-se a rir (e penso que também cantarolou qualquer coisa) e não se mexeu.
Gritei pelo meu irmão que, muito, mas mesmo muito chateado por eu o ter acordado, veio ate ao meu quarto (o quarto dele e mesmo ao lado do meu) e puxou e empurrou o homem la para fora. Logo a seguir, deitou-se, decidido a não se levantar novamente ate de manha.
Entretanto, eu saltei da cama e, entreabrindo a porta, tirei a chave do lado de fora e tentei trancar a porta a partir de dentro.
Quando tinha acabado de o fazer, vi as pontas de um gancho de cabelo aparecerem na fechadura e empurrarem a chave para fora, ao mesmo tempo que a porta se abria:
-Não! - gritei.
Esforcei-me por voltar a fechar a porta, empurrei-a e atirei-me contra ela, mas o homem era demasiado forte... Também gritei pelo meu irmão, mas ele não apareceu.
Não me lembro como terminou o sonho. Sei no entanto que o homem não me queria fazer mal nenhum, só queria estar no meu quarto, sentado aos pés da minha cama. Eu e que não o queria la... era perturbador.
Esta noite porem, tive um sonho que não posso adiar.
Um pesadelo, alias.
Sonhei que estava a dormir no meu quarto, e que ao acordar me deparava com um grande e gordo homem negro sentado aos pés da minha cama.
Ao lado da minha cama, no chão, estava uma gambiarra com pequeninas e coloridas lanternas chinesas que realmente tenho, e que, de facto, estava ligada naquela noite, projectando uma luz avermelhada no meu quarto.
Tudo estava tal e qual a realidade.
Excepto o homem, que olhava para mim e sorria. Parecia louco.
Pedi-lhe para sair do meu quarto, mas ele limitou-se a rir (e penso que também cantarolou qualquer coisa) e não se mexeu.
Gritei pelo meu irmão que, muito, mas mesmo muito chateado por eu o ter acordado, veio ate ao meu quarto (o quarto dele e mesmo ao lado do meu) e puxou e empurrou o homem la para fora. Logo a seguir, deitou-se, decidido a não se levantar novamente ate de manha.
Entretanto, eu saltei da cama e, entreabrindo a porta, tirei a chave do lado de fora e tentei trancar a porta a partir de dentro.
Quando tinha acabado de o fazer, vi as pontas de um gancho de cabelo aparecerem na fechadura e empurrarem a chave para fora, ao mesmo tempo que a porta se abria:
-Não! - gritei.
Esforcei-me por voltar a fechar a porta, empurrei-a e atirei-me contra ela, mas o homem era demasiado forte... Também gritei pelo meu irmão, mas ele não apareceu.
Não me lembro como terminou o sonho. Sei no entanto que o homem não me queria fazer mal nenhum, só queria estar no meu quarto, sentado aos pés da minha cama. Eu e que não o queria la... era perturbador.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Sonhos depois de uma separaçao
Agora que já não me dói tanto o orgulho, posso aqui escrever alguns sonhos que tive pouco depois de me separar do meu ex-namorado.
Na altura, tinha esperança de poder pelo menos sonhar que continuávamos juntos, para que durante a noite a dor não fosse tão grande quanto de dia.
Porem, o meu subconsciente parecia bastante consciente do nosso afastamento.
Sonhei que nos reencontrávamos numa pequena sala, muito estreita, em forma de "L", com as paredes pintadas de azul escuro.
Eu estava num extremo, e não conseguia ver alem da esquina. A minha frente estava uma mesa de madeira escura e antiga, e logo a seguir estava ele.
Ao lado dele, Havia um grande relógio de pêndulo.
Eu estava fora de mim por voltar a vê-lo, mas ele parecia indiferente... não: parecia que estava aborrecido por me voltar a ver, como se eu fosse um grande inconveniente.
Contou-me que já não queria saber de mim, que não sentia nada por mim... Revelou-me que, uma noite apenas depois de termos acabado o namoro, traíra-me.
Disse-o assim, utilizando aquela mesma palavra: "trai-te".
Repetiu que arranjara outra, que gostara, e mandou-me embora.
Senti o coração esmagado, como se estivesse acordada e ele me tivesse realmente dito aquilo.
Corri para ele, enfurecida, e empurrei-o sem pensar contra o relógio de pêndulo.
Bateu com a cabeça no vidro e caiu, desmaiado ou morto, entre a mesa e o relógio (que permaneceu de pé e a trabalhar), rodeado de cacos.
-Liro! - solucei, enquanto me ajoelhava ao lado dele e o puxava para o meu colo. Desejei com todas as minhas forças que o tempo voltasse atrás, como nos filmes ou nos jogos, e eu pudesse remediar o que fizera.
Tirei-lhe os pedaços de vidro da carne, puxando com especial cuidado um que ficara profundamente enterrado na cabeça, no meio de todo aquele longo cabelo castanho.
Limpei-lhe o sangue com as mãos, não me lembro se conseguia sequer chorar, de tão triste e assustada que estava:
-Desculpa, desculpa! -gemi, ao mesmo tempo que o sacudia devagarinho, como se estivesse a tentar reanima-lo.
De repente, ouvi passos e o pai dele apareceu ali, ao meu lado, a olhar para o que eu fizera ao seu filho.
Uma outra vez tive um sonho particularmente ridículo. O mundo ia acabar, mas só em Portugal (veja-se bem a nossa sorte...).
Neste distorcido Universo, as escolas funcionavam como orfanatos que se responsabilizavam a cem por cento dos alunos que lhes eram entregues. Como eu sabia que o Liro faltava habitualmente as aulas, tinha a certeza que ele não estaria presente quando os orfanatos se preparassem para nos evacuar para um local seguro: tinha de ir busca-lo.
Lembro-me vagamente de passar pelas janelas do orfanato, quando me ia embora, e ver os miúdos da minha escola numa grande batalha com os de outra escola. Estavam todos empoleirados nas janelas dos edifícios, que estavam frente a frente (e flutuavam em cima de plataformas,como se fossem barcos, ou jangadas), e atiravam tudo e mais alguma coisa uns aos outros.
Fui encontrar o Liro naquilo que parecia um insuflável gigante de cores vivas perto da baía de Tróia. Sera que o encontrei a ele?... Algo me diz que quem eu encontrei foi um mago que me deu um recado dele: tinha encontrado uma miúda com umas pernas fantásticas, e já não queria saber de mim... Preveniu-me também que tínhamos de tratar do divorcio: descobri então que, apesar de eu e o Liro não sermos casados, no sonho éramos noivos, e aparentemente precisávamos de um divorcio para deixarmos de o ser.
Muito triste, afastei-me... E pouco depois encontrei o meu amigo David, a bordo de um pequeno mas luxuoso barco, que me convidou para um passeio para me animar. Saltei para bordo e depois de um bom bocado no rio Sado fomos ate a escola D.Pedro IV, em Queluz, que frequentei do 5º ao 9º ano.
La, dirigimos-nos a papelaria (onde alem de material costumava comprar as senhas de almoço, e onde estava uma continua particularmente feia e mal humorada, de que ninguém gostava: a Dª Amélia, que tinha cabelo preto curto e ondulado, e óculos tão espessos que faziam parecer enormes os seus olhos ameaçadores).
La, compramos um gelado para cada um, e lembro-me de estar tão feliz que nem parecia que eu e o Liro nos tínhamos separado.
Outra noite sonhei que ele me revelava que tinha um jipe e namorava com um amigo seu que eu tinha conhecido. Foi tão perturbador...
Outras vezes ainda sonhei que o surpreendia com uma colega nossa (sempre a mesma)... e habitualmente eu dava a rapariga uma grande tareia.
Certa vez, atirei-a de uma janela, mas caraças, ela não morreu!
Depois sentia-me muito mal comigo mesma: não era preciso fazer nada daquilo, certamente ter-me-ia sentido melhor dizendo-lhe apenas o que tinha para lhe dizer.
Houve noites, também, em que me vi com outros homens, num misto de prazer e culpa, em que via outros mas pensava nele.
Na altura, tinha esperança de poder pelo menos sonhar que continuávamos juntos, para que durante a noite a dor não fosse tão grande quanto de dia.
Porem, o meu subconsciente parecia bastante consciente do nosso afastamento.
Sonhei que nos reencontrávamos numa pequena sala, muito estreita, em forma de "L", com as paredes pintadas de azul escuro.
Eu estava num extremo, e não conseguia ver alem da esquina. A minha frente estava uma mesa de madeira escura e antiga, e logo a seguir estava ele.
Ao lado dele, Havia um grande relógio de pêndulo.
Eu estava fora de mim por voltar a vê-lo, mas ele parecia indiferente... não: parecia que estava aborrecido por me voltar a ver, como se eu fosse um grande inconveniente.
Contou-me que já não queria saber de mim, que não sentia nada por mim... Revelou-me que, uma noite apenas depois de termos acabado o namoro, traíra-me.
Disse-o assim, utilizando aquela mesma palavra: "trai-te".
Repetiu que arranjara outra, que gostara, e mandou-me embora.
Senti o coração esmagado, como se estivesse acordada e ele me tivesse realmente dito aquilo.
Corri para ele, enfurecida, e empurrei-o sem pensar contra o relógio de pêndulo.
Bateu com a cabeça no vidro e caiu, desmaiado ou morto, entre a mesa e o relógio (que permaneceu de pé e a trabalhar), rodeado de cacos.
-Liro! - solucei, enquanto me ajoelhava ao lado dele e o puxava para o meu colo. Desejei com todas as minhas forças que o tempo voltasse atrás, como nos filmes ou nos jogos, e eu pudesse remediar o que fizera.
Tirei-lhe os pedaços de vidro da carne, puxando com especial cuidado um que ficara profundamente enterrado na cabeça, no meio de todo aquele longo cabelo castanho.
Limpei-lhe o sangue com as mãos, não me lembro se conseguia sequer chorar, de tão triste e assustada que estava:
-Desculpa, desculpa! -gemi, ao mesmo tempo que o sacudia devagarinho, como se estivesse a tentar reanima-lo.
De repente, ouvi passos e o pai dele apareceu ali, ao meu lado, a olhar para o que eu fizera ao seu filho.
Uma outra vez tive um sonho particularmente ridículo. O mundo ia acabar, mas só em Portugal (veja-se bem a nossa sorte...).
Neste distorcido Universo, as escolas funcionavam como orfanatos que se responsabilizavam a cem por cento dos alunos que lhes eram entregues. Como eu sabia que o Liro faltava habitualmente as aulas, tinha a certeza que ele não estaria presente quando os orfanatos se preparassem para nos evacuar para um local seguro: tinha de ir busca-lo.
Lembro-me vagamente de passar pelas janelas do orfanato, quando me ia embora, e ver os miúdos da minha escola numa grande batalha com os de outra escola. Estavam todos empoleirados nas janelas dos edifícios, que estavam frente a frente (e flutuavam em cima de plataformas,como se fossem barcos, ou jangadas), e atiravam tudo e mais alguma coisa uns aos outros.
Fui encontrar o Liro naquilo que parecia um insuflável gigante de cores vivas perto da baía de Tróia. Sera que o encontrei a ele?... Algo me diz que quem eu encontrei foi um mago que me deu um recado dele: tinha encontrado uma miúda com umas pernas fantásticas, e já não queria saber de mim... Preveniu-me também que tínhamos de tratar do divorcio: descobri então que, apesar de eu e o Liro não sermos casados, no sonho éramos noivos, e aparentemente precisávamos de um divorcio para deixarmos de o ser.
Muito triste, afastei-me... E pouco depois encontrei o meu amigo David, a bordo de um pequeno mas luxuoso barco, que me convidou para um passeio para me animar. Saltei para bordo e depois de um bom bocado no rio Sado fomos ate a escola D.Pedro IV, em Queluz, que frequentei do 5º ao 9º ano.
La, dirigimos-nos a papelaria (onde alem de material costumava comprar as senhas de almoço, e onde estava uma continua particularmente feia e mal humorada, de que ninguém gostava: a Dª Amélia, que tinha cabelo preto curto e ondulado, e óculos tão espessos que faziam parecer enormes os seus olhos ameaçadores).
La, compramos um gelado para cada um, e lembro-me de estar tão feliz que nem parecia que eu e o Liro nos tínhamos separado.
Outra noite sonhei que ele me revelava que tinha um jipe e namorava com um amigo seu que eu tinha conhecido. Foi tão perturbador...
Outras vezes ainda sonhei que o surpreendia com uma colega nossa (sempre a mesma)... e habitualmente eu dava a rapariga uma grande tareia.
Certa vez, atirei-a de uma janela, mas caraças, ela não morreu!
Depois sentia-me muito mal comigo mesma: não era preciso fazer nada daquilo, certamente ter-me-ia sentido melhor dizendo-lhe apenas o que tinha para lhe dizer.
Houve noites, também, em que me vi com outros homens, num misto de prazer e culpa, em que via outros mas pensava nele.
Sonhos em Atraso: Uma Epidemia de Zombies, A Animação do Exame de Condução e Moçambique
Não tenho tido muito tempo para escrever, e por isso este diário dos meus sonhos encontra-se um pouco desactualizado... Agora que tenho um pouco de tempo livre, vou aproveitar para o por em dia...
Não me recordo de quando sonhei este sonho... Havia uma epidemia de zombies, não sei se a nível de uma cidade, de um pais, ou se do mundo inteiro: sei que eu e os meus colegas constávamos entre os sobreviventes e todos os dias tínhamos de lutar para não nos juntarmos aos monstros.
Penso que para escapar a um grupo de monstros, tivemos de refugiar-nos num grande edifício abandonado, de tecto alto e salas amplas, com as portas e algumas das janelas escondidas atrás de tábuas velhas. A tinta das paredes estava gasta, e muitas vezes via-se apenas o áspero cimento.
Lembro-me de estar sozinha numa divisão, a olhar desconfiada a minha volta, antes de chamar os meus colegas: podíamos esconder-nos ali.
Ao explorar a casa, acabamos por descobrir uma serie de quartos com paredes claras em tons de pastel, e muito iluminados: a luz que entrava pelas janelas era tão brilhante que, ao olhar-mos para o exterior, via-mos apenas branco.
Havia em cada quarto varias camas, e espalhada sobre os lençóis e pelo o chão, a mais variada tralha: tudo objectos pessoais nossos.
Todos vasculhamos os quartos a procura dos nossos pertences. Eu encontrei o meu colar com um chifre de gazela (que a minha avo me deu a pouco tempo), um outro colar com um dente de javali (que esta estragado) e um terceiro objecto, que não considerei muito importante, visto que não me lembro dele. Analisei os dois colares, a pensar como me poderiam ser úteis para combater os monstros. Conclui que o chifre de gazela era demasiado curto para ferir com eficácia, alem de que muito facilmente se descolaria do pendente quando o tentasse arrancar da carne de algum zombie, pelo que limitei-me a po-lo ao pescoço, decidida a usa-lo como ultimo recurso, somente. O dente de javali, esse, pareceu-me indispensável: enrolei o fio do colar partido ao redor do dente e enfiei-o no bolso, pronto a puxa-lo para fora e usa-lo como se fosse um punhal.
Pouco depois, vários monstros conseguiram entrar no nossos esconderijo.
Eu e os meus colegas lutamos com bravura: ao ver um amigo em perigo, corri na sua direcção, esquivando-me de amigos e inimigos. O zombie tinha o meu amigo preso nos braços, e um outro zombie, ao lado dele, ria-se do sofrimento da presa. Estavam mesmo a estrada de um quarto.
-Olha a Carolina! - disse um deles como se gozasse comigo, enquanto o outro ria.
Mas eu ignorei-os, e, lembrando-me do que a minha mãe me ensinara, lancei-me sobre aquele que tinha preso o meu amigo e espetei o dente no seu olho esquerdo (sendo que estávamos frente a frente).
-Oh, não, tu não vais fazer isso! - duvidaram eles, antes de eu atacar.
Eu própria duvidei, fechei os olhos, com medo e enojada, e assim desferi o golpe, sentindo a minha arma enfiar-se na carne macia.
Quando tornei a abrir os olhos, usei o dente como se fosse um gancho e puxei o olhos para fora. Vi a carne vermelha rasgada sair lentamente da orbita, sem que caísse, curiosamente, uma única gota de sangue, e sem que o dente ficasse sujo. Tive esperanças de ter perfurado o cérebro.
-Ela gosta de deixar a mar, como se fosse uma assinatura! -disse o monstro que estivera assistir.
Ataquei-o a ele a seguir.
Eu e os meus colegas continuamos a lutar, eu a arrancar olhos como se arrancasse rolhas a garrafas de vinhos, ate um monstro me prender firmemente nos seus braços.
Desesperada, sabia que devia atacar os olhos, já que era a única maneira de os deter, mas apenas consegui apunhalar varias vezes o peito, cheia de medo de perder a minha arma, presa entre duas costelas.
O zombie ignorou os meus ataques, alias, riu-se mim.
Agarrou a minha cabeça como se a quisesse torcer sobre o pescoço, e fez-me cair sobre uma cama assim.
Com o tronco deitado no colchão e as pernas tombadas para fora da cama, a sentir as pernas do zombie entre as minhas enquanto ele se aproximava de mim para ter a certeza que não escapava nem me defendia enquanto me matava, tive tanto medo que me apeteceu gritar por socorro, mas não fui capaz.
De onde eu estava, conseguia ver a porta do quarto.
Foi então que apareceu Leonor, e segurou a cabeça do monstro da mesma maneira que ele segurara a minha. Não sei porque, mas eles ficavam completamente indefesos quando os seguravam assim.
Ela ia mata-lo. Eu sabia. Ia salvar-me!
Mas Leonor demorou tanto tempo a segredar palavras irónicas e ameaçadoras aos ouvidos do zombie que eu me irritei com ela, e me apeteceu gritar-lhe que eu própria a mataria se ela não se despachasse!
Mas não consegui.
Quando ela finalmente o matou (nao sei como foi, se lhe partiu o pescoço ou se fez outra coisa qualquer) levantei-me com um salto e afastei-me enquanto murmurava:
-Estava a ver que nunca mais!
Acho muito interessante o facto de os zombies serem pessoas perfeitamente normais: aqueles de que melhor me recordo são os dois que aterrorizavam o meu amigo: eram altos magros, e tinham o cabelo curto espetado, preto. Ambos eram pálidos, mas nada fora do normal.
Esta terça-feira foi um dia importante para mim: tive o meu exame de condução, e pouco depois teria de mostrar os meus trabalhos ao professor de animação Zepe, na faculdade.
Estava tão nervosa que dormi muito mal, e nem mesmo durante os meus sonhos pude escapar ao que me esperava no dia seguinte: sonhei que tinha de fazer, em papelinhos de 6x10 cm, em tinta da china preta, uma animação de um carro a circular na via, e de mim própria a conduzi-lo.
Zepe e o temível examinador observavam com ar austero o meu trabalho, enquanto decidiam se eu devia ou não passar.
Não me lembro do final do sonho, mas no dia seguinte correu tudo muito bem!
Uma noite destas sonhei com um curioso mapa: focava-se em Moçambique, apesar de eu ter a noção que era muito mais extenso e que se eu quisesse pudera viajar pelo mundo todo, como se se tratasse do Google Earth.
Neste meu sonho, a ilha de Madagáscar era o arquipélago da Madeira, e tudo estava disposto de uma maneira tão estranha e retorcida, que, um pouco a nordeste dessa Madeira, ficavam Portugal, e toda a restante Europa.
Ora, ou a Europa se encontrava no lugar da Ásia, ou Moçambique estava separado de África, e flutuava como uma ilha no Oceano, junto dos nossos arquipélagos.
Porque fui eu que sonhei este sonho, tenho o privilegio de saber que se tratava da segunda hipótese, sem precisar de mais justificações.
O mapa aparecia como pretexto para me explicarem que a minha colega Leonor morava em Moçambique, e podia vir todos os dias estudar a Faculdade de Belas Artes de Lisboa, que ficava na Madeira!
Enquanto me explicavam isto, pequenos traços vermelhos apareciam desenhados no mar, a ilustrar a rota que ela seguia todos os dias.
Fiquei felicíssima: podia ir viver para Moçambique, finalmente!, porque poderia continuar a estudar em Portugal, todos os dias.
Lembro-me vagamente de estar no costa verdejante, a olhar para uma ilha redonda pouco distante, que era Moçambique (o que e curioso, e que quando eu vira o mapa Moçambique não tinha aquele formato, nem o formato que realmente tem: era quase rectangular).
Acho que havia a minha esquerda uma outra grande ilha, muito alta, e toda rodeada de um espesso nevoeiro: podia ser uma enorme montanha que emergia do mar e subia ate ao céu, ou um gigantesco pedaço de terra flutuante (não sei porque não conseguia ver a base) como as montanhas Aleluia, do filme Avatar.
Mas não lhe prestei atenção: só tinha olhos para Moçambique, e para o oceano maravilhoso que se estendia a seguir, sem que se visse mais nada, alias, como se não existisse mais nada alem dele...
Conseguia ver a curvatura da terra, e já não sei se o céu estava azul, ou se dourado, como um por-do-sol cinematográfico.
Não me recordo de quando sonhei este sonho... Havia uma epidemia de zombies, não sei se a nível de uma cidade, de um pais, ou se do mundo inteiro: sei que eu e os meus colegas constávamos entre os sobreviventes e todos os dias tínhamos de lutar para não nos juntarmos aos monstros.
Penso que para escapar a um grupo de monstros, tivemos de refugiar-nos num grande edifício abandonado, de tecto alto e salas amplas, com as portas e algumas das janelas escondidas atrás de tábuas velhas. A tinta das paredes estava gasta, e muitas vezes via-se apenas o áspero cimento.
Lembro-me de estar sozinha numa divisão, a olhar desconfiada a minha volta, antes de chamar os meus colegas: podíamos esconder-nos ali.
Ao explorar a casa, acabamos por descobrir uma serie de quartos com paredes claras em tons de pastel, e muito iluminados: a luz que entrava pelas janelas era tão brilhante que, ao olhar-mos para o exterior, via-mos apenas branco.
Havia em cada quarto varias camas, e espalhada sobre os lençóis e pelo o chão, a mais variada tralha: tudo objectos pessoais nossos.
Todos vasculhamos os quartos a procura dos nossos pertences. Eu encontrei o meu colar com um chifre de gazela (que a minha avo me deu a pouco tempo), um outro colar com um dente de javali (que esta estragado) e um terceiro objecto, que não considerei muito importante, visto que não me lembro dele. Analisei os dois colares, a pensar como me poderiam ser úteis para combater os monstros. Conclui que o chifre de gazela era demasiado curto para ferir com eficácia, alem de que muito facilmente se descolaria do pendente quando o tentasse arrancar da carne de algum zombie, pelo que limitei-me a po-lo ao pescoço, decidida a usa-lo como ultimo recurso, somente. O dente de javali, esse, pareceu-me indispensável: enrolei o fio do colar partido ao redor do dente e enfiei-o no bolso, pronto a puxa-lo para fora e usa-lo como se fosse um punhal.
Pouco depois, vários monstros conseguiram entrar no nossos esconderijo.
Eu e os meus colegas lutamos com bravura: ao ver um amigo em perigo, corri na sua direcção, esquivando-me de amigos e inimigos. O zombie tinha o meu amigo preso nos braços, e um outro zombie, ao lado dele, ria-se do sofrimento da presa. Estavam mesmo a estrada de um quarto.
-Olha a Carolina! - disse um deles como se gozasse comigo, enquanto o outro ria.
Mas eu ignorei-os, e, lembrando-me do que a minha mãe me ensinara, lancei-me sobre aquele que tinha preso o meu amigo e espetei o dente no seu olho esquerdo (sendo que estávamos frente a frente).
-Oh, não, tu não vais fazer isso! - duvidaram eles, antes de eu atacar.
Eu própria duvidei, fechei os olhos, com medo e enojada, e assim desferi o golpe, sentindo a minha arma enfiar-se na carne macia.
Quando tornei a abrir os olhos, usei o dente como se fosse um gancho e puxei o olhos para fora. Vi a carne vermelha rasgada sair lentamente da orbita, sem que caísse, curiosamente, uma única gota de sangue, e sem que o dente ficasse sujo. Tive esperanças de ter perfurado o cérebro.
-Ela gosta de deixar a mar, como se fosse uma assinatura! -disse o monstro que estivera assistir.
Ataquei-o a ele a seguir.
Eu e os meus colegas continuamos a lutar, eu a arrancar olhos como se arrancasse rolhas a garrafas de vinhos, ate um monstro me prender firmemente nos seus braços.
Desesperada, sabia que devia atacar os olhos, já que era a única maneira de os deter, mas apenas consegui apunhalar varias vezes o peito, cheia de medo de perder a minha arma, presa entre duas costelas.
O zombie ignorou os meus ataques, alias, riu-se mim.
Agarrou a minha cabeça como se a quisesse torcer sobre o pescoço, e fez-me cair sobre uma cama assim.
Com o tronco deitado no colchão e as pernas tombadas para fora da cama, a sentir as pernas do zombie entre as minhas enquanto ele se aproximava de mim para ter a certeza que não escapava nem me defendia enquanto me matava, tive tanto medo que me apeteceu gritar por socorro, mas não fui capaz.
De onde eu estava, conseguia ver a porta do quarto.
Foi então que apareceu Leonor, e segurou a cabeça do monstro da mesma maneira que ele segurara a minha. Não sei porque, mas eles ficavam completamente indefesos quando os seguravam assim.
Ela ia mata-lo. Eu sabia. Ia salvar-me!
Mas Leonor demorou tanto tempo a segredar palavras irónicas e ameaçadoras aos ouvidos do zombie que eu me irritei com ela, e me apeteceu gritar-lhe que eu própria a mataria se ela não se despachasse!
Mas não consegui.
Quando ela finalmente o matou (nao sei como foi, se lhe partiu o pescoço ou se fez outra coisa qualquer) levantei-me com um salto e afastei-me enquanto murmurava:
-Estava a ver que nunca mais!
Acho muito interessante o facto de os zombies serem pessoas perfeitamente normais: aqueles de que melhor me recordo são os dois que aterrorizavam o meu amigo: eram altos magros, e tinham o cabelo curto espetado, preto. Ambos eram pálidos, mas nada fora do normal.
Esta terça-feira foi um dia importante para mim: tive o meu exame de condução, e pouco depois teria de mostrar os meus trabalhos ao professor de animação Zepe, na faculdade.
Estava tão nervosa que dormi muito mal, e nem mesmo durante os meus sonhos pude escapar ao que me esperava no dia seguinte: sonhei que tinha de fazer, em papelinhos de 6x10 cm, em tinta da china preta, uma animação de um carro a circular na via, e de mim própria a conduzi-lo.
Zepe e o temível examinador observavam com ar austero o meu trabalho, enquanto decidiam se eu devia ou não passar.
Não me lembro do final do sonho, mas no dia seguinte correu tudo muito bem!
Uma noite destas sonhei com um curioso mapa: focava-se em Moçambique, apesar de eu ter a noção que era muito mais extenso e que se eu quisesse pudera viajar pelo mundo todo, como se se tratasse do Google Earth.
Neste meu sonho, a ilha de Madagáscar era o arquipélago da Madeira, e tudo estava disposto de uma maneira tão estranha e retorcida, que, um pouco a nordeste dessa Madeira, ficavam Portugal, e toda a restante Europa.
Ora, ou a Europa se encontrava no lugar da Ásia, ou Moçambique estava separado de África, e flutuava como uma ilha no Oceano, junto dos nossos arquipélagos.
Porque fui eu que sonhei este sonho, tenho o privilegio de saber que se tratava da segunda hipótese, sem precisar de mais justificações.
O mapa aparecia como pretexto para me explicarem que a minha colega Leonor morava em Moçambique, e podia vir todos os dias estudar a Faculdade de Belas Artes de Lisboa, que ficava na Madeira!
Enquanto me explicavam isto, pequenos traços vermelhos apareciam desenhados no mar, a ilustrar a rota que ela seguia todos os dias.
Fiquei felicíssima: podia ir viver para Moçambique, finalmente!, porque poderia continuar a estudar em Portugal, todos os dias.
Lembro-me vagamente de estar no costa verdejante, a olhar para uma ilha redonda pouco distante, que era Moçambique (o que e curioso, e que quando eu vira o mapa Moçambique não tinha aquele formato, nem o formato que realmente tem: era quase rectangular).
Acho que havia a minha esquerda uma outra grande ilha, muito alta, e toda rodeada de um espesso nevoeiro: podia ser uma enorme montanha que emergia do mar e subia ate ao céu, ou um gigantesco pedaço de terra flutuante (não sei porque não conseguia ver a base) como as montanhas Aleluia, do filme Avatar.
Mas não lhe prestei atenção: só tinha olhos para Moçambique, e para o oceano maravilhoso que se estendia a seguir, sem que se visse mais nada, alias, como se não existisse mais nada alem dele...
Conseguia ver a curvatura da terra, e já não sei se o céu estava azul, ou se dourado, como um por-do-sol cinematográfico.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Qual D. Sebastião...
Ha uns anos sonhei que toda a minha família se encontrava, por acaso, em frente ao Vasco-da-Gama, junto aquela escultura vermelha muito esquisita.
Começamos todos a rir e a abraçar-nos uns aos outros, ate que, a uns passos de distancia, vi o Tio Grande, acenei-lhe e chamei-o, para que se juntasse a nos, mas, a sorrir, ele fez-me sinal para ficar calada, e afastou-se, em direcção ao nevoeiro, sem que mais ninguém desse por ele.
Começamos todos a rir e a abraçar-nos uns aos outros, ate que, a uns passos de distancia, vi o Tio Grande, acenei-lhe e chamei-o, para que se juntasse a nos, mas, a sorrir, ele fez-me sinal para ficar calada, e afastou-se, em direcção ao nevoeiro, sem que mais ninguém desse por ele.
Nunca se esqueçam do pin do telemovel!...
Num dos meus últimos dias de ferias sonhei que não consegui ligar o telemóvel: tinha-me esquecido do pin.
Por mais que tentasse, não conseguia lembrar-me.
Falhei duas tentativas, e antes da terceira, apareceu no ecrã do telemóvel um aviso que dizia que se eu falhasse novamente a Vodafone iria assumir que aquele telemóvel não era meu e eu o tinha roubado, pelo que ele desligar-se-ia automaticamente e enviariam helicópteros a minha procura, para me prender.
"bem..." pensei "O telemóvel e mesmo meu. De certeza que se falhar outra vez e eles enviarem helicópteros a minha procura, eu posso explicar--lhes o que aconteceu e eles ajudam-me a liga-lo".
Tentei outra vez, e falhei.
Durante três dias esperei que os tais helicópteros viessem, e, ao ver que não chegavam, dei comigo a pensar: "Isto 'ta muita mal feito! Então ando eu aqui sem telemóvel, só porque eles não mandam a porcaria dos helicópteros? Isto ta muita mal organizado!"
Por mais que tentasse, não conseguia lembrar-me.
Falhei duas tentativas, e antes da terceira, apareceu no ecrã do telemóvel um aviso que dizia que se eu falhasse novamente a Vodafone iria assumir que aquele telemóvel não era meu e eu o tinha roubado, pelo que ele desligar-se-ia automaticamente e enviariam helicópteros a minha procura, para me prender.
"bem..." pensei "O telemóvel e mesmo meu. De certeza que se falhar outra vez e eles enviarem helicópteros a minha procura, eu posso explicar--lhes o que aconteceu e eles ajudam-me a liga-lo".
Tentei outra vez, e falhei.
Durante três dias esperei que os tais helicópteros viessem, e, ao ver que não chegavam, dei comigo a pensar: "Isto 'ta muita mal feito! Então ando eu aqui sem telemóvel, só porque eles não mandam a porcaria dos helicópteros? Isto ta muita mal organizado!"
Detesto acordar antes da parte boa
Ha umas ou duas noites sonhei que (tal como realmente aconteceu no dia seguinte) apesar de ser fim-de-semana, a minha mãe trabalhava...
So que desta vez, obrigou-me a mim, ao meu irmão, ao nosso primo e ao nosso padrasto, a ir com ela, e la ficar ate ela poder sair também.
Mas era tão, tão, tão aborrecido...
A recepção do pavilhão atlântico ficara reduzida a uma salinha apertada e minúsculas cujas paredes estavam cobertas de uma pedra cor de areia, e onde não havia nada senão um elevador, um parede de vidro também com um porta de vidro por onde as pessoas deveriam entrar e um corredor com uma parede de espelho que conduzia a uma casa-de-banho.
Roguei a minha mãe que me deixasse e ao meu primo ir ate a Baixa, mas ela negou terminantemente e ele também não parecia muito interessado, sempre a perguntar-me o que havia la de interessante.
Acabei por perguntar se podia apanhar o metro e ir ao Vasco da Gama (porque agora o Pavilhão Atlântico ficava na estação da Baixa-Chiado) comer um "Choc & Chip" (um gelado delicioso que se compra na Ola).
Ela riu-se para mim e mostrou-me o papel de uma promoção (o papel realmente existiu, a promoção de que ela me falou, infelizmente não), que dizia que tínhamos ganho 258 euros para gastar apenas em gelados, pelo que podia comer os "Choc & chip" que quisesse.
Fiquei doida de alegria.
Antes de ir comprar o meu gelado, fui só ate ao corredor de espelhos tirar uma meia de senhora que estava a usar na cabeça como se fosse uma touca, para ir ate ao Vasco da Gama com um aspecto um pouco mais apresentável.
Ao fazê-lo, descobri que a minha mãe me tinha cortado o cabelo curto, com franja... Estava ondulado e giríssimo.
O sonho termina da pior maneira possível, já que acordei antes de comer o gelado, sem nenhum papelinho a falar daquela fantástica promoção e com o cabelo horrível.
So que desta vez, obrigou-me a mim, ao meu irmão, ao nosso primo e ao nosso padrasto, a ir com ela, e la ficar ate ela poder sair também.
Mas era tão, tão, tão aborrecido...
A recepção do pavilhão atlântico ficara reduzida a uma salinha apertada e minúsculas cujas paredes estavam cobertas de uma pedra cor de areia, e onde não havia nada senão um elevador, um parede de vidro também com um porta de vidro por onde as pessoas deveriam entrar e um corredor com uma parede de espelho que conduzia a uma casa-de-banho.
Roguei a minha mãe que me deixasse e ao meu primo ir ate a Baixa, mas ela negou terminantemente e ele também não parecia muito interessado, sempre a perguntar-me o que havia la de interessante.
Acabei por perguntar se podia apanhar o metro e ir ao Vasco da Gama (porque agora o Pavilhão Atlântico ficava na estação da Baixa-Chiado) comer um "Choc & Chip" (um gelado delicioso que se compra na Ola).
Ela riu-se para mim e mostrou-me o papel de uma promoção (o papel realmente existiu, a promoção de que ela me falou, infelizmente não), que dizia que tínhamos ganho 258 euros para gastar apenas em gelados, pelo que podia comer os "Choc & chip" que quisesse.
Fiquei doida de alegria.
Antes de ir comprar o meu gelado, fui só ate ao corredor de espelhos tirar uma meia de senhora que estava a usar na cabeça como se fosse uma touca, para ir ate ao Vasco da Gama com um aspecto um pouco mais apresentável.
Ao fazê-lo, descobri que a minha mãe me tinha cortado o cabelo curto, com franja... Estava ondulado e giríssimo.
O sonho termina da pior maneira possível, já que acordei antes de comer o gelado, sem nenhum papelinho a falar daquela fantástica promoção e com o cabelo horrível.
Entre os mortos
Esta noite tive um sonho fascinante: estava morta. Nao sei o que me matou, mas sei que era um fantasma: apesar de o meu corpo me parecer tao solido como sempre, nenhum vivo me via.
Lembro-me de estar no predio onde moram os meus avós, mas nao tinha sido la que tinha morrido, e, apesar de saber que tinha de fazer algo la, nao sei o que era.
Acho que vi escrito algures, ou disse-me uma voz, que quando fizesse o que tinha a fazer espiritos demoniacos seriam libertados e perseguir-me-iam, arrastando-me consigo para um lugar terrivel.
Mas tinha de o fazer. Depois, fugiria o mais rapidamente possível, pronto, tinha de ser.
Fi-lo. Estava em frente a uma porta "A", não sei em que andar, e os corredores estavam todos iluminados (na realidade, as luzes estao sempre apagadas, e so se acendem quando alguem pressiona um dos interroptores brilhantes). La fora, era noite.
Olhei a minha volta, sentindo a minha respiraçao ofegante entre os labios entreabertos.
Entao vi, no topo de um lance de escadas, mesmo ao pe da porta, surgir uma criatura medonha, como uma sombra, ou uma mancha, algo feito de carne mas sem ossos por dentro, que constantemente mudava de forma e grunhia ao aproximar-se de mim.
Voltei-lhe as costas e corri o mais depressa que podia. Ao atravessar o longo corredor do predio, cruzei-me com outros monstros, todos diferentes uns dos outros, mas sempre assustadores. Contornei-os, evitei-os com saltos ageis, e, quando cheguei ao fim do corredor, vi uma senhora viva a espreitar pela porta da sua casa, num cantinho ao lado das escadas (existem, neste predio, duas escadas, uma em cada extremo do corredor). Ela acenou-me e, com os olhos muitos arregalados, como se percebesse a minha aflição, dizia-me:
-Anda, anda! Podes fugir por aqui!
Corri pela casa dela adentro, ela fechou a porta atras de si e passou por mim cheia de pressa. Abriu uma janela e apontou la para fora:
-Va! Vai-te embora!
Percebi que ela nao queria que aquelas coisas horríveis entrassem em sua casa e compreendia perfeitamente. Obedeci, correndo em direcção a janela e saltando para o exterior.
Mais tarde, daria comigo a perguntar-me porque me vira a senhora, talvez fosse uma medium, ou assim.
Não me lembro como nem porque, mas sei que depois de percorrer um caminho qualquer, estava em casa dos meus avós, no segundo andar (tinha descido uns quantos andares, de certeza).
A minha avo e o meu avo estavam sentados nas respectivas poltronas, em silencio, a avo de camisa de noite de alças a olhar para a telivisaozinha pequena diante dela numa mesinha de pau preto e o avo a dormir, ainda vestido com uma camisa de mangas curtas metidas por umas calças de pano cinzento a dentro, com o queixo caído sobre o peito e uma expressão seria.
Nenhum deles me viu.
Da varanda coberta, olhei para a porta da casa: aquelas coisas estava la fora, a minha procura. O melhor era ir-me embora. Mas como? Se saísse pela porta, de certeza que me apanhavam.
A minha única hipótese era saltar da varanda.
Cheia de medo, aproximei-me de uma das janelas, que estava aberta, e subi para as calhas metálicas, a olhar la para baixo, para o terraço deserto, iluminado a um canto por um café silencioso.
Ao longe, via-se Tróia, a Figueirinha, e barcos cujas janelas iluminadas se reflectiam nas aguas do Sado. O ar estava quente, e sentia-se as vezes um vento fresco que arrepiava.
Soube que se ficasse demasiado tempo a pensar que tinha de saltar, nunca o conseguira fazer, pelo que, a tremer, sentei-me na janelas com as pernas caídas para o lado de fora e, muito lentamente, apoiando-me nos braços, levantei o rabo das calhas e senti o corpo todo suspenso no ar, seguro apenas pelas palmas das mãos que continuavam agarradas as janelas.
"Agora ja esta" pensei, enquanto fechava os olhos.
Saltei, e, passado um instante, quase nada, aterrei suavemente no terraço, fazendo apenas um pouco de barulho.
Por uma fracção de segundo fiquei feliz com esta minha vitoria, mas logo depois lembrei-me da porta do prédio mesmo atrás de mim, ladeada por duas compridas janelas, através das quais os meus perseguidores me poderiam ver.
Corri o mais depressa que pude, espreitando um instante por cima do ombro ao sair do terraço.
Os meus pés eram levíssimos, parecia que nem tocavam no chão, mas que flutuavam pouco acima deste. Não tenho a certeza se estava de ténis ao descalça.
Percorri toda a rua do Moinho do Frade, pelo lado esquerdo: lembro-me bem dos carros estacionados ao meu lado e do chão de calçada debaixo de mim.
Depois, algures, virei a esquerda, para onde deveria estar um terreno em muito mas condições, onde há anos atrás, estiveram as ruínas do moinho que dera o nome a rua.
Curiosamente, esse terreno dava para um rua estreita de prédios baixos que conduzia a um lugar muito semelhante ao bairro alto, cheio de bares, de gente e um pouco inclinado, só que as fachadas dos prédios e das casas eram brancas. Tenho ideia que, aqui e ali, havia lanternas chinesas rectangulares pequeninas e coloridas (lembro-me vagamente de ver uma verde-anis e outra fushia) penduradas na fachada de um prédio e do outro que estava em frente.
Vagueei entre os vivos por aquelas ruas, ate me deparar com duas amigas: a Catarina e a Inês. Ambas me viram: estavam mortas!
As três ficamos muitos felizes por nos encontrarmos: já que não podíamos falar com os vivos, e conhecíamos muitos poucos mortos, era uma grande sorte termos morrido todas.
Mas confessei-lhes que tinha muitas saudades da minha família, e gostava de lhes poder dizer algumas coisas...
-Quanto tempo e que isto vai durar?... - suspirei.
-Oh! - fez a Inês, encolhendo os ombros - Tanto tempo quanto uma vida.
-Ou seja?... - insisti, porque estava pouco satisfeita com a resposta.
-94 anos. - disse-me ela.
Ainda era muito tempo de solidão, mas era bom saber que depois disso ia poder morrer finalmente, morrer a serio, e não ter saudades de mais ninguém.
Eu e as minhas amigas ainda ficamos algum tempo juntas, a passear por ali, acho que tentamos beber um copinho ou outro só que não conseguíamos tocar em nenhum objecto (pergunto-me porque teríamos nos roupas).
Mas acabei por me despedir delas, tinha de ir ao encontro da minha família, na Venda-do-Pinheiro, nem que fosse so para ver como eles estavam.
A Catarina e a Ines, por sua vez, ficaram naquele estranho e alegre lugar, cheio de vivos, entre os quais os mortos podiam festejar também, sem que se distinguissem muito bem uns dos outros.
Percorri a pé a ponte 25 de Abril, e passei pelos Olivais (lembro-me de ter escorregado ou caído e estar a rebolar na relva, junto a estátua de um bombeiro. Vi passar, não muito longe, um autocarro amarelo). Podia passar entre os carros sem me preocupar, não tinha fome nem frio; nem pressa. Alias, enquanto andava, pensei com um certo alivio: "Agora, tenho todo o tempo do mundo...".
Quando cheguei a Venda do Pinheiro, fui ate um pequeno escritório que nunca vi na vida, em que três das quatro paredes eram só janelas, tapadas com com varias cortinas amarelas.
A minha mãe e o meu tio estavam la: agora geriam um negocio qualquer importante. O tio estava de pé atrás de uma secretaria, e a minha mãe estava mesmo ao meu lado, junto a uma porta, atrás de uma secretária e de pé também.
Foi o meu tio que lhe disse que eu estava la, ou que tinha a impressão que eu estava la, sem sequer me ver. A minha mãe ficou imóvel, com os olhos arregalados, como se não acreditasse.
Pequei no telemóvel (não faço a menor ideia como era possível eu continuar a poder mexer no telemóvel. Parecia que tinha morrido comigo... algo me diz que já somos demasiado inseparáveis.) para lhe mandar uma mensagem a dizer "Estou mesmo a tua frente". Mas, antes de o fazer, ela disse, e olhar vagamente para o espaço em frente dela, onde eu estava sem que ela me conseguisse ver:
-"Estou mesmo a tua frente".
Fechei o telemóvel com um suspiro: não precisava de mandar mensagem nenhuma, ela conhecia-me e sabia onde eu estava. Abraçamo-nos, e lembro-me de a sentir e a poder apertar nos braços.
Decidi voltar para o meu quarto. Certamente não se teriam desfeito da mobília... Talvez estivesse tudo como antes. Talvez eu pudesse continuar a viver com eles, mesmo que não me vissem, nem ouvissem...
A minha mãe sabia que eu estava la. De certeza que ela não os deixaria livrarem-se das minhas coisas.
Lembro-me de estar no predio onde moram os meus avós, mas nao tinha sido la que tinha morrido, e, apesar de saber que tinha de fazer algo la, nao sei o que era.
Acho que vi escrito algures, ou disse-me uma voz, que quando fizesse o que tinha a fazer espiritos demoniacos seriam libertados e perseguir-me-iam, arrastando-me consigo para um lugar terrivel.
Mas tinha de o fazer. Depois, fugiria o mais rapidamente possível, pronto, tinha de ser.
Fi-lo. Estava em frente a uma porta "A", não sei em que andar, e os corredores estavam todos iluminados (na realidade, as luzes estao sempre apagadas, e so se acendem quando alguem pressiona um dos interroptores brilhantes). La fora, era noite.
Olhei a minha volta, sentindo a minha respiraçao ofegante entre os labios entreabertos.
Entao vi, no topo de um lance de escadas, mesmo ao pe da porta, surgir uma criatura medonha, como uma sombra, ou uma mancha, algo feito de carne mas sem ossos por dentro, que constantemente mudava de forma e grunhia ao aproximar-se de mim.
Voltei-lhe as costas e corri o mais depressa que podia. Ao atravessar o longo corredor do predio, cruzei-me com outros monstros, todos diferentes uns dos outros, mas sempre assustadores. Contornei-os, evitei-os com saltos ageis, e, quando cheguei ao fim do corredor, vi uma senhora viva a espreitar pela porta da sua casa, num cantinho ao lado das escadas (existem, neste predio, duas escadas, uma em cada extremo do corredor). Ela acenou-me e, com os olhos muitos arregalados, como se percebesse a minha aflição, dizia-me:
-Anda, anda! Podes fugir por aqui!
Corri pela casa dela adentro, ela fechou a porta atras de si e passou por mim cheia de pressa. Abriu uma janela e apontou la para fora:
-Va! Vai-te embora!
Percebi que ela nao queria que aquelas coisas horríveis entrassem em sua casa e compreendia perfeitamente. Obedeci, correndo em direcção a janela e saltando para o exterior.
Mais tarde, daria comigo a perguntar-me porque me vira a senhora, talvez fosse uma medium, ou assim.
Não me lembro como nem porque, mas sei que depois de percorrer um caminho qualquer, estava em casa dos meus avós, no segundo andar (tinha descido uns quantos andares, de certeza).
A minha avo e o meu avo estavam sentados nas respectivas poltronas, em silencio, a avo de camisa de noite de alças a olhar para a telivisaozinha pequena diante dela numa mesinha de pau preto e o avo a dormir, ainda vestido com uma camisa de mangas curtas metidas por umas calças de pano cinzento a dentro, com o queixo caído sobre o peito e uma expressão seria.
Nenhum deles me viu.
Da varanda coberta, olhei para a porta da casa: aquelas coisas estava la fora, a minha procura. O melhor era ir-me embora. Mas como? Se saísse pela porta, de certeza que me apanhavam.
A minha única hipótese era saltar da varanda.
Cheia de medo, aproximei-me de uma das janelas, que estava aberta, e subi para as calhas metálicas, a olhar la para baixo, para o terraço deserto, iluminado a um canto por um café silencioso.
Ao longe, via-se Tróia, a Figueirinha, e barcos cujas janelas iluminadas se reflectiam nas aguas do Sado. O ar estava quente, e sentia-se as vezes um vento fresco que arrepiava.
Soube que se ficasse demasiado tempo a pensar que tinha de saltar, nunca o conseguira fazer, pelo que, a tremer, sentei-me na janelas com as pernas caídas para o lado de fora e, muito lentamente, apoiando-me nos braços, levantei o rabo das calhas e senti o corpo todo suspenso no ar, seguro apenas pelas palmas das mãos que continuavam agarradas as janelas.
"Agora ja esta" pensei, enquanto fechava os olhos.
Saltei, e, passado um instante, quase nada, aterrei suavemente no terraço, fazendo apenas um pouco de barulho.
Por uma fracção de segundo fiquei feliz com esta minha vitoria, mas logo depois lembrei-me da porta do prédio mesmo atrás de mim, ladeada por duas compridas janelas, através das quais os meus perseguidores me poderiam ver.
Corri o mais depressa que pude, espreitando um instante por cima do ombro ao sair do terraço.
Os meus pés eram levíssimos, parecia que nem tocavam no chão, mas que flutuavam pouco acima deste. Não tenho a certeza se estava de ténis ao descalça.
Percorri toda a rua do Moinho do Frade, pelo lado esquerdo: lembro-me bem dos carros estacionados ao meu lado e do chão de calçada debaixo de mim.
Depois, algures, virei a esquerda, para onde deveria estar um terreno em muito mas condições, onde há anos atrás, estiveram as ruínas do moinho que dera o nome a rua.
Curiosamente, esse terreno dava para um rua estreita de prédios baixos que conduzia a um lugar muito semelhante ao bairro alto, cheio de bares, de gente e um pouco inclinado, só que as fachadas dos prédios e das casas eram brancas. Tenho ideia que, aqui e ali, havia lanternas chinesas rectangulares pequeninas e coloridas (lembro-me vagamente de ver uma verde-anis e outra fushia) penduradas na fachada de um prédio e do outro que estava em frente.
Vagueei entre os vivos por aquelas ruas, ate me deparar com duas amigas: a Catarina e a Inês. Ambas me viram: estavam mortas!
As três ficamos muitos felizes por nos encontrarmos: já que não podíamos falar com os vivos, e conhecíamos muitos poucos mortos, era uma grande sorte termos morrido todas.
Mas confessei-lhes que tinha muitas saudades da minha família, e gostava de lhes poder dizer algumas coisas...
-Quanto tempo e que isto vai durar?... - suspirei.
-Oh! - fez a Inês, encolhendo os ombros - Tanto tempo quanto uma vida.
-Ou seja?... - insisti, porque estava pouco satisfeita com a resposta.
-94 anos. - disse-me ela.
Ainda era muito tempo de solidão, mas era bom saber que depois disso ia poder morrer finalmente, morrer a serio, e não ter saudades de mais ninguém.
Eu e as minhas amigas ainda ficamos algum tempo juntas, a passear por ali, acho que tentamos beber um copinho ou outro só que não conseguíamos tocar em nenhum objecto (pergunto-me porque teríamos nos roupas).
Mas acabei por me despedir delas, tinha de ir ao encontro da minha família, na Venda-do-Pinheiro, nem que fosse so para ver como eles estavam.
A Catarina e a Ines, por sua vez, ficaram naquele estranho e alegre lugar, cheio de vivos, entre os quais os mortos podiam festejar também, sem que se distinguissem muito bem uns dos outros.
Percorri a pé a ponte 25 de Abril, e passei pelos Olivais (lembro-me de ter escorregado ou caído e estar a rebolar na relva, junto a estátua de um bombeiro. Vi passar, não muito longe, um autocarro amarelo). Podia passar entre os carros sem me preocupar, não tinha fome nem frio; nem pressa. Alias, enquanto andava, pensei com um certo alivio: "Agora, tenho todo o tempo do mundo...".
Quando cheguei a Venda do Pinheiro, fui ate um pequeno escritório que nunca vi na vida, em que três das quatro paredes eram só janelas, tapadas com com varias cortinas amarelas.
A minha mãe e o meu tio estavam la: agora geriam um negocio qualquer importante. O tio estava de pé atrás de uma secretaria, e a minha mãe estava mesmo ao meu lado, junto a uma porta, atrás de uma secretária e de pé também.
Foi o meu tio que lhe disse que eu estava la, ou que tinha a impressão que eu estava la, sem sequer me ver. A minha mãe ficou imóvel, com os olhos arregalados, como se não acreditasse.
Pequei no telemóvel (não faço a menor ideia como era possível eu continuar a poder mexer no telemóvel. Parecia que tinha morrido comigo... algo me diz que já somos demasiado inseparáveis.) para lhe mandar uma mensagem a dizer "Estou mesmo a tua frente". Mas, antes de o fazer, ela disse, e olhar vagamente para o espaço em frente dela, onde eu estava sem que ela me conseguisse ver:
-"Estou mesmo a tua frente".
Fechei o telemóvel com um suspiro: não precisava de mandar mensagem nenhuma, ela conhecia-me e sabia onde eu estava. Abraçamo-nos, e lembro-me de a sentir e a poder apertar nos braços.
Decidi voltar para o meu quarto. Certamente não se teriam desfeito da mobília... Talvez estivesse tudo como antes. Talvez eu pudesse continuar a viver com eles, mesmo que não me vissem, nem ouvissem...
A minha mãe sabia que eu estava la. De certeza que ela não os deixaria livrarem-se das minhas coisas.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Saudades do bairro??
Ontem sonhei que queria ir ao bairro alto. Tinha de ir! Mas a minha mãe não me deixava sair... Por isso, sai de casa a voar.
Voei ao longo da costa portuguesa (que era muito diferente do que e na realidade)a procura de um lugar iluminado e colorido. As vezes pensava que tinha chegado ao meu destino e descia, mas encontrava um lugar deserto iluminado por uma luz branca, e dividido em pequenos rectangulos por baixos muros brnacos, e logo tornava a subr.
Quando finalmente encontrei o bairro alto, deixei-me cair ate ao chão. Recebi então uma sms da minha mãe, que chegou escrita com uma letra muito parecida com a dela, que me pedia desculpas por não me ter deixado sair. Guardei o telemóvel e olhei a minha volta.
Tinha esperança de encontrar alguns amigos, apesar de não termos combinado nada, mas o bairro estava vazio como nunca o tinha visto há noite.
Deambulei um bocado por uns bares ate me deparar com dois colegas, um que não via desde o nono ano, outro desde o quarto! Eram o Mauro e a Catarina... como será que se tinham conhecido? Aproximei-me a espera de uma oportunidade para lhes falar, ansiosa por saber se me reconheciam.
Entretanto, ouvi a voz da minha mãe, vinda de fora do sonho, a perguntar ao meu irmão se tinha visto uma peça do secador.
-A minha mãe só quer saber se vi uma peça do secador... - disse aos meus amigos.
E no momento seguinte a minha mãe agarrou-me os dedos dos pés e abanou-os com delicadeza para me acordar, perguntando-me depois se eu sabia onde estava a tal peça.
-Não sei, mãe, há mais de uma mês que não uso o secador... - respondi prontamente, uma vez que já sabia qual era a pergunta.
Quando a minha mãe saiu do quarto, fiquei a pensar que não tinha chegado a saber como estavam os meus colegas, nem se me iriam reconhecer... Que pena, estava a ser um sonho tão bom... "Pode ser que continue" pensei, aninhando-me nos lençóis.
Resultou. Passados uns instantes, estava outra vez naquela estranho bairro alto, com ruas vazias e iluminado em tons de vermelho e amarelo.
Mas os meus colegas não estavam la: só o meu irmão, que queria que fosse sair com ele e os seus amigos.
Saímos do bar e encontramo-nos com os seus colegas, entre os quais estava o Sponge Bob Square Pants, que se queixava da mais recente dobragem da sua voz, demasiado fina.
Entretanto, alguém gritou ao longe:
-Ei, Sponge, 'tas c'o Tomas?
-Sim! - gritou ele de volta - 'Tou c'o meu amigo Tomas, que e giro mas não e p'ra ver!
Depois disto, eu e o meu irmão afastamo-nos: queria mostrar-me um bar onde costumava ir com os amigos.
Para la chegar, era preciso passar pelo telhado de uma antiga e pobre casa.
Subitamente, era de dia, e um nevoeiro espesso toldava o céu.
Eu e o meu irmão estávamos os dois a atravessar o telhado quando de repente eu cai, morta de medo e a rir a bandeiras despregadas.
-Carolina! - gritou ele, mais divertido que alarmado, e correu a segurar-me.
Bem tentei, mas não consegui tornar a subir para o telhado: escorregava constantemente:
-Tomas, não podemos ir por outro lado? - perguntei, já a ficar preocupada.
-Não. Temos de ir por aqui! - insistiu ele, num tom brincalhão.
-Mas... Tomaaaaas! - gritei, ao cair do telhado.
De olhos esbugalhados, espantada e divertida, dei comigo sentada num alpendre, mesmo abaixo do telhado. Era muito confortável...
Pus-me de pé com um salto e estava prestes a sair dali para fora quando um homem de aspecto rude, gordo, com barba por fazer, suspensórios e chapéu de palha, enfiou a mão no meu bolso e de la tirou algo muito semelhante a uma bola de bilhar. Era um comprimido. Não me lembro como, quando, ou a que propósito, mas sei que tinha ido para ao meu bolso pouco antes, durante o meu sonho. Tenho ideia que estava a usar um vestido azul de inverno, e um casaco castanho que não vejo há muitos anos, (e que por acaso fica muito mal com o tal vestido) que já nem me deve servir. Não me lembro que roupa estava a usar ate então.
Sorri para o homem e fui-me embora, passando por um buraco numa grade que rodeava a propriedade.
Oculta entre urtigas e outras plantas selvagens, vi uma mulher de papel aproximar-se do homem rude, e gritar-lhe:
-Com quem estavas, homem! Andas-m'a trair! - choramingou ela - Vou-m'embora!
-Oh, mulher, não vás! Na tava aqui ninguém!
-As roupas que estavam no alpendre estão amachucadas! Esteve ai alguém!
-Na esteve nada! Não te vás embora!
Acho que fizeram as pazes...
Voei ao longo da costa portuguesa (que era muito diferente do que e na realidade)a procura de um lugar iluminado e colorido. As vezes pensava que tinha chegado ao meu destino e descia, mas encontrava um lugar deserto iluminado por uma luz branca, e dividido em pequenos rectangulos por baixos muros brnacos, e logo tornava a subr.
Quando finalmente encontrei o bairro alto, deixei-me cair ate ao chão. Recebi então uma sms da minha mãe, que chegou escrita com uma letra muito parecida com a dela, que me pedia desculpas por não me ter deixado sair. Guardei o telemóvel e olhei a minha volta.
Tinha esperança de encontrar alguns amigos, apesar de não termos combinado nada, mas o bairro estava vazio como nunca o tinha visto há noite.
Deambulei um bocado por uns bares ate me deparar com dois colegas, um que não via desde o nono ano, outro desde o quarto! Eram o Mauro e a Catarina... como será que se tinham conhecido? Aproximei-me a espera de uma oportunidade para lhes falar, ansiosa por saber se me reconheciam.
Entretanto, ouvi a voz da minha mãe, vinda de fora do sonho, a perguntar ao meu irmão se tinha visto uma peça do secador.
-A minha mãe só quer saber se vi uma peça do secador... - disse aos meus amigos.
E no momento seguinte a minha mãe agarrou-me os dedos dos pés e abanou-os com delicadeza para me acordar, perguntando-me depois se eu sabia onde estava a tal peça.
-Não sei, mãe, há mais de uma mês que não uso o secador... - respondi prontamente, uma vez que já sabia qual era a pergunta.
Quando a minha mãe saiu do quarto, fiquei a pensar que não tinha chegado a saber como estavam os meus colegas, nem se me iriam reconhecer... Que pena, estava a ser um sonho tão bom... "Pode ser que continue" pensei, aninhando-me nos lençóis.
Resultou. Passados uns instantes, estava outra vez naquela estranho bairro alto, com ruas vazias e iluminado em tons de vermelho e amarelo.
Mas os meus colegas não estavam la: só o meu irmão, que queria que fosse sair com ele e os seus amigos.
Saímos do bar e encontramo-nos com os seus colegas, entre os quais estava o Sponge Bob Square Pants, que se queixava da mais recente dobragem da sua voz, demasiado fina.
Entretanto, alguém gritou ao longe:
-Ei, Sponge, 'tas c'o Tomas?
-Sim! - gritou ele de volta - 'Tou c'o meu amigo Tomas, que e giro mas não e p'ra ver!
Depois disto, eu e o meu irmão afastamo-nos: queria mostrar-me um bar onde costumava ir com os amigos.
Para la chegar, era preciso passar pelo telhado de uma antiga e pobre casa.
Subitamente, era de dia, e um nevoeiro espesso toldava o céu.
Eu e o meu irmão estávamos os dois a atravessar o telhado quando de repente eu cai, morta de medo e a rir a bandeiras despregadas.
-Carolina! - gritou ele, mais divertido que alarmado, e correu a segurar-me.
Bem tentei, mas não consegui tornar a subir para o telhado: escorregava constantemente:
-Tomas, não podemos ir por outro lado? - perguntei, já a ficar preocupada.
-Não. Temos de ir por aqui! - insistiu ele, num tom brincalhão.
-Mas... Tomaaaaas! - gritei, ao cair do telhado.
De olhos esbugalhados, espantada e divertida, dei comigo sentada num alpendre, mesmo abaixo do telhado. Era muito confortável...
Pus-me de pé com um salto e estava prestes a sair dali para fora quando um homem de aspecto rude, gordo, com barba por fazer, suspensórios e chapéu de palha, enfiou a mão no meu bolso e de la tirou algo muito semelhante a uma bola de bilhar. Era um comprimido. Não me lembro como, quando, ou a que propósito, mas sei que tinha ido para ao meu bolso pouco antes, durante o meu sonho. Tenho ideia que estava a usar um vestido azul de inverno, e um casaco castanho que não vejo há muitos anos, (e que por acaso fica muito mal com o tal vestido) que já nem me deve servir. Não me lembro que roupa estava a usar ate então.
Sorri para o homem e fui-me embora, passando por um buraco numa grade que rodeava a propriedade.
Oculta entre urtigas e outras plantas selvagens, vi uma mulher de papel aproximar-se do homem rude, e gritar-lhe:
-Com quem estavas, homem! Andas-m'a trair! - choramingou ela - Vou-m'embora!
-Oh, mulher, não vás! Na tava aqui ninguém!
-As roupas que estavam no alpendre estão amachucadas! Esteve ai alguém!
-Na esteve nada! Não te vás embora!
Acho que fizeram as pazes...
Os jonas brothers presenciam um momento de paz
Tive ha ja umas semanas um sonho muito curioso... Vi, numa pista de gelo, a sair de um coche que caira, os Jonas Brothers, cheios de medo de se terem metido nalguma alhada.
Ao levantarem-se e olharem a sua volta, deparam-se com as bancadas do pavilhao atlantico, ao redor da pista de gelo, cheias de chineses. Só havia chineses nas bancadas.
Num repente, os chineses desatam a gritar, irados, e, no momento seguinte, a cantar.
-Estao a ter um momento de paz! - disse alguem perto de mim, que estava na bancada. -E muito raro, deviamos sentir-nos priveligiados por pudermos ver isto!
"Momento de paz?" pensei. Levantei-me na cadeira e gritei para os chineses:
-Deixem-se de parvoices! Nao veem que estao a fazer da vossa naçao e da vossa cultura uma caricatura!?
Mas ninguem me ligou nenhuma: em vez disso, começaram todos a abraçar-se, a beijar-se... e por ai fora.
-Oh meu Deus!... - exclamei.
Depois de alguns minutos, a multidao de chineses levantou-se como se nada tivesse acontecido e foi-se embora. Do meio das bancadas vazia, uma tia minha gritava:
-Entao e para mim, nao ha nada? O senhor... - nao me lembro no nome do senhor que ela chamava - Olhe que eu nao gosto quando para mim nao ha nada!
Ao levantarem-se e olharem a sua volta, deparam-se com as bancadas do pavilhao atlantico, ao redor da pista de gelo, cheias de chineses. Só havia chineses nas bancadas.
Num repente, os chineses desatam a gritar, irados, e, no momento seguinte, a cantar.
-Estao a ter um momento de paz! - disse alguem perto de mim, que estava na bancada. -E muito raro, deviamos sentir-nos priveligiados por pudermos ver isto!
"Momento de paz?" pensei. Levantei-me na cadeira e gritei para os chineses:
-Deixem-se de parvoices! Nao veem que estao a fazer da vossa naçao e da vossa cultura uma caricatura!?
Mas ninguem me ligou nenhuma: em vez disso, começaram todos a abraçar-se, a beijar-se... e por ai fora.
-Oh meu Deus!... - exclamei.
Depois de alguns minutos, a multidao de chineses levantou-se como se nada tivesse acontecido e foi-se embora. Do meio das bancadas vazia, uma tia minha gritava:
-Entao e para mim, nao ha nada? O senhor... - nao me lembro no nome do senhor que ela chamava - Olhe que eu nao gosto quando para mim nao ha nada!
segunda-feira, 26 de julho de 2010
A Grande Vingança
Hoje sonhei com uma mulher que queria desesperadamente vingar-se de um homem. Nao sei o que ele lhe tinha feito.
Um dia, ela conseguiu captura-lo, e obrigou-o a acompanha-la a um hospital. La, ameaçou um medico e uma medica (respectivamente negro e branca), e conseguiu que fizessem o que ela queria.
Ordenou-lhes que a guiassem e ao homem de quem se queria vingar ate um bloco operatório, onde teriam de estar preparados para abrir os dois. O bloco operatório era muito pequeno, separado de muitos outros por finas paredes de plástico brancas, e era intensamente iluminado por uma luz, também branca.
Enquanto os dois médicos se preparavam, a mulher explicou o que queria:
-Vão anestesiar-me primeiro... Cortar-me a cabeça e...
-Cortar-lhe a cabeça? - perguntou a medica. O medico olhou-a pelo canto do olho, com uma expressão que significava: "esta cabra e mesmo doida".
-Sim. - disse a custo a mulher, fechando os olhos e cerrando o sobrolho. Era óbvio que não queria deitar-se e adormecer naquela maca sabendo que nunca mais viria a levantar-se. -Depois, tiram-me os olhos... e põem os dele nas minhas orbitas. Matam-no, e entreguem a minha cabeça com os olhos dele a família e aos amigos dele. -determinou ela.
-Seja. - concordou a medica. Não parecia nada perturbada. Voltou-se e começou a procurar uma serra.
"E se ela mudar de ideias?" pensei eu. "E se depois já não quiser que lhe cortem a cabeça? Será que vai conseguir dizer-lhes, ou só depois de ser anestesiada, quando sentir que esta a perder a voz e que e demasiado tarde, e que ela vai querer desistir?" . Eu não estava la. Só os meus olhos, e a minha consciência. Não sei onde estava o meu corpo. Era um pouco como ver um filme.
Entretanto, a mulher lançava olhares ameaçadores aos dois médicos e ao homem. Lembro-me que ela era pálida, tinha cabelo loiro comprido preso num rabo-de-cavalo e feições delicadas, o queixo um pouco redondo e o nariz arrebitado.
O homem estava ao seu lado: parecia um pouco nervoso, como se pensasse: "aposto que isto vai correr mal". Mas não chorou, nem disse nada. Limitou-se a olhar a sua volta, um pouco desamparado, com o sobrolho franzido e a boca ligeiramente aberta, como se não conseguisse respirar pelo nariz. Cruzava os braços, descruzava, coçava o queixo, punha as mãos nos bolsos, tirava... Era moreno, de cabelo castanho curto e espetado, e uma barba espessa da mesma cor. A cara era magra, o nariz recto.
Lembro-me de que de repente estava sobre a maca um pequeno rectângulo preto, rijo, com um forro semelhante aos tapetes dos carros. Era um encaixe para uma cabeça. Provavelmente, era uma espécie de almofada que os médicos usavam para manter o pescoço do paciente (ou vitima) direito enquanto o decapitavam.
-Esta tudo pronto. - disse a medica.
Depois, só me lembro de a mulher estar deitada atravessada na maca, o medico e o homem de quem ela se queria vingar a segurarem-lhe os braços, enquanto a medica de lhe cortava os pés pelos tornozelos: estava a explicar-lhe como lhe iriam cortar a cabeça.
A mulher já tinha sido anestesiada, mas a droga ainda não começara a fazer efeito, e ela gritava como uma louca. Entretanto, eu tornei-me a mulher. A minha consciência estava no corpo dela.
Recordo-me de olhar para baixo e ver os pés branquinhos serem cortados, a medica a segura-los e a dizer-me que ficasse calma. E doía! Era uma dor aguda! Parecia que ardia.
Tudo começou a ficar escuro, e eu já não me ouvia gritar: "Vão cortar-me a cabeça e não lhes consigo dizer para pararem!" pensei.
Um dia, ela conseguiu captura-lo, e obrigou-o a acompanha-la a um hospital. La, ameaçou um medico e uma medica (respectivamente negro e branca), e conseguiu que fizessem o que ela queria.
Ordenou-lhes que a guiassem e ao homem de quem se queria vingar ate um bloco operatório, onde teriam de estar preparados para abrir os dois. O bloco operatório era muito pequeno, separado de muitos outros por finas paredes de plástico brancas, e era intensamente iluminado por uma luz, também branca.
Enquanto os dois médicos se preparavam, a mulher explicou o que queria:
-Vão anestesiar-me primeiro... Cortar-me a cabeça e...
-Cortar-lhe a cabeça? - perguntou a medica. O medico olhou-a pelo canto do olho, com uma expressão que significava: "esta cabra e mesmo doida".
-Sim. - disse a custo a mulher, fechando os olhos e cerrando o sobrolho. Era óbvio que não queria deitar-se e adormecer naquela maca sabendo que nunca mais viria a levantar-se. -Depois, tiram-me os olhos... e põem os dele nas minhas orbitas. Matam-no, e entreguem a minha cabeça com os olhos dele a família e aos amigos dele. -determinou ela.
-Seja. - concordou a medica. Não parecia nada perturbada. Voltou-se e começou a procurar uma serra.
"E se ela mudar de ideias?" pensei eu. "E se depois já não quiser que lhe cortem a cabeça? Será que vai conseguir dizer-lhes, ou só depois de ser anestesiada, quando sentir que esta a perder a voz e que e demasiado tarde, e que ela vai querer desistir?" . Eu não estava la. Só os meus olhos, e a minha consciência. Não sei onde estava o meu corpo. Era um pouco como ver um filme.
Entretanto, a mulher lançava olhares ameaçadores aos dois médicos e ao homem. Lembro-me que ela era pálida, tinha cabelo loiro comprido preso num rabo-de-cavalo e feições delicadas, o queixo um pouco redondo e o nariz arrebitado.
O homem estava ao seu lado: parecia um pouco nervoso, como se pensasse: "aposto que isto vai correr mal". Mas não chorou, nem disse nada. Limitou-se a olhar a sua volta, um pouco desamparado, com o sobrolho franzido e a boca ligeiramente aberta, como se não conseguisse respirar pelo nariz. Cruzava os braços, descruzava, coçava o queixo, punha as mãos nos bolsos, tirava... Era moreno, de cabelo castanho curto e espetado, e uma barba espessa da mesma cor. A cara era magra, o nariz recto.
Lembro-me de que de repente estava sobre a maca um pequeno rectângulo preto, rijo, com um forro semelhante aos tapetes dos carros. Era um encaixe para uma cabeça. Provavelmente, era uma espécie de almofada que os médicos usavam para manter o pescoço do paciente (ou vitima) direito enquanto o decapitavam.
-Esta tudo pronto. - disse a medica.
Depois, só me lembro de a mulher estar deitada atravessada na maca, o medico e o homem de quem ela se queria vingar a segurarem-lhe os braços, enquanto a medica de lhe cortava os pés pelos tornozelos: estava a explicar-lhe como lhe iriam cortar a cabeça.
A mulher já tinha sido anestesiada, mas a droga ainda não começara a fazer efeito, e ela gritava como uma louca. Entretanto, eu tornei-me a mulher. A minha consciência estava no corpo dela.
Recordo-me de olhar para baixo e ver os pés branquinhos serem cortados, a medica a segura-los e a dizer-me que ficasse calma. E doía! Era uma dor aguda! Parecia que ardia.
Tudo começou a ficar escuro, e eu já não me ouvia gritar: "Vão cortar-me a cabeça e não lhes consigo dizer para pararem!" pensei.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Eh pá, o Sporting é meeesmo fixe...
Pouco depois do sonho em que a minha amiga dava à luz numa piscina, sonhei que estava com a minha mãe no meu quarto, e que, ao olhar-mos através da janela, vimos um indio norte-americano passear no nosso jardim, segurando um grande cajado, como se fosse um enorme archote.
Pouco depois, guerreiros africanos apareceram: traziam consigo duas lanças, com uma grande máscara daquelas africanas de madeira penduradas.
Espetaram as lanças no chão e correram dali para fora.
-Mãe, o que é que está a acontecer? - perguntei.
-Morreram dois guerreiros Sul-Africanos. Os seus fantasmas têm de ocupar corpos de pessoas vivas e seguir as luzes que o índio-norte americano está a acender com o seu archote para chegar ao mundo dos espíritos.
-Ah.
-Vamos ver se está tudo a correr bem.
E fomos.
Assim que chegámos ao jardim, o índio passou por nós como se não nos visse, rijo como uma pedra, em direcção ao portão.
-Parece que um fantasma já ocupou o corpo dele... -comentou a minha mãe. -Mas... Acho que ele se esqueceu de acender um candeeiro!
Corremos as duas em direcção ao candeeiro (era igual a um candeeiro de rua, mas muito mais pequeno e branco. O candeeiro existiu realmente, exactamente no sítio onde o imaginei... mas há anos que já não está lá).
Diante do candeeiro, percebemos porque é que o índio não precisara de o acender: a luz da lua, no céu, brilhava através do vidro. Tenho a certeza que era fim-de-tarde... Porém, o Sol estava a pôr-se em Este, e a Lua estava a aparecer em Oeste... Era suposto ser ao contrário.
-Ah... - fez a minha mãe.
Pouco tempo depois, um fantasma ocupou o corpo dela. Não me lembro do que aconteceu até ela voltar:
-Mãe! Estás bem?
-Estou óptima... - disse-me ela, com um suspiro. Parecia mesmo satisfeita. -Quando um fantasma ocupa o teu corpo, tu deixas de o sentir... Nem te consegues mexer! Deixas de ver, e só consegues pensar no teu clube de football! - contou ela. Parecia que lhe tinha acontecido a melhor coisa do mundo.
Estávamos a voltar a casa quando alguém me agarrou pelos tornozelos e puxou. Ao cair, percebi imediatamente que se tratava de um fantasma. Enquanto ele me arrastava pelo chão, arranhei desesperadamente a terra e gritei pela minha mãe, que se limitou a olhar para mim, meneando lentamente a cabeça e sorrindo, como se estivesse feliz por mim. Tinha as mãos dadas junto ao colo.
Eu tentei fugir, mas o fantasma era mais forte do que eu...
Num repente, deixei de sentir o meu corpo. Estava leve, leve! Parecia que flutuava. Tentei mexer um braço, mas não consegui. E não me preocupei com isso. Só conseguia pensar no Sporting. Uma vez que não sei nada de football, aliás, nem sei quando são os jogos, nem nada disso, só consegui pensar: "Bem... Eh pá, o Sporting é meeesmo fixe. Fogo... É mesmo bom ser sptortinguista. Que bom!".
Entretanto, via ora a bandeira de Portugal, ora a ponte 25 de Abril... ou seria a Vasco da Gama?
A minha mãe tinha razão. Era uma sensação fantástica.
De repente, tudo voltou ao normal: via o que se passava à minha volta, conseguia pensar noutra coisa além do Sporting e era capaz de mexer o meu corpo.
Deduzi que o fantasma tivesse encontrado o mundo dos espíritos e fui-me embora.
Pouco depois, guerreiros africanos apareceram: traziam consigo duas lanças, com uma grande máscara daquelas africanas de madeira penduradas.
Espetaram as lanças no chão e correram dali para fora.
-Mãe, o que é que está a acontecer? - perguntei.
-Morreram dois guerreiros Sul-Africanos. Os seus fantasmas têm de ocupar corpos de pessoas vivas e seguir as luzes que o índio-norte americano está a acender com o seu archote para chegar ao mundo dos espíritos.
-Ah.
-Vamos ver se está tudo a correr bem.
E fomos.
Assim que chegámos ao jardim, o índio passou por nós como se não nos visse, rijo como uma pedra, em direcção ao portão.
-Parece que um fantasma já ocupou o corpo dele... -comentou a minha mãe. -Mas... Acho que ele se esqueceu de acender um candeeiro!
Corremos as duas em direcção ao candeeiro (era igual a um candeeiro de rua, mas muito mais pequeno e branco. O candeeiro existiu realmente, exactamente no sítio onde o imaginei... mas há anos que já não está lá).
Diante do candeeiro, percebemos porque é que o índio não precisara de o acender: a luz da lua, no céu, brilhava através do vidro. Tenho a certeza que era fim-de-tarde... Porém, o Sol estava a pôr-se em Este, e a Lua estava a aparecer em Oeste... Era suposto ser ao contrário.
-Ah... - fez a minha mãe.
Pouco tempo depois, um fantasma ocupou o corpo dela. Não me lembro do que aconteceu até ela voltar:
-Mãe! Estás bem?
-Estou óptima... - disse-me ela, com um suspiro. Parecia mesmo satisfeita. -Quando um fantasma ocupa o teu corpo, tu deixas de o sentir... Nem te consegues mexer! Deixas de ver, e só consegues pensar no teu clube de football! - contou ela. Parecia que lhe tinha acontecido a melhor coisa do mundo.
Estávamos a voltar a casa quando alguém me agarrou pelos tornozelos e puxou. Ao cair, percebi imediatamente que se tratava de um fantasma. Enquanto ele me arrastava pelo chão, arranhei desesperadamente a terra e gritei pela minha mãe, que se limitou a olhar para mim, meneando lentamente a cabeça e sorrindo, como se estivesse feliz por mim. Tinha as mãos dadas junto ao colo.
Eu tentei fugir, mas o fantasma era mais forte do que eu...
Num repente, deixei de sentir o meu corpo. Estava leve, leve! Parecia que flutuava. Tentei mexer um braço, mas não consegui. E não me preocupei com isso. Só conseguia pensar no Sporting. Uma vez que não sei nada de football, aliás, nem sei quando são os jogos, nem nada disso, só consegui pensar: "Bem... Eh pá, o Sporting é meeesmo fixe. Fogo... É mesmo bom ser sptortinguista. Que bom!".
Entretanto, via ora a bandeira de Portugal, ora a ponte 25 de Abril... ou seria a Vasco da Gama?
A minha mãe tinha razão. Era uma sensação fantástica.
De repente, tudo voltou ao normal: via o que se passava à minha volta, conseguia pensar noutra coisa além do Sporting e era capaz de mexer o meu corpo.
Deduzi que o fantasma tivesse encontrado o mundo dos espíritos e fui-me embora.
Catarina, passa a bol... WTF???
Acho que foi no mês passado que tive este sonho. Estava superocupada, e este foi dos poucos sonhos que tive na altura.
Sonhei que uma amiga minha chamada Catarina me convidava e a uns colegas para irmos a uma piscina.
Aceitámos todos, e mal chegámos, mete-mo-nos na água e começámos a jogar volley.
Estava-mos a divertir-nos imenso, até que de repente um grupo de mulheres grávidas, todas vestidas com fatos de banho e com toucas enfiadas na cabeça, saltou para a água e começou a dar à luz.
-Ó MEU DEUS! - gritei, horrizada. Lembro-me de pensar que aquilo não podia higiénico.
Uma a uma, as mulheres erguiam os seus filhos recém-nascidos da água e olhavam maravilhadas para os seus rostos vermelhos. Um dos bebés começou a discutir com a mãe, agitando o indicador diante dela como se a ameaçasse, e dizendo incongruências. Era a coisa mais feia que já vi, com o rosto completamente deformado. A mãe ficou a olhar para ele até se calar, boquiaberta e de olhos arregalados. Quando o bebé finalmente se acalmou, ela abraçou-o, rindo.
-O que é que está a acontecer!? - gritei, voltando-me para os meus colegas.
Então, para minha surpresa, vi a minha amiga a dar à luz, ajudada pelo nosso colega António.
-CATARINA?!
Depois de ter o filho, ela saiu da piscina com toda a naturalidade, segurando o filho com cuidado.
Fomos todos atrás dela, vi-mo-la entregar calmamente o bebé a uma enfermeira e vestir um roupão. Os pais dela estavam lá, e olhavam-na, maravilhados.
Tinha imensas perguntas para fazer, mas nem sabia por onde começar.
Catarina contou-me como escondera a sua gravidez, e eu lembrei-me de uma conversa que tínhamos tido à pouco tempo (que realmente aconteceu) sobre mulheres que só descobriam que estavam grávidas quando entravam em trabalho de parto, ou que conseguiam esconder a gravidez do principio ao fim. Na altura, eu não acreditara nela, mas lembro-mo de pensar, no sonho: "A Catarina tinha razão... agora acredito nela!". E logo a seguir: "Quem será o pai?"... Mas não lhe perguntei. Não sabia se ela queria responder.
Ao sairmos da piscina, entramos numa pequena sala onde havia um grande ecrã. Através dele, vimos o filho de Catarina ser deitado numa encubadora, ainda sujo de sangue, e sobre um outro colega nosso, o Jonhy, que o abraçava. O Jonhy estava prestes a chorar: parecia mais emocionado que a própria Catarina.
Sei, no entanto, que ele não era o pai.
"Mas quem será o pai", tornei a pensar.
Sonhei que uma amiga minha chamada Catarina me convidava e a uns colegas para irmos a uma piscina.
Aceitámos todos, e mal chegámos, mete-mo-nos na água e começámos a jogar volley.
Estava-mos a divertir-nos imenso, até que de repente um grupo de mulheres grávidas, todas vestidas com fatos de banho e com toucas enfiadas na cabeça, saltou para a água e começou a dar à luz.
-Ó MEU DEUS! - gritei, horrizada. Lembro-me de pensar que aquilo não podia higiénico.
Uma a uma, as mulheres erguiam os seus filhos recém-nascidos da água e olhavam maravilhadas para os seus rostos vermelhos. Um dos bebés começou a discutir com a mãe, agitando o indicador diante dela como se a ameaçasse, e dizendo incongruências. Era a coisa mais feia que já vi, com o rosto completamente deformado. A mãe ficou a olhar para ele até se calar, boquiaberta e de olhos arregalados. Quando o bebé finalmente se acalmou, ela abraçou-o, rindo.
-O que é que está a acontecer!? - gritei, voltando-me para os meus colegas.
Então, para minha surpresa, vi a minha amiga a dar à luz, ajudada pelo nosso colega António.
-CATARINA?!
Depois de ter o filho, ela saiu da piscina com toda a naturalidade, segurando o filho com cuidado.
Fomos todos atrás dela, vi-mo-la entregar calmamente o bebé a uma enfermeira e vestir um roupão. Os pais dela estavam lá, e olhavam-na, maravilhados.
Tinha imensas perguntas para fazer, mas nem sabia por onde começar.
Catarina contou-me como escondera a sua gravidez, e eu lembrei-me de uma conversa que tínhamos tido à pouco tempo (que realmente aconteceu) sobre mulheres que só descobriam que estavam grávidas quando entravam em trabalho de parto, ou que conseguiam esconder a gravidez do principio ao fim. Na altura, eu não acreditara nela, mas lembro-mo de pensar, no sonho: "A Catarina tinha razão... agora acredito nela!". E logo a seguir: "Quem será o pai?"... Mas não lhe perguntei. Não sabia se ela queria responder.
Ao sairmos da piscina, entramos numa pequena sala onde havia um grande ecrã. Através dele, vimos o filho de Catarina ser deitado numa encubadora, ainda sujo de sangue, e sobre um outro colega nosso, o Jonhy, que o abraçava. O Jonhy estava prestes a chorar: parecia mais emocionado que a própria Catarina.
Sei, no entanto, que ele não era o pai.
"Mas quem será o pai", tornei a pensar.
domingo, 2 de maio de 2010
Okaaay...
Tive há poucas noites um sonho curioso: estava com a minha colega Sofia em frente a uma grande montra.
Não sei bem o que havia na loja, porque não estava nada exposto na vitrina, podia até ser um escritório.
Chegaram, então, uma mãe e o filho. O rapaz devia ter uns sete ou oito anos, tinha o cabelo curto e espetado, claro, e usava óculos. Foi até à montra com passos decididos e pôs-se a espreitar o que haveria lá dentro.
Depois, começou a bater no vidro como quem bate à porta. A mãe tentou detê-lo, mas o míudo ignorou-a e continuou a bater no vidro, cada vez com mais força, com as duas mãos, até, enquanto chamava por alguém que o deixasse entrar.
Passado pouco tempo, veio um empregado de dentro da loja e abriu uma porta, também de vidro, por onde a mãe entrou.
O filho, por sua vez, continuou a bater no vidro, e quando a mãe tornou a sair para o vir buscar, ele recusou-se a entrar pela porta: tinha de ser pela montra!
Ao meu lado, Sofia disse:
-Okaaay...
Não sei bem o que havia na loja, porque não estava nada exposto na vitrina, podia até ser um escritório.
Chegaram, então, uma mãe e o filho. O rapaz devia ter uns sete ou oito anos, tinha o cabelo curto e espetado, claro, e usava óculos. Foi até à montra com passos decididos e pôs-se a espreitar o que haveria lá dentro.
Depois, começou a bater no vidro como quem bate à porta. A mãe tentou detê-lo, mas o míudo ignorou-a e continuou a bater no vidro, cada vez com mais força, com as duas mãos, até, enquanto chamava por alguém que o deixasse entrar.
Passado pouco tempo, veio um empregado de dentro da loja e abriu uma porta, também de vidro, por onde a mãe entrou.
O filho, por sua vez, continuou a bater no vidro, e quando a mãe tornou a sair para o vir buscar, ele recusou-se a entrar pela porta: tinha de ser pela montra!
Ao meu lado, Sofia disse:
-Okaaay...
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Next, on Cartoon Network...
Há algumas noites, sonhei que me encontrava face a face com a Rainha de Copas, num apartamento. Decidiu a rainha que, para seu divertimento, largar-se-ia uma terrível besta que iria perseguir-me e matar-me se me apanhasse, para seu divertimento.
No momento em que disse isto, uma porta abriu-se de rompante e ouviu-se o rugido de um monstro horrivel: era muito alto e magro, sem pele, só ossos e carne putrefacta, em alguns lugares ainda brilhante de sangue vermelho. O rosto era uma caveira, rodeada de uma juba verde e castanha. Lembro-me perfeitamente: no lugar dos olhos, tinha duas opalas negras, e os dedos terminavam em longas e afiadas garras escuras.
Larguei a correr como nunca na minha vida.
Ao abrir a porta de entrada do apartamento, deparei-me com vários lances de escada, e pus-me logo a descê-los o mais depressa que podia, a saltar tantos degraus quanto conseguia.
O monstro perseguia-me entre rugidos, sacudindo com força o corrimão, cheio de raiva.
Eu tinha a certeza de que se chegasse ao fim das escadas, encontraria uma saída e conseguiria escapar para fora do prédio, mas, ao abrir a porta que deveria dar para a rua, dei comigo novamente na sala da rainha, com a besta à minha frente, a rosnar.
Tornei a correr dali para fora, em direcção às escadas, com o monstro sempre atrás de mim. Só que desta vez eu estava cansada... Ao vê-lo aproximar-se cada vez mais de mim, triunfante, tive uma ideia: saltei o corrimão e, esticando o corpo, deixei-me cair entre os lances de escadas.
Estava à espera de aterrar com um estrondo lá em baixo, e de me magoar, mas os meus pés tocaram delicadamente no chão, e, graciosa e leve como uma pluma, pousei.
Desta vez, quando abrir a porta do prédio, dei comigo realmente lá fora.
Então, deixei de ser eu quem fugia, tornei-me mera observadora, e vi como o grilo Falante, a consciência de Pinóquio, saía a correr do prédio, a fugir da fera que a Rainha de Copas libertara. Ao ver uma corda pendurada à sua frente, o Grilo decidiu puxá-la, certo de que, se o fizesse, caíra sobre o monstro um lençol que o prenderia, como se fosse uma rede.
Porém, não conseguiu fazê-lo: não era suficientemente pesado, e, resignado, decidiu explicar ao monstro o seu plano, confiante, certo de que este o compreenderia e perdoaria.
Assim, como uma criança arrependida, o Grilo disse tudo sobre a artimanha à besta, que já não era a coisa horrenda que me perseguira mas o Gato de Cheshire, que olhava céptico para a corda que o outro apontava.
-... e depois eu fazia assim... -ia exemplificar o Grilo, pendurando-se na corda. Ao fazê-lo, uma grande manta azul caiu pesada sobre o Gato, que bufou e bramiu as garras em todas as direcções, emaranhando-se cada vez mais na armadilha, dando tempo ao Grilo para fugir.
Nesse instante, o Grilo deixou de existir e era eu quem fugia novamente.
Enquanto me afastava, avistei ao longe Hevvin, que andava de um lado para o outro todo curvado e nas pontas dos pés, de punhal na mão, à procura de uma vítima.
Fui ter com ele, que, ao ver-me, sorriu com malícia e afagou com a ponta do indicador o punhal, antes de escondê-lo atrás das costas e me cumprimentar com delicadeza.
Levou-me pela mão até ao pátio de uma prisão, cercado por uma grade coroada de arame farpado, e sentámo-nos frente a frente a uma mesa.
Lá, pediu-me em casamento, ao mesmo tempo que, erguendo o punhal, se precipitava sobre mim:
-MARRY ME! MARRY ME!!
Gritei, e agarrei-o com toda a força pelo pulso, tentando afastar o punhal.
Enquanto espumava da boca e investia contra mim, continuava a perguntar-me se aceitava o seu pedido.
Não sei como, mas consegui arrancar-lhe o punhal da mão e tentei atirá-lo por cima da grade do pátio... Mas Hevvin empurrava-me e puxava-me uma e outra vez, rápido e com força, e não consegui atirar para longe a arma: caiu mesmo atrás dele, perto de uma outra mesa onde estavam sentados Ed, Edd e Eddy, a conversar:
-Por favor! Atirem o punhal lá para fora! - implorei -I promise I'll reward you!
Ao ouvirem a palavra "reward", os três saltaram sobre o punhal ao mesmo tempo, e, emvez de fazerem o que lhes fôra pedido, começaram a lutar uns com os outros, a ver quem atiraria o punhal lá para fora.
Assim, Hevvin recuperou sem esforço o punhal.
Não me lembro como terminou o sonho... Todos os personagens nesta história, excluindo eu e a besta, são desenhos animados, todos muito conhecidos. Se o leitor não souber nada àcerca deles, poderá descobrir rapidamente, através de uma pesquisa no Google.
Só é menos provável que encontrem algo relativo a Hevvin (lê-se "Heaven", já agora): trata-se de um personagem de uma banda-desenhada de Hot-Choc. O seu nome completo é Hevvin Angelbright, e ele é o ultimo unicórnio à face da terra... uma vez que matou todos os outros.
Se alguém quiser saber algo mais àcerca de Hevvin, visite:
http://hot-choc.deviantart.com/
No momento em que disse isto, uma porta abriu-se de rompante e ouviu-se o rugido de um monstro horrivel: era muito alto e magro, sem pele, só ossos e carne putrefacta, em alguns lugares ainda brilhante de sangue vermelho. O rosto era uma caveira, rodeada de uma juba verde e castanha. Lembro-me perfeitamente: no lugar dos olhos, tinha duas opalas negras, e os dedos terminavam em longas e afiadas garras escuras.
Larguei a correr como nunca na minha vida.
Ao abrir a porta de entrada do apartamento, deparei-me com vários lances de escada, e pus-me logo a descê-los o mais depressa que podia, a saltar tantos degraus quanto conseguia.
O monstro perseguia-me entre rugidos, sacudindo com força o corrimão, cheio de raiva.
Eu tinha a certeza de que se chegasse ao fim das escadas, encontraria uma saída e conseguiria escapar para fora do prédio, mas, ao abrir a porta que deveria dar para a rua, dei comigo novamente na sala da rainha, com a besta à minha frente, a rosnar.
Tornei a correr dali para fora, em direcção às escadas, com o monstro sempre atrás de mim. Só que desta vez eu estava cansada... Ao vê-lo aproximar-se cada vez mais de mim, triunfante, tive uma ideia: saltei o corrimão e, esticando o corpo, deixei-me cair entre os lances de escadas.
Estava à espera de aterrar com um estrondo lá em baixo, e de me magoar, mas os meus pés tocaram delicadamente no chão, e, graciosa e leve como uma pluma, pousei.
Desta vez, quando abrir a porta do prédio, dei comigo realmente lá fora.
Então, deixei de ser eu quem fugia, tornei-me mera observadora, e vi como o grilo Falante, a consciência de Pinóquio, saía a correr do prédio, a fugir da fera que a Rainha de Copas libertara. Ao ver uma corda pendurada à sua frente, o Grilo decidiu puxá-la, certo de que, se o fizesse, caíra sobre o monstro um lençol que o prenderia, como se fosse uma rede.
Porém, não conseguiu fazê-lo: não era suficientemente pesado, e, resignado, decidiu explicar ao monstro o seu plano, confiante, certo de que este o compreenderia e perdoaria.
Assim, como uma criança arrependida, o Grilo disse tudo sobre a artimanha à besta, que já não era a coisa horrenda que me perseguira mas o Gato de Cheshire, que olhava céptico para a corda que o outro apontava.
-... e depois eu fazia assim... -ia exemplificar o Grilo, pendurando-se na corda. Ao fazê-lo, uma grande manta azul caiu pesada sobre o Gato, que bufou e bramiu as garras em todas as direcções, emaranhando-se cada vez mais na armadilha, dando tempo ao Grilo para fugir.
Nesse instante, o Grilo deixou de existir e era eu quem fugia novamente.
Enquanto me afastava, avistei ao longe Hevvin, que andava de um lado para o outro todo curvado e nas pontas dos pés, de punhal na mão, à procura de uma vítima.
Fui ter com ele, que, ao ver-me, sorriu com malícia e afagou com a ponta do indicador o punhal, antes de escondê-lo atrás das costas e me cumprimentar com delicadeza.
Levou-me pela mão até ao pátio de uma prisão, cercado por uma grade coroada de arame farpado, e sentámo-nos frente a frente a uma mesa.
Lá, pediu-me em casamento, ao mesmo tempo que, erguendo o punhal, se precipitava sobre mim:
-MARRY ME! MARRY ME!!
Gritei, e agarrei-o com toda a força pelo pulso, tentando afastar o punhal.
Enquanto espumava da boca e investia contra mim, continuava a perguntar-me se aceitava o seu pedido.
Não sei como, mas consegui arrancar-lhe o punhal da mão e tentei atirá-lo por cima da grade do pátio... Mas Hevvin empurrava-me e puxava-me uma e outra vez, rápido e com força, e não consegui atirar para longe a arma: caiu mesmo atrás dele, perto de uma outra mesa onde estavam sentados Ed, Edd e Eddy, a conversar:
-Por favor! Atirem o punhal lá para fora! - implorei -I promise I'll reward you!
Ao ouvirem a palavra "reward", os três saltaram sobre o punhal ao mesmo tempo, e, emvez de fazerem o que lhes fôra pedido, começaram a lutar uns com os outros, a ver quem atiraria o punhal lá para fora.
Assim, Hevvin recuperou sem esforço o punhal.
Não me lembro como terminou o sonho... Todos os personagens nesta história, excluindo eu e a besta, são desenhos animados, todos muito conhecidos. Se o leitor não souber nada àcerca deles, poderá descobrir rapidamente, através de uma pesquisa no Google.
Só é menos provável que encontrem algo relativo a Hevvin (lê-se "Heaven", já agora): trata-se de um personagem de uma banda-desenhada de Hot-Choc. O seu nome completo é Hevvin Angelbright, e ele é o ultimo unicórnio à face da terra... uma vez que matou todos os outros.
Se alguém quiser saber algo mais àcerca de Hevvin, visite:
http://hot-choc.deviantart.com/
Alguns episódios curiosos...
Às vezes, irrita-me profundamente não me lembrar dos meus sonhos, porque me recordo, ou contam-me, algumas coisas que digo e faço durante o sono.
À anos, quando era uma criança, passei uma noite em casa dos meus avós, com a minha mãe. Sei que estava que estava a sonhar com alguma coisa relacionada com "Pokemons", e que a meio do sonho disse: "Temos de salvá-lo!".
Pouco depois, também em casa dos meus avós, numa noite em que tive que dormir com a minha prima Marta, dei-lhe uma grande tareia, enquanto gritava para uma outra prima nossa, com quem estava a sonhar: "Vais pagá-las! Vais pagá-las, Ana Rute!! Larga-me, Tomás, larga-me!! Vais pagá-las!!!".
Segundo me contaram, a minha avó veio ao quarto acordar-me e perguntar-me se queria um copo de água. Ofegante, respondi que sim.
Bebi, devolvi o copo à minha avó, e quando tornei a adormecer, o sonho continuou.
Na manhã seguinte, Marta perguntou-me:
-Ó Carolina, com que é que sonháste hoje?
-Hoje? Hoje nem sequer sonhei...
Uma outra vez, em que os meus avós é que estavam em minha casa, a minha avó ficou surpreendida ao ver-me a atravessar o corredor, de olhos fechados e a dormir profundamente, e meter-me na casa-de-banho às escuras, sentar-me na sanita e desatar a rir às gargalhadas...
Quando já era mais velhas, e a Marta veio passar uma noite a minha casa e mais uma vez tivémos de dormir juntas, ela acordou a meio da noite comigo a cantar os "Jardins Proibidos". Segundo ela, eu estava muito feliz, a rir-me muito, como se estivesse num karaoke.
Mais recentemente, aliás, há alguns dias, sonhei que estava a na galhofa com um grupo de pessoas, e que a determinada altura todos cuspíamos para qualquer coisa... Acordei nesse mesmo instante, com a cara toda molhada de cuspo.
À anos, quando era uma criança, passei uma noite em casa dos meus avós, com a minha mãe. Sei que estava que estava a sonhar com alguma coisa relacionada com "Pokemons", e que a meio do sonho disse: "Temos de salvá-lo!".
Pouco depois, também em casa dos meus avós, numa noite em que tive que dormir com a minha prima Marta, dei-lhe uma grande tareia, enquanto gritava para uma outra prima nossa, com quem estava a sonhar: "Vais pagá-las! Vais pagá-las, Ana Rute!! Larga-me, Tomás, larga-me!! Vais pagá-las!!!".
Segundo me contaram, a minha avó veio ao quarto acordar-me e perguntar-me se queria um copo de água. Ofegante, respondi que sim.
Bebi, devolvi o copo à minha avó, e quando tornei a adormecer, o sonho continuou.
Na manhã seguinte, Marta perguntou-me:
-Ó Carolina, com que é que sonháste hoje?
-Hoje? Hoje nem sequer sonhei...
Uma outra vez, em que os meus avós é que estavam em minha casa, a minha avó ficou surpreendida ao ver-me a atravessar o corredor, de olhos fechados e a dormir profundamente, e meter-me na casa-de-banho às escuras, sentar-me na sanita e desatar a rir às gargalhadas...
Quando já era mais velhas, e a Marta veio passar uma noite a minha casa e mais uma vez tivémos de dormir juntas, ela acordou a meio da noite comigo a cantar os "Jardins Proibidos". Segundo ela, eu estava muito feliz, a rir-me muito, como se estivesse num karaoke.
Mais recentemente, aliás, há alguns dias, sonhei que estava a na galhofa com um grupo de pessoas, e que a determinada altura todos cuspíamos para qualquer coisa... Acordei nesse mesmo instante, com a cara toda molhada de cuspo.
Mendigos, Música e Violinos
Um dia depois do pesadelo que aqui publiquei antes, sonhei que estava em casa dos meus avós, com o meu irmão no quarto de visitas, debruçados na janela a olhar lá para baixo.
No terraço, encostado ao muro, estava um homem de aspecto miserável, mas que, com toda a dignidade do mundo, tocava violino. Era uma música lindíssima.
O meu irmão, deliciado, quis juntar-se-lhe: correu a pegar no seu violino, e foi ter com ele ao terraço. Pôs-se de pé sobre o muro e tocaram juntos.
Era tão bonita, a música, que eu até tinha pena de não saber tocar um instrumento qualquer, para me juntar a eles e fazer parte daquela melodia maravilhosa.
Procurei pela casa toda algo que eu pudesse tocar. Acabei por descobrir algo que até se parecia com um violino... Meio desfeito, é certo, e era diferente a maneira de usá-lo, mas, ainda assim, um violino: não tinha vara, e para o tocar era preciso friccionar com os dedos as cordas, prendendo-as com teclas montadas na cabeça do violino para tocar diferentes notas.
Lembro-me vagamente de um grande algazarra, de uma espécie de almoço, de ouvir a musica do meu irmão e do seu companheiro e de estar ansiosa por lhes mostrar o meu achado.
No terraço, encostado ao muro, estava um homem de aspecto miserável, mas que, com toda a dignidade do mundo, tocava violino. Era uma música lindíssima.
O meu irmão, deliciado, quis juntar-se-lhe: correu a pegar no seu violino, e foi ter com ele ao terraço. Pôs-se de pé sobre o muro e tocaram juntos.
Era tão bonita, a música, que eu até tinha pena de não saber tocar um instrumento qualquer, para me juntar a eles e fazer parte daquela melodia maravilhosa.
Procurei pela casa toda algo que eu pudesse tocar. Acabei por descobrir algo que até se parecia com um violino... Meio desfeito, é certo, e era diferente a maneira de usá-lo, mas, ainda assim, um violino: não tinha vara, e para o tocar era preciso friccionar com os dedos as cordas, prendendo-as com teclas montadas na cabeça do violino para tocar diferentes notas.
Lembro-me vagamente de um grande algazarra, de uma espécie de almoço, de ouvir a musica do meu irmão e do seu companheiro e de estar ansiosa por lhes mostrar o meu achado.
'Tô? Olha, é o do costume... ajudas-me a esconder um corpo?
Nestas férias da Páscoa, sonhei certa vez que eu e o Liro tinhamos morto um homem. Nunca vi a nossa vítima, nem no sonho nem na vida, mas sei que era um homem baixo, gordo, meio careca e de pele rosada, que usava uma camisa enfiada por umas calças de pano adentro.
Devia ter sido uma pessoa muito má, porque eu e o Liro estávamos mesmo contentes por tê-lo morto. Mesmo muito, muito satisfeitos.
No Parque das Nações, atirámos o corpo ao Rio Tejo e afastámo-nos, a rir e a falar alegremente do que tínhamos feito, orgulhosos do crime que havíamos cometido.
Não muito longe, estavam alguns armazéns, onde entrámos. Encaminhámo-nos para uma cozinha apertada, de paredes altas com a tinta a estalar, cheia de electrodomésticos velhos, todos ferrugentos.
Num repente, zangámo-nos. Começámos a discutir não sei porquê, e, do nada, as luzes apagaram-se. Não se ouviu um som.
Quando voltei a ver, o Liro tinha desaparecido: a cozinha estava suja de sangue, havia alguma carne picada numa trituradora, e um braço cortado pouco acima do cotovelo no micro-ondas.
Horrorizada, percebi que o Liro estava morto. E, como não havia ninguém por perto, deduzi que fôra eu quem o matara.
-Calma... Calma... - murmurei, enquanto pensava no que devia fazer.
Saí a correr do armazém e fui ter com um grupo de amigos que passeava à beira do rio. Entre eles, distingui Sara. Fui ter com ela e contei-lhe o que acontecera, e, apesar de ser uma grande amiga do Liro, não ficou triste, ou zangada, nem sequer surpreendida.
Disse-me que me ia ajudar a esconder o corpo, e que ia ficar tudo bem.
Regressámos juntas aos armazéns, entrámos na cozinha e deparámo-nos com tudo limpo, sem sinais do cadáver.
Fiquei desesperada: alguém o tinha encontrado. Estava condenada, sem dúvida, não havia nada que pudesse fazer... E agora? Estava tristíssima por ter morto o meu amigo, e a culpa esmagava-me... Sabia que merecia ir presa. Porém, eu não o fizera por querer. Nem sequer me lembrava de nada, era como se tivesse perdido o controlo do meu corpo, e portanto não pudesse escolher matá-lo ou não! Além do mais, lá por eu ir presa, por perder não-sei-quantos anos da minha vida, ele não ia voltar a viver, pois não? Tinha de fugir.
Entretanto, a Sara não perdera a calma, e na sua voz ao mesmo tempo doce, preguiçosa e desinteressada, falava ao telemóvel:
-'Tô? Então, 'tás bom? Tudo bem? Sim, eu também... Olha, é o do costume... Ajudas-me a esconder um corpo?
Devia ter sido uma pessoa muito má, porque eu e o Liro estávamos mesmo contentes por tê-lo morto. Mesmo muito, muito satisfeitos.
No Parque das Nações, atirámos o corpo ao Rio Tejo e afastámo-nos, a rir e a falar alegremente do que tínhamos feito, orgulhosos do crime que havíamos cometido.
Não muito longe, estavam alguns armazéns, onde entrámos. Encaminhámo-nos para uma cozinha apertada, de paredes altas com a tinta a estalar, cheia de electrodomésticos velhos, todos ferrugentos.
Num repente, zangámo-nos. Começámos a discutir não sei porquê, e, do nada, as luzes apagaram-se. Não se ouviu um som.
Quando voltei a ver, o Liro tinha desaparecido: a cozinha estava suja de sangue, havia alguma carne picada numa trituradora, e um braço cortado pouco acima do cotovelo no micro-ondas.
Horrorizada, percebi que o Liro estava morto. E, como não havia ninguém por perto, deduzi que fôra eu quem o matara.
-Calma... Calma... - murmurei, enquanto pensava no que devia fazer.
Saí a correr do armazém e fui ter com um grupo de amigos que passeava à beira do rio. Entre eles, distingui Sara. Fui ter com ela e contei-lhe o que acontecera, e, apesar de ser uma grande amiga do Liro, não ficou triste, ou zangada, nem sequer surpreendida.
Disse-me que me ia ajudar a esconder o corpo, e que ia ficar tudo bem.
Regressámos juntas aos armazéns, entrámos na cozinha e deparámo-nos com tudo limpo, sem sinais do cadáver.
Fiquei desesperada: alguém o tinha encontrado. Estava condenada, sem dúvida, não havia nada que pudesse fazer... E agora? Estava tristíssima por ter morto o meu amigo, e a culpa esmagava-me... Sabia que merecia ir presa. Porém, eu não o fizera por querer. Nem sequer me lembrava de nada, era como se tivesse perdido o controlo do meu corpo, e portanto não pudesse escolher matá-lo ou não! Além do mais, lá por eu ir presa, por perder não-sei-quantos anos da minha vida, ele não ia voltar a viver, pois não? Tinha de fugir.
Entretanto, a Sara não perdera a calma, e na sua voz ao mesmo tempo doce, preguiçosa e desinteressada, falava ao telemóvel:
-'Tô? Então, 'tás bom? Tudo bem? Sim, eu também... Olha, é o do costume... Ajudas-me a esconder um corpo?
quarta-feira, 24 de março de 2010
A Rapariga Desfeita
Esta noite, tive um pesadelo terrível: passava-se na minha faculdade, junto à porta que dá para o auditório grande.
É muito difícil explicar o que se passou... Porque, apesar de no meu sonho eu ser eu, e de ter consciência disso, eu via algo que se passava longe de mim, através do olhos de um rapaz. Nunca o vi, nem sequer sei se existe. Só sei que no meu sonho, eu e ele víamos o mesmo:
Lembro-me que, diante desse rapaz, estava uma raparia nua, que também nunca vi. Era muito pálida: a sua pele tinha um tom assustador, entre o rosa e o roxo, e sob a mesma distinguiam-se veias vermelhas e azuis.
Tinha o cabelo preto e curto, pelo queixo.
Não era bonita: tinha o corpo inchado e uma expressão triste mas determinada:
-É preciso! -insistia ela.
De repente, apareceu um enorme cão preto de orelhas cortadas, que a atacou. Ela gritou de dor, mas não tentou fugir, nem sequer afastar o cão: manteve-se de pé, a berrar:
-É preciso! Tem de ser!
O cão arrancou a pele e a carne da sua barriga, deixando à vista os órgãos, cobertos de sangue brilhante.
Eu não quis ver mais e o rapaz desviou os olhos, mas quando a rapariga tornou a gritar, ele teve de olhar outra vez para ela, e ambos vimos a cara dela ser arrancada.
Lembro-me muito bem do crânio dela, encharcado de sangue.
E ela continuava viva, a gritar de dor.
Em pensamento, pedi ao rapaz para ir embora. Ele deixou, e dei comigo diante das escadas em caracol da faculdade, perto da entrada para o auditório.
Pouco depois passou por mim o rapaz, de mão dada com a rapariga. Ela vinha inteira, sem uma única marca.
-Como fizeste isso? -perguntei-lhe.
Ela limitou-se a sorrir debilmente: ainda estava muito fraca.
É muito difícil explicar o que se passou... Porque, apesar de no meu sonho eu ser eu, e de ter consciência disso, eu via algo que se passava longe de mim, através do olhos de um rapaz. Nunca o vi, nem sequer sei se existe. Só sei que no meu sonho, eu e ele víamos o mesmo:
Lembro-me que, diante desse rapaz, estava uma raparia nua, que também nunca vi. Era muito pálida: a sua pele tinha um tom assustador, entre o rosa e o roxo, e sob a mesma distinguiam-se veias vermelhas e azuis.
Tinha o cabelo preto e curto, pelo queixo.
Não era bonita: tinha o corpo inchado e uma expressão triste mas determinada:
-É preciso! -insistia ela.
De repente, apareceu um enorme cão preto de orelhas cortadas, que a atacou. Ela gritou de dor, mas não tentou fugir, nem sequer afastar o cão: manteve-se de pé, a berrar:
-É preciso! Tem de ser!
O cão arrancou a pele e a carne da sua barriga, deixando à vista os órgãos, cobertos de sangue brilhante.
Eu não quis ver mais e o rapaz desviou os olhos, mas quando a rapariga tornou a gritar, ele teve de olhar outra vez para ela, e ambos vimos a cara dela ser arrancada.
Lembro-me muito bem do crânio dela, encharcado de sangue.
E ela continuava viva, a gritar de dor.
Em pensamento, pedi ao rapaz para ir embora. Ele deixou, e dei comigo diante das escadas em caracol da faculdade, perto da entrada para o auditório.
Pouco depois passou por mim o rapaz, de mão dada com a rapariga. Ela vinha inteira, sem uma única marca.
-Como fizeste isso? -perguntei-lhe.
Ela limitou-se a sorrir debilmente: ainda estava muito fraca.
terça-feira, 16 de março de 2010
A marcha dos Pinguins
Não sei como é que ainda não fiz nenhum post sobre este sonho: foi um dos mais engraçados que já tive, cheguei a fazer desenhos e alguns story-boards sobre ele.
Sonhei que, na mesinha de cabeceira do meu pai, havia uma folha de papel, onde ficava a praceta onde é a minha casa. Lá, vivia uma comunidade de pinguins, que, comandados por uma menina, construíam flores a partir de palitos.
Esses pinguins eram muito infeliz: o grande sonho deles era fazer flores verdadeiras!
Por isso, decidiram tomar uma atitude!
Liderados por um pinguim que usava óculos de sol, eles marcharam pela pequena praceta entoando "Somebody to Love".
Devo ter visto "Happy Feet" naquela noite, antes de me deitar.
Sonhei que, na mesinha de cabeceira do meu pai, havia uma folha de papel, onde ficava a praceta onde é a minha casa. Lá, vivia uma comunidade de pinguins, que, comandados por uma menina, construíam flores a partir de palitos.
Esses pinguins eram muito infeliz: o grande sonho deles era fazer flores verdadeiras!
Por isso, decidiram tomar uma atitude!
Liderados por um pinguim que usava óculos de sol, eles marcharam pela pequena praceta entoando "Somebody to Love".
Devo ter visto "Happy Feet" naquela noite, antes de me deitar.
quarta-feira, 3 de março de 2010
STRIKE!!!
Esta noite, antes de sonhar que era uma sereia, sonhei que estava com os meus colegas de faculdade num lugar parecido com o meu infantário, o "mimo infantil" (hoje é o "barco do mimo").
Tenho noção que o lugar era uma escola, na qual conviviam turmas do primeiro ciclo ao ensino superior.
Eu e os meus colegas detestávamos os alunos dos primeiro ano.
Por isso, ao ouvi-los aproximarem-se, escondemo-nos todos debaixo dos balcões de cimento que havia no pátio. Apertámo-nos uns contra os outros debaixo da pedra, e ficámos calados à espera que os míudos se fossem embora.
Mas eles avançaram na nossa direcção, e eu conseguia ver as pernas e os pezinhos das dezenas de crianças mesmo à nossa frente.
Foi então que de entre os meus colegas, ouviu-se uma vozinha de criança, revelando o nosso esconderijo.
Decidimos pois ser amigos dos míudos: começámos a jogar bowlling com eles. Literalmente: eles eram os pinos, e as bolas.
ps: a fotografia neste post é do "mimo infantil", hoje "barco do mimo", o meu infantário.
CHAMEM O 112!!!
Hoje, ao viajar de metro, lembrei-me de um sonho que tive há muito tempo, no ano passado.
Sonhei que estava com a minha turma da António Arroio na estação de metro da Alameda, com a nossa professora de Geometria Descritiva e Directora de turma à espera do metro, para irmos para uma visita de estudo.
Quando chegou o metro, não sei porquê, mas os alunos não entraram: só a professora. Muito animados, dois colegas meus, (O Chico e o Mike) combinaram soltar para a carruagem onde viajava a professora, para a assustarem.
Mas saltaram demasiado tarde: a ultima carruagem passou por eles num ápice, e eles estatelaram-se na linha.
Os corpos foram violentamente sacudidos por choques por momentos, depois ficaram completamente imóveis.
Não se ouviu um som.
Toda a gente na estação parou para olhar os dois rapazes estendidos na linha do metro.
-CHAMEM O 112!!! - gritei.
Só que ninguém me ligou: as pessoas foram-se embora como se nada tivesse acontecido ou voltaram-se umas para as outras e começaram a falar.
Sonhei que estava com a minha turma da António Arroio na estação de metro da Alameda, com a nossa professora de Geometria Descritiva e Directora de turma à espera do metro, para irmos para uma visita de estudo.
Quando chegou o metro, não sei porquê, mas os alunos não entraram: só a professora. Muito animados, dois colegas meus, (O Chico e o Mike) combinaram soltar para a carruagem onde viajava a professora, para a assustarem.
Mas saltaram demasiado tarde: a ultima carruagem passou por eles num ápice, e eles estatelaram-se na linha.
Os corpos foram violentamente sacudidos por choques por momentos, depois ficaram completamente imóveis.
Não se ouviu um som.
Toda a gente na estação parou para olhar os dois rapazes estendidos na linha do metro.
-CHAMEM O 112!!! - gritei.
Só que ninguém me ligou: as pessoas foram-se embora como se nada tivesse acontecido ou voltaram-se umas para as outras e começaram a falar.
Uma Sereia no Esgoto
Esta noite sonhei que era uma sereia: quando estava fora de água, tinha perna, mas quando mergulhava, tinha barbatanas.
Estava ao pé de um armazém de um só andar e paredes brancas (apesar de sujas e com a tinta gasta) diante de um rio, de águas cinzentas e paradas onde cresciam juncos e se acumulava lixo. Havia também grandes rochas negras, às quais estavam ancorados barcos pequenos, velhos, e quase sem cor, flutuando praticamente imóveis, quase pairando.
Sobre o rio, havia um pontão feito de pedras escuras, com uma superfície lisa sobre a qual passavam camiões.
O céu estava toldado de nuvens brancas e cinzentas, não estava calor nem frio, e o único barulho que se ouvia era o das máquinas a trabalhar nos armazéns atrás de mim, e de homens carregados de mercadorias que falavam uns com os outros.
Todos me ignoravam, excepto dois que conduziam um fixador de cargas, que me olhavam atentamente.
Decidi afastar-me. Caminhei para a água e entrei.
Nadei muito tempo: tinha de chegar à outra margem, custasse o que custasse.
Quando já estava demasiado cansada para continuar, e quase tinha alcançado terra, trepei com os meus braços exaustos pelas pedras do pontão, para me deitar na estrada a descansar.
Mas, quando o fiz, ouvi um carro aproximar-se, e quando me levantei a custo vi que eram os dois homens que me observavam no porto que o conduziam. Atravessavam o pontão, e teriam de passar por mim.
Desesperada, tornei a arrastar-me para dentro de água. Arranhei as pernas (ou barbatanas) e magoei os pulsos ao descer pelas pedras, caí e esfolei os braços e o peito.
Quando cheguei à água, comecei a afastar-me da margem, para que os dois homens não me alcançassem. Foi então que uma forte corrente começou a arrastar-me de volta ao armazém:
-Não! - gritei - Socorro, ajudem-me! - implorei aos dois homens, que tinham saído do veículo e me observavam com um ar surpreendido, ajeitando os bonés e mordiscando os cigarros.
-Ajudem-me!
Não podia voltar àquela margem: já não me importava com os homens, se eram eles ou outra pessoa qualquer que me tirava da água, só queria sair dali, só não podia voltar à margem de onde partira.
Agarrei-me às rochas, às plantas, ao lixo... Mas a corrente foi mais forte, e em menos de nada estava outra vez ao pé do armazém. Precisara de tanto tempo para chegar onde tinha chegado, e num instante tornei ao ponto de partida.
Ps: não me recordo muito bem do que dizia, mas este meu sonho era narrado por um homem. Lembro-me que quando a corrente me começou a arrastar, ele disse: "...às vezes, as sereias são arrastadas pelas correntes fortes..."
Não considero isto muito estranho, tendo em conta que alguns sonhos meus são legendados.
Estava ao pé de um armazém de um só andar e paredes brancas (apesar de sujas e com a tinta gasta) diante de um rio, de águas cinzentas e paradas onde cresciam juncos e se acumulava lixo. Havia também grandes rochas negras, às quais estavam ancorados barcos pequenos, velhos, e quase sem cor, flutuando praticamente imóveis, quase pairando.
Sobre o rio, havia um pontão feito de pedras escuras, com uma superfície lisa sobre a qual passavam camiões.
O céu estava toldado de nuvens brancas e cinzentas, não estava calor nem frio, e o único barulho que se ouvia era o das máquinas a trabalhar nos armazéns atrás de mim, e de homens carregados de mercadorias que falavam uns com os outros.
Todos me ignoravam, excepto dois que conduziam um fixador de cargas, que me olhavam atentamente.
Decidi afastar-me. Caminhei para a água e entrei.
Nadei muito tempo: tinha de chegar à outra margem, custasse o que custasse.
Quando já estava demasiado cansada para continuar, e quase tinha alcançado terra, trepei com os meus braços exaustos pelas pedras do pontão, para me deitar na estrada a descansar.
Mas, quando o fiz, ouvi um carro aproximar-se, e quando me levantei a custo vi que eram os dois homens que me observavam no porto que o conduziam. Atravessavam o pontão, e teriam de passar por mim.
Desesperada, tornei a arrastar-me para dentro de água. Arranhei as pernas (ou barbatanas) e magoei os pulsos ao descer pelas pedras, caí e esfolei os braços e o peito.
Quando cheguei à água, comecei a afastar-me da margem, para que os dois homens não me alcançassem. Foi então que uma forte corrente começou a arrastar-me de volta ao armazém:
-Não! - gritei - Socorro, ajudem-me! - implorei aos dois homens, que tinham saído do veículo e me observavam com um ar surpreendido, ajeitando os bonés e mordiscando os cigarros.
-Ajudem-me!
Não podia voltar àquela margem: já não me importava com os homens, se eram eles ou outra pessoa qualquer que me tirava da água, só queria sair dali, só não podia voltar à margem de onde partira.
Agarrei-me às rochas, às plantas, ao lixo... Mas a corrente foi mais forte, e em menos de nada estava outra vez ao pé do armazém. Precisara de tanto tempo para chegar onde tinha chegado, e num instante tornei ao ponto de partida.
Ps: não me recordo muito bem do que dizia, mas este meu sonho era narrado por um homem. Lembro-me que quando a corrente me começou a arrastar, ele disse: "...às vezes, as sereias são arrastadas pelas correntes fortes..."
Não considero isto muito estranho, tendo em conta que alguns sonhos meus são legendados.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
As Cobras Parasitas
Há cerca de um ano, sonhei que um dos meus cães, o meu querido Alex, tinha morrido. Eu adoro aquele cão, e no meu sonho fartei-me de chorar agarrada ao corpo dele.
Quando o estavam a enterrar, fiquei a olhar com pena para a terra a cair em cima do seus pêlo dourado, a pensar que dentro de pouco tempo deixaria de vê-lo para sempre.
Chorei até não poder mais...
Mas, ao sair de casa no dia seguinte, fui surpreendida pelo meu Alex, que se passeava junto à porta de entrada e abanava o rabo com tanta força que todo o corpo era também sacudido.
Louca de alegria, corri para ele. Mas o meu cão fugiu de mim, com a cauda entre as patas e de focinho baixo.
-Alex! - chamei - Anda à dona!
Corri atrás dele até chegar à orla de uma floresta muito escura e fria, onde o meu cão se meteu.
Curiosamente, tinha sido construído mesmo junto às árvores um café, onde uns velhos de longas barbas, camisas de xadrez e calças de ganga sustentadas por suspensórios me disseram que sabiam o que tinha o meu cão: explicaram-me que o corpo morto de Alex tinha sido mordido por uma espécie muito rara de cobras, que atacava apenas cadáveres e que, com uma dentada, passava a sua alma para dentro do corpo morto da vítima, passando a habitar nele.
-Cada cobra vive duas semanas no corpo que morde. - informou um dos velhos - Se quiseres manter o teu cão vivo, só tens de o trazer até aqui de quinze em quinze dias, para que uma nova cobra o venha morder.
Ao perceber que, como um parasita, um bicho imundo vivia no corpo do meu Alex, vivia através dele, e o profanava, fiquei cheia de raiva.
Nem me passou pela cabeça fazer o que o velho sugerira: o que quer que fosse que estava no corpo do Alex, não era o Alex, e estava a roubar a carne do meu adorado cão.
Decidi vingá-lo: mataria a cobra!
Porém, ela fugia de mim, e era dificílimo apanhá-la. Esperei até ela se sentir fraca, e, assim que percebeu que estava prestes a morrer, a cobra dirigiu-se para a floresta, dentro do corpo do meu cão, para que uma outra cobra tomasse o seu lugar.
Mas eu apanhei-a!
Agarrei-a com força e bati-lhe!
Só que o corpo dourado que se encolheu nos meus braços foi o do meu cão, e quando o ouvi ganir fiquei horrorizada: pareceu-me que estava a matar o meu Alex, que me lançava um olhar ao mesmo tempo assustado, admirado e suplicante. Parecia mesmo o meu cão, que me perguntava com aqueles olhinhos castanhos porque é que eu o estava a magoar, eu, que sempre o tratara tão bem, e me pedia que, por favor, o largasse.
Assim que me afastei, ele desatou a correr em direcção à floresta, onde, decerto, uma outra cobra veio ocupar o corpo morto do meu cão.
Então percebi como era difícil a minha missão: ou me conformava com os parasitas que habitavam o cadáver do meu Alex, e fingia que o meu cão continuava vivo, ou então, eu própria teria de matar aqueles répteis imundos, e ver morrer pelas minhas mãos o meu querido cão.
Não sei se consegui cumprir a minha tarefa, não me lembro. Sei que, depois de matar a cobra que estava dentro do meu Alex, teria de queimar o seu corpo, antes que uma outra o ocupasse.
Quando o estavam a enterrar, fiquei a olhar com pena para a terra a cair em cima do seus pêlo dourado, a pensar que dentro de pouco tempo deixaria de vê-lo para sempre.
Chorei até não poder mais...
Mas, ao sair de casa no dia seguinte, fui surpreendida pelo meu Alex, que se passeava junto à porta de entrada e abanava o rabo com tanta força que todo o corpo era também sacudido.
Louca de alegria, corri para ele. Mas o meu cão fugiu de mim, com a cauda entre as patas e de focinho baixo.
-Alex! - chamei - Anda à dona!
Corri atrás dele até chegar à orla de uma floresta muito escura e fria, onde o meu cão se meteu.
Curiosamente, tinha sido construído mesmo junto às árvores um café, onde uns velhos de longas barbas, camisas de xadrez e calças de ganga sustentadas por suspensórios me disseram que sabiam o que tinha o meu cão: explicaram-me que o corpo morto de Alex tinha sido mordido por uma espécie muito rara de cobras, que atacava apenas cadáveres e que, com uma dentada, passava a sua alma para dentro do corpo morto da vítima, passando a habitar nele.
-Cada cobra vive duas semanas no corpo que morde. - informou um dos velhos - Se quiseres manter o teu cão vivo, só tens de o trazer até aqui de quinze em quinze dias, para que uma nova cobra o venha morder.
Ao perceber que, como um parasita, um bicho imundo vivia no corpo do meu Alex, vivia através dele, e o profanava, fiquei cheia de raiva.
Nem me passou pela cabeça fazer o que o velho sugerira: o que quer que fosse que estava no corpo do Alex, não era o Alex, e estava a roubar a carne do meu adorado cão.
Decidi vingá-lo: mataria a cobra!
Porém, ela fugia de mim, e era dificílimo apanhá-la. Esperei até ela se sentir fraca, e, assim que percebeu que estava prestes a morrer, a cobra dirigiu-se para a floresta, dentro do corpo do meu cão, para que uma outra cobra tomasse o seu lugar.
Mas eu apanhei-a!
Agarrei-a com força e bati-lhe!
Só que o corpo dourado que se encolheu nos meus braços foi o do meu cão, e quando o ouvi ganir fiquei horrorizada: pareceu-me que estava a matar o meu Alex, que me lançava um olhar ao mesmo tempo assustado, admirado e suplicante. Parecia mesmo o meu cão, que me perguntava com aqueles olhinhos castanhos porque é que eu o estava a magoar, eu, que sempre o tratara tão bem, e me pedia que, por favor, o largasse.
Assim que me afastei, ele desatou a correr em direcção à floresta, onde, decerto, uma outra cobra veio ocupar o corpo morto do meu cão.
Então percebi como era difícil a minha missão: ou me conformava com os parasitas que habitavam o cadáver do meu Alex, e fingia que o meu cão continuava vivo, ou então, eu própria teria de matar aqueles répteis imundos, e ver morrer pelas minhas mãos o meu querido cão.
Não sei se consegui cumprir a minha tarefa, não me lembro. Sei que, depois de matar a cobra que estava dentro do meu Alex, teria de queimar o seu corpo, antes que uma outra o ocupasse.
Os Aztecas Indianos e a sua Cadeia de Hotéis
Hoje, sonhei que vivia numa selva luxuriante, com uma tribo de alegres indígenas.
Não me lembro muito bem de como fui até lá... Lembro-me de passar por um sítio parecido com a minha faculdade, só que muito maior, com mais corredores e salas, quase um labirinto. Recordo-me de correr e saltar nesse labirinto como se fosse mergulhar, ficando depois a flutuar no ar, e movendo-me sobre a cabeças das outras pessoas como se nadasse debaixo de água...
Na tribo onde eu vivia, havia um rapaz branco, como eu, que fôra criado pelos nossos amigos índios. Talvez por sermos da mesma raça, ele compadeceu-se de mim, teve pena de me ver perdida no meio da floresta, e enquanto estive entre os indígenas, não me largou: estávamos sempre juntos.
Certo dia, fomos pescar: viajámos até uma praia pequena, rodeada por uma enorme falésia, repleta de edifícios abandonados.
Perscrutámos os prédios em busca de material para construirmos cestas para transportar o peixe: lembro-me vagamente de uma menininha que fizera a sua cesta apenas com caixas de Cd's...
Assim que as cestas ficaram prontas, descemos à praia: eu e um grupo de jovens entusiastas corremos para a água cheia de peixe, e, à primeira tentativa, agarrei um peixe gordo, que ficou a contorcer-se na minha mão até o pôr na cesta que partilhava com o meu inseparável amigo. Os peixes eram todos brancos, de corpos achatados mas rechonchudos, com pequenos bigodes.
Sorri ao meu companheiro, muito orgulhosa do meu sucesso, mas ele estava apreensivo: contou-me que, apesar de a água parecer cheia de peixe, a verdade é que nos anos anteriores havia muito mais.
Então, a tribo decidiu investigar os prédios abandonados, em busca de um motivo para aquele desastre.
Numa das salas, que tinha o chão coberto de lajes, o meu amigo descobriu uma solta. Levantou-a, e verificámos que tinha sido colocada directamente por cima de água.
Lá, estavam a boiar duas estatuetas de santos:
-A culpa é dos santos! - acusou o meu amigo. - Eles estão a dar informações aos jornalistas!!
Ao ouvir isto, pegámos nas estátuas e atirá-mo-las ao chão, partindo-as.
Nesse momento, uma das paredes da sala foi rebentada por uma imensa máquina escavadora, da qual saíram homens brancos, furiosos com a atitude dos indígenas. Agarram-me e levaram-me à força para a sua máquina escavadora, que também funcionava como meio de transporte.
Depois, meteram-se pelos túneis que tinham escavado para vir ao nosso encontro, levando-me com eles.
Furiosos, os índios perseguiram-nos, até que a máquina se deteve ante uma parede antiga de tijolo, coberta de antigas pinturas aztecas.
Curiosamente, essas pinturas assemelhavam-se a um gigantesco guia turístico, e maravilhados, os homens brancos descobriram que os aztecas (que segundo as pinturas feitas na parede viviam na Índia) sonhavam construir uma cadeia de hotéis pelo mundo fora.
Devolveram-me aos meus amigos índios, e foram-se embora, prometendo nunca mais nos importunar.
Não me lembro muito bem de como fui até lá... Lembro-me de passar por um sítio parecido com a minha faculdade, só que muito maior, com mais corredores e salas, quase um labirinto. Recordo-me de correr e saltar nesse labirinto como se fosse mergulhar, ficando depois a flutuar no ar, e movendo-me sobre a cabeças das outras pessoas como se nadasse debaixo de água...
Na tribo onde eu vivia, havia um rapaz branco, como eu, que fôra criado pelos nossos amigos índios. Talvez por sermos da mesma raça, ele compadeceu-se de mim, teve pena de me ver perdida no meio da floresta, e enquanto estive entre os indígenas, não me largou: estávamos sempre juntos.
Certo dia, fomos pescar: viajámos até uma praia pequena, rodeada por uma enorme falésia, repleta de edifícios abandonados.
Perscrutámos os prédios em busca de material para construirmos cestas para transportar o peixe: lembro-me vagamente de uma menininha que fizera a sua cesta apenas com caixas de Cd's...
Assim que as cestas ficaram prontas, descemos à praia: eu e um grupo de jovens entusiastas corremos para a água cheia de peixe, e, à primeira tentativa, agarrei um peixe gordo, que ficou a contorcer-se na minha mão até o pôr na cesta que partilhava com o meu inseparável amigo. Os peixes eram todos brancos, de corpos achatados mas rechonchudos, com pequenos bigodes.
Sorri ao meu companheiro, muito orgulhosa do meu sucesso, mas ele estava apreensivo: contou-me que, apesar de a água parecer cheia de peixe, a verdade é que nos anos anteriores havia muito mais.
Então, a tribo decidiu investigar os prédios abandonados, em busca de um motivo para aquele desastre.
Numa das salas, que tinha o chão coberto de lajes, o meu amigo descobriu uma solta. Levantou-a, e verificámos que tinha sido colocada directamente por cima de água.
Lá, estavam a boiar duas estatuetas de santos:
-A culpa é dos santos! - acusou o meu amigo. - Eles estão a dar informações aos jornalistas!!
Ao ouvir isto, pegámos nas estátuas e atirá-mo-las ao chão, partindo-as.
Nesse momento, uma das paredes da sala foi rebentada por uma imensa máquina escavadora, da qual saíram homens brancos, furiosos com a atitude dos indígenas. Agarram-me e levaram-me à força para a sua máquina escavadora, que também funcionava como meio de transporte.
Depois, meteram-se pelos túneis que tinham escavado para vir ao nosso encontro, levando-me com eles.
Furiosos, os índios perseguiram-nos, até que a máquina se deteve ante uma parede antiga de tijolo, coberta de antigas pinturas aztecas.
Curiosamente, essas pinturas assemelhavam-se a um gigantesco guia turístico, e maravilhados, os homens brancos descobriram que os aztecas (que segundo as pinturas feitas na parede viviam na Índia) sonhavam construir uma cadeia de hotéis pelo mundo fora.
Devolveram-me aos meus amigos índios, e foram-se embora, prometendo nunca mais nos importunar.
Cristo Moribundo
Há dois dias, sonhei com Jesus. Era muito magro e pequenino, e estava sempre encolhido, em posição fetal. Assim, todo dobrado, era um pouco mais pequeno que o meu braço.
Estava todo nu, com excepção de uma tanga branca, e mantinha o rosto sempre escondido com as mãos, o cabelo e a barba longa.
Passava os dias deitado numa prateleira na nossa cozinha, junto ao forno.
Não se mexia, e nós tínhamos de lhe dar de comer, de o ajudar a beber, de o limpar...
Até que, um dia, ele recusou a comida que lhe demos.
Bem nos esforçámos, mas Jesus não comeu.
Então eu percebi que ele estava a morrer.
Estava todo nu, com excepção de uma tanga branca, e mantinha o rosto sempre escondido com as mãos, o cabelo e a barba longa.
Passava os dias deitado numa prateleira na nossa cozinha, junto ao forno.
Não se mexia, e nós tínhamos de lhe dar de comer, de o ajudar a beber, de o limpar...
Até que, um dia, ele recusou a comida que lhe demos.
Bem nos esforçámos, mas Jesus não comeu.
Então eu percebi que ele estava a morrer.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
O Corcunda Coxo e a Cidade dos Perdidos
Não me lembro quando tive este sonho: acho que foi na mesma altura em que estava a trabalhar na PAA.
Era noite, e estava sozinha numa cidade degrada. Estava frio, e quase não havia luzes: onde havia os raros candeeiros irradiavam uma luz amarela, exausta. Os prédios eram todos iguais, com pouco mais de quatro andares, rectangulares como caixas de sapatos, e todos colados uns aos outros. Junto às entradas dos prédios, iluminadas por um brilho semelhante ao dos candeeiros de rua, os sem-abrigo reuniam-se e espreitavam por cima do ombro, com uma expressão desconfiada, para quem passava.
Atrevi-me a entrar num dos prédios. Havia uma escada e um elevador, sendo que este tinha por porta uma daquelas grades que se recolhem para entrar, e que o fazia parecer uma jaula. O elevador podia levar-nos tanto ao subsolo, onde viviam, no meio da terra, famílias de desgraçados, ou ao aos apartamentos.
Eu subi até aos apartamentos.
Para minha surpresa, fui dar a casa dos meus avós, onde estavam reunidas todas as pessoas de que gosto.
Rejubilei ao vê-lo todos de pé, a conversar ao redor de uma mesa, cheia de aperitivos.
Entre os convidados, descobri um rapaz que fôra meu colega do sétimo ao nono ano e que desde então nunca vira, e que me perguntava várias vezes, com um sorriso enorme, se me lembrava de quem ele era; vi um amigo de infância e um jovem louro muito bonito, e o David.
Então alguém pousou a mão no meu ombro, e ao voltar-me deparei-me com um outro rapaz pouco mais velho que eu, de grandes olhos, nariz adunco, bochechas fartas e longos cabelos e barbas negros. Beijou-me na bochecha e disse, com um sotaque brasileiro:
-Tenho de ir, amor.
Tentei detê-lo, mas ele voltou-me as costas e desapareceu. Encolhi os ombros e continuei a conversar.
Alguém me chamou até ao hall de entrada, para atender o telefone. Era alguém que de quem eu sentia muita falta, e que não pudera aparecer. Sentei-me na cadeira ao lado do telefone e deixe-me adormecer, a ouvir aquela voz querida.
Quando acordei, a casa estava vazia.
"Onde foram todos?"
"Porque é que me deixaram aqui?"
"Podiam ter-me acordado..."
"Esqueceram-se de mim?..."
Saí a correr do apartamento, a procurá-los. Corri as ruas sozinha, em silêncio, sem coragem para chamá-los.
Entretanto, vi uma figura bizarra passar por mim: era baixa e larga, bem atarracada, e caminhava curvada sobre dois andarilhos: antes de dar um passo, segurava primeiro um, empurrava-o para a frente, depois agarrava o outro e fazia a mesma coisa. Estava toda coberta por um manto escuro, e, sob o capuz, brilhavam dois pontos amarelos, que eu supus que fossem os seus olhos.
Olhei à minha volta: entre um prédio e a estrada, havia um precipício. Estava rodeado de uma trave, e havia umas escadas apertadas por onde se podia descer. Decidi que se a figura encapuçada avançasse para mim, saltaria.
Preparava-me para continuar a minha busca quando ouvi algo metálico cair. Voltei-me para trás e vi que a figura tinha atirado os andarilhos para o chão, e caminhava na minha direcção, balançando de um lado para os outro a cada passo e com os braços esticados, com as mãos escuras e minúsculas abertas.
Corri para o precipício e atirei-me. Ao voltar-me no ar, vi o perseguidor debruçado sobre a trave, a olhar para mim.
"Agora só tenho de esperar até acordar..." - pensei, enquanto continuava a cair no escuro e a sentir o ar frio passar rapidamente pelo meu corpo.
Era noite, e estava sozinha numa cidade degrada. Estava frio, e quase não havia luzes: onde havia os raros candeeiros irradiavam uma luz amarela, exausta. Os prédios eram todos iguais, com pouco mais de quatro andares, rectangulares como caixas de sapatos, e todos colados uns aos outros. Junto às entradas dos prédios, iluminadas por um brilho semelhante ao dos candeeiros de rua, os sem-abrigo reuniam-se e espreitavam por cima do ombro, com uma expressão desconfiada, para quem passava.
Atrevi-me a entrar num dos prédios. Havia uma escada e um elevador, sendo que este tinha por porta uma daquelas grades que se recolhem para entrar, e que o fazia parecer uma jaula. O elevador podia levar-nos tanto ao subsolo, onde viviam, no meio da terra, famílias de desgraçados, ou ao aos apartamentos.
Eu subi até aos apartamentos.
Para minha surpresa, fui dar a casa dos meus avós, onde estavam reunidas todas as pessoas de que gosto.
Rejubilei ao vê-lo todos de pé, a conversar ao redor de uma mesa, cheia de aperitivos.
Entre os convidados, descobri um rapaz que fôra meu colega do sétimo ao nono ano e que desde então nunca vira, e que me perguntava várias vezes, com um sorriso enorme, se me lembrava de quem ele era; vi um amigo de infância e um jovem louro muito bonito, e o David.
Então alguém pousou a mão no meu ombro, e ao voltar-me deparei-me com um outro rapaz pouco mais velho que eu, de grandes olhos, nariz adunco, bochechas fartas e longos cabelos e barbas negros. Beijou-me na bochecha e disse, com um sotaque brasileiro:
-Tenho de ir, amor.
Tentei detê-lo, mas ele voltou-me as costas e desapareceu. Encolhi os ombros e continuei a conversar.
Alguém me chamou até ao hall de entrada, para atender o telefone. Era alguém que de quem eu sentia muita falta, e que não pudera aparecer. Sentei-me na cadeira ao lado do telefone e deixe-me adormecer, a ouvir aquela voz querida.
Quando acordei, a casa estava vazia.
"Onde foram todos?"
"Porque é que me deixaram aqui?"
"Podiam ter-me acordado..."
"Esqueceram-se de mim?..."
Saí a correr do apartamento, a procurá-los. Corri as ruas sozinha, em silêncio, sem coragem para chamá-los.
Entretanto, vi uma figura bizarra passar por mim: era baixa e larga, bem atarracada, e caminhava curvada sobre dois andarilhos: antes de dar um passo, segurava primeiro um, empurrava-o para a frente, depois agarrava o outro e fazia a mesma coisa. Estava toda coberta por um manto escuro, e, sob o capuz, brilhavam dois pontos amarelos, que eu supus que fossem os seus olhos.
Olhei à minha volta: entre um prédio e a estrada, havia um precipício. Estava rodeado de uma trave, e havia umas escadas apertadas por onde se podia descer. Decidi que se a figura encapuçada avançasse para mim, saltaria.
Preparava-me para continuar a minha busca quando ouvi algo metálico cair. Voltei-me para trás e vi que a figura tinha atirado os andarilhos para o chão, e caminhava na minha direcção, balançando de um lado para os outro a cada passo e com os braços esticados, com as mãos escuras e minúsculas abertas.
Corri para o precipício e atirei-me. Ao voltar-me no ar, vi o perseguidor debruçado sobre a trave, a olhar para mim.
"Agora só tenho de esperar até acordar..." - pensei, enquanto continuava a cair no escuro e a sentir o ar frio passar rapidamente pelo meu corpo.
TOMA!!!
Tive este sonho mais ou menos há um ano. Não me esqueci dele porque foi o sonho que me fez sentir pior, porque matava uma pessoa.
A minha casa fica numa praceta, onde eu estava, acho que a ver uns miúdos andar de bicicleta.
Apareceu-me então um rapaz loiro muito bonito, que eu nunca vira. Falámos um bocado, até que ele me convidou a explorar uma casa abandonada que, no meu sonho, ficava no meio da estrada da praceta.
Adoro explorar esses sítios, mas não me atrevo a fazê-lo sozinha. Como quase nunca ninguém se oferece para vir comigo, decidi aproveitar a oportunidade.
Enquanto caminhávamos lado a lado em direcção às ruínas, lembro-me de pensar que não tinha o telemóvel comigo, e que não avisara o irmão que ia à tal casa abandonada. Era perigoso, sentia-o, mas disse para mim mesma que não me ia acontecer nada.
O rapaz abriu a porta e deixou-me entrar primeiro. Ao passar por ele agradeci.
Então ele fechou a porta: fê-lo lentamente e com cuidado, silenciosamente. Mas ficou tudo escuro, e ouvi o mecanismo de uma fechadura funcionar.
Percebi imediatamente que se tratava de uma armadilha, e precipitei-me para outra divisão:
-Não fujas! - sibilou ele, ao ouvir os meus passos no escuro.
Vi então uma porta aberta, por onde entrava a luz do dia. Apesar do medo, contive-me e avancei devagar para ela, sem fazer um som.
-Onde estás? - ouvia-o perguntar num tom trocista, algures na escuridão.
A porta conduzia a uma sala grande, onde já não havia telhado: restava uma trave, apenas. Se conseguisse trepar pelas paredes e alcançá-la, podia gatinhar por cima dela sem que o meu perseguidor me visse, até chegar a uma das paredes. Depois, só teria de saltar para o lado de fora da casa.
Olhei à minha volta e descobri algo por onde podia subir. Consegui, e já tinha atravessado metade da trave quando o rapaz entrou na sala:
-Não vale a pena esconderes-te! - disse ele, perscrutando a divisão. Todavia, não olhou para cima, e eu decidi que tinha de avançar.
Então a trave cedeu sob o meu peso, e partiu-se. Com um grito, eu caí, e através da poeira vi o meu perseguidor avançar para mim, muito direito, com os punhos cerrados.
Palpei o chão à minha volta e descobri uma pedra, que atirei com toda a força à cabeça do rapaz.
Ele gritou e caiu no chão, agarrando a cabeça com ambas as mãos:
-Puta! Vais ver o que te vai acontecer!... - ameaçou ele, enquanto rastejava em direcção a um canto.
Sem hesitar, corri para ele, tornei a agarrar a pedra e bati-lhe várias vezes na cabeça com ela:
-Pára! -suplicou ele, quando começou a aparecer sangue - Pára, vais-me matar!
E eu não sabia o que havia de fazer, se ele me deixaria de facto, ou se me magoaria mais ainda pelo que lhe estava a fazer.
Continuei. Senti o osso desfazer-se, o cabelo doirado dele e as minhas mãos ficaram sujas de sangue.
-Pára, puta! - ordenou o pobre, cada vez mais fraco.
Mas eu não parei. Sempre a chorar, bati-lhe até ele deixar de se mexer e de falar, e eu sentir uma coisa mole sob a pedra.
Então, horrorizada com o que tinha feito, larguei a pedra e saí dali a correr. Atravessei num instante a praceta, sob o Sol da tarde.
Quando cheguei a casa, pálida e a tremer, deparei-me com o meu irmão e a minha mãe na cozinha, ela junto ao fogão, a mexer nas panelas, ele encostado à mesa.
Cumprimentaram-me e falaram comigo normalmente, e eu pensei: "será que não repararam?"
A minha casa fica numa praceta, onde eu estava, acho que a ver uns miúdos andar de bicicleta.
Apareceu-me então um rapaz loiro muito bonito, que eu nunca vira. Falámos um bocado, até que ele me convidou a explorar uma casa abandonada que, no meu sonho, ficava no meio da estrada da praceta.
Adoro explorar esses sítios, mas não me atrevo a fazê-lo sozinha. Como quase nunca ninguém se oferece para vir comigo, decidi aproveitar a oportunidade.
Enquanto caminhávamos lado a lado em direcção às ruínas, lembro-me de pensar que não tinha o telemóvel comigo, e que não avisara o irmão que ia à tal casa abandonada. Era perigoso, sentia-o, mas disse para mim mesma que não me ia acontecer nada.
O rapaz abriu a porta e deixou-me entrar primeiro. Ao passar por ele agradeci.
Então ele fechou a porta: fê-lo lentamente e com cuidado, silenciosamente. Mas ficou tudo escuro, e ouvi o mecanismo de uma fechadura funcionar.
Percebi imediatamente que se tratava de uma armadilha, e precipitei-me para outra divisão:
-Não fujas! - sibilou ele, ao ouvir os meus passos no escuro.
Vi então uma porta aberta, por onde entrava a luz do dia. Apesar do medo, contive-me e avancei devagar para ela, sem fazer um som.
-Onde estás? - ouvia-o perguntar num tom trocista, algures na escuridão.
A porta conduzia a uma sala grande, onde já não havia telhado: restava uma trave, apenas. Se conseguisse trepar pelas paredes e alcançá-la, podia gatinhar por cima dela sem que o meu perseguidor me visse, até chegar a uma das paredes. Depois, só teria de saltar para o lado de fora da casa.
Olhei à minha volta e descobri algo por onde podia subir. Consegui, e já tinha atravessado metade da trave quando o rapaz entrou na sala:
-Não vale a pena esconderes-te! - disse ele, perscrutando a divisão. Todavia, não olhou para cima, e eu decidi que tinha de avançar.
Então a trave cedeu sob o meu peso, e partiu-se. Com um grito, eu caí, e através da poeira vi o meu perseguidor avançar para mim, muito direito, com os punhos cerrados.
Palpei o chão à minha volta e descobri uma pedra, que atirei com toda a força à cabeça do rapaz.
Ele gritou e caiu no chão, agarrando a cabeça com ambas as mãos:
-Puta! Vais ver o que te vai acontecer!... - ameaçou ele, enquanto rastejava em direcção a um canto.
Sem hesitar, corri para ele, tornei a agarrar a pedra e bati-lhe várias vezes na cabeça com ela:
-Pára! -suplicou ele, quando começou a aparecer sangue - Pára, vais-me matar!
E eu não sabia o que havia de fazer, se ele me deixaria de facto, ou se me magoaria mais ainda pelo que lhe estava a fazer.
Continuei. Senti o osso desfazer-se, o cabelo doirado dele e as minhas mãos ficaram sujas de sangue.
-Pára, puta! - ordenou o pobre, cada vez mais fraco.
Mas eu não parei. Sempre a chorar, bati-lhe até ele deixar de se mexer e de falar, e eu sentir uma coisa mole sob a pedra.
Então, horrorizada com o que tinha feito, larguei a pedra e saí dali a correr. Atravessei num instante a praceta, sob o Sol da tarde.
Quando cheguei a casa, pálida e a tremer, deparei-me com o meu irmão e a minha mãe na cozinha, ela junto ao fogão, a mexer nas panelas, ele encostado à mesa.
Cumprimentaram-me e falaram comigo normalmente, e eu pensei: "será que não repararam?"
Eu quero correr quando o Verão chegar
Esta noite sonhei que estava paralisada do pescoço para baixo. No entanto, havia uma cura! Era uma operação arriscada, mas estava disposta a tudo. Lembro-me de dizer ao médico:
-Eu quero correr quando o Verão chegar!
Depois da operação, eu já conseguia por-me de pé e até andar, apesar de muito toscamente.
-Eu quero correr quando o Verão chegar!
Depois da operação, eu já conseguia por-me de pé e até andar, apesar de muito toscamente.
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